‧₊˚ vinte e três.

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Gabrieli.

— Eu não aguentava mais!

Henrique. — O adverti ao tatear a parede, à procura do interruptor.

Henrique ia a frente, caminhando e se despindo, porque, de acordo com ele, ele não suportava mais a ideia de ficar com aquelas roupas suadas. Sinceramente, talvez eu tivesse a mesma reação, se tivesse deixado o palco depois de quase duas horas inteiras de show.

— Porra, amor, eu te chamei pra ir embora uma três vezes-

Eu queria assistir o show! — Minha voz soou mais estridente do que de costume quando tentei argumentar. Henrique arqueou a sobrancelha descrente. Eu então insisti: — Você que não me deu paz pedindo pra vir embora. Parece até criança.

A minha frente, enxerguei a silhueta de Henrique torcer os ombros — algo que me pareceu muito com um resmungo insatisfeito.

Por fim, ao finalmente esbarrar o dedo contra o interruptor, a lâmpada se acendeu. Com o quarto perfeitamente iluminado, pude me atentar a cena com mais clareza.

Henrique estava sentado na cama, livre de sapatos, calças ou camiseta, trajando apenas uma cueca. O olhar que ele me dirigiu naquele momento foi extremamente sugestivo — como se a ausência de roupas já não fosse o bastante — e foi suficiente para crescer um tremor em mim.

Por insistência dele, deixamos o show antes do fim. Deviam faltar cerca de duas ou três músicas apenas, mas ele já havia me perguntado incontáveis vezes quando a gente poderia voltar ao hotel. Eu sabia quais eram as suas intenções e, curiosamente, a minha atenção ao show não era apenas uma maneira de me esquivar dele, apesar de todo o meu receio. Eu estava genuinamente empolgada — mas igualmente receosa pelo momento em que finalmente ficaríamos sozinhos.

— E show algum é melhor do que isso aqui?

Quando ele sugeriu, eu deixei transparecer a minha apreensão. Ri com nervosismo, desviei o olhar e então cruzei os braços à frente do meu corpo.

Corri os olhos pelo ambiente, à procura de uma distração. A mala de Henrique estava colocada de prontidão no corredor, ainda fechada. A cama estava feita, como se ele não tivesse se sentado ali antes. A situação me pareceu um pouco fora do convencional, se tratando de Henrique, e eu pude perguntar sem receio de soar como se estivesse tentando me esquivar do assunto:

— Desde quando você é organizado assim?

Ele riu, apoiando o peso do corpo sobre os braços posicionados para trás do corpo, e então confessou, acompanhado de um sorriso sugestivo:

— Eu pedi pra Letícia fazer um upgrade pra nós.

— Ah, é mesmo? — Murmurei, incrédula.

Apenas então me ocorreu que eu ainda segurava a alça da bolsa com força e, por fim, deixei a bolsa que carregava aos pés da cama. Minha proximidade fez Henrique me lançar um olhar indiscreto enquanto dizia:

— Eu tava no andar de baixo, em um quarto mais simples, mas... eu achei que a noite de hoje pedia uma coisa a mais. Então, pedi pra ela trocar por um quarto com hidromassagem.

É mesmo?

Eu sabia que qualquer tentativa de transparecer segurança era inútil. Henrique sabia que eu estava tensa. Ele percebeu durante o caminho até o hotel, quando me perguntou soube e eu apenas pude me esquivar da pergunta. E eu evitar olhá-lo naquele momento era uma confirmação dos meus receios.

Henrique perdeu a postura. Não que ele não fosse confiante em excesso a todo momento; ele apenas pareceu entender que o momento pedia uma abordagem diferente.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora