‧₊˚ dezesseis.

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Henrique.

— Eu preciso de um mês. — Murmurei à mesa, o que gerou alguns pequenos murmúrios de descontentamento.

Aquilo não deveria ser uma reunião formal, como de fato não era, mas, a partir do momento em que Wander sentiu a necessidade de perguntar sobre a agenda, algumas dúvidas pipocaram aqui e ali — e Lucas decidiu esclarecer todas.

Sentados à mesa, após o fim de um almoço, eu deduzi que talvez o ambiente informal fosse a minha melhor vantagem para trazer o assunto, o que era algo que eu já estava prolongando para tratar há algum tempo. Mas, é claro, não traria reações positivas.

— Olha, isso é... complicado, Henrique. — Lucas driblou as palavras, certamente a procura da melhor maneira de abordar o assunto. Wander se mexeu sobre a própria cadeira, mas se manteve apenas casualmente atento a situação. Talvez ele quisesse deixar Lucas lidar com uma discussão já perdida.

— Eu sei que é. Mas você vai conseguir dar um jeito. — Aleguei, com mais convicção do que deveria ter.

Henrique... — Marina, na outra extremidade da mesa, chiou.

— Cara, eu sei, eu sei. — Afirmei, embora não, eu não estivesse minimamente preocupado com o mesmo que todos os ali. — Mas eu vou ter um bebê pequeno em casa nesse período. Eu preciso estar lá por elas. Pela minha filha, e pela minha noiva.

— Nós já concordamos em te dar o mês de outubro. — Lucas relembrou. Ele não parecia contente por aquele lembrete óbvio, mas não se mostrou descontente. — Um mês inteiro de férias é muito dinheiro rolando. Eu achei que faria a diferença para vocês, por isso eu nem considerei a ideia.

— Eu diria que vocês estariam perdendo uns... — Wander fez uma pausa necessária para contar. A medida em que seus dedos se erguiam, eu considerava a ideia de me retirar da conversa pelo desprazer daquela informação. — 600 mil, por cima. Dá pra tirar até uns 800 mil, talvez 900.

Ao sentir o peso daquela menção, tratei de procurar por Junim, sentado ao meu lado. Meu irmão tinha os braços apoiados contra o tampo de vidro da mesa e uma postura que indicava indiferença. Eu diria que ele estava pronto para levantar da mesa, mas o assunto — que também era do seu interesse — o manteve ali.

— Isso não é um problema. — Junim mencionou, sabendo que nada ali seria bastante para me convencer do contrário. — Não para mim. Não para o meu irmão.

— Eu sei, vocês são de tomar as dores um do outro. — Lucas mencionou, gesticulando em excesso como se a situação o deixasse descontente. — Eu nem digo pelo escritório, é que vocês têm vindo de um ano bem intenso, o ritmo tá propicio.

— É, eu não quero desacelerar por inteiro, na verdade... — Aleguei, o que motivou as quatro pessoas à mesa a me observarem com cautela. — É justamente por isso que é tão importante para mim ter um tempo para estar em casa.

— Nova York está de pé. — Wander deduziu que aquele fosse um bom momento para mencionar. Sem olhá-lo, assenti repetidas vezes, já conformado com a ideia — mas sem associar aquilo por inteiro. — Você não vai querer dar para trás, vai?

— Ah, a minha cunhada jamais deixaria que ele fizesse isso. — Junim mencionou com humor, esperando risadas. Wander riu, mas Lucas apenas sorriu ao balançar a cabeça.

— Não, além do que é uma oportunidade que a gente ainda não teve. — Olhei meu irmão, à espera da sua reação. Junim ponderou, balançando a cabeça, mas não soou totalmente certo. — E, se tudo sair como eu espero, ela vai junto.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora