‧₊˚ doze.

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Gabrieli.

— É sério! — minha tentativa de argumentação foi recebida por olhares descrentes de Priscila e Matheus. — Caralho, 'cês' são chatos hein?

— Percebeu como a gente não disse nada? — Matheus pontuou conforme aproximava o corpo para alcançar a bandeja sobre a mesa de centro. — Você simplesmente concluiu.

— E você precisava dizer alguma coisa? — resmunguei, cruzando os braços - mesmo ciente de que uma pose defensiva não ajudaria em nada ao provar meu ponto.

Aquela era uma noite no final de setembro. Com a chegada da primavera, o clima em Palmas ia se tornando ainda mais quente do que o habitual. Apesar do horário, mantínhamos as janelas abertas, com o intuito de arejar os ambientes.

Matheus, como de costume, havia ido passar a noite com Priscila. Ter o namorado da minha melhor amiga em casa talvez fosse estranho no início, mas após dois anos de relacionamento, Matheus havia se tornado parte essencial da nossa amizade. Por isso, dividíamos o sofá, enquanto eu lamentava por não ter a chance de ver Henrique durante aquele final de semana, com muita casualidade - até porque, sendo honesta, os conselhos de Matheus sempre tendiam a ser melhores que os de Priscila.

Por alguns contratempos, meu encontro com Henrique precisou ser adiado duas vezes. Eu estava frustrada. Só queria ter a chance de encontrá-lo, nem que por alguns minutos, talvez apenas para jogar conversa fora. Eu não faria questão de qualquer outra coisa que apenas alguns instantes de conversa. E, ainda sim, se eu quisesse encontrá-lo, seria apenas no próximo final de semana.

— Esse é exatamente o ponto, Gabi. — observei com atenção Matheus. Largado sobre o sofá, ele tinha os pés apoiados sobre a mesa de centro, ainda que já tivesse repetido para ele bem mais de uma vez para que ele tirasse os pés dali. — Você não precisou que eu dissesse alguma coisa. Você percebeu sobre quem eu 'tava' falando só com uma indireta.

— Seu objetivo é me expulsar da minha própria casa? — indaguei, com o cenho franzido.

— Gabrieli, para com isso. — do outro extremo do sofá, Priscila insistiu.

— Manda o seu namorado parar com isso, não eu! — exclamei em resposta a ela.

— Eu não disse...

— Tira o pé da mesa para começo de conversa. — cortei Matheus antes que ele pudesse concluir.

Mesmo bufando em descontentamento, ele cedeu. Eu sorri vitoriosa e me afundei contra o sofá, me lamentando pelo calor daquela noite.

— Gabi... — Matheus insistiria novamente, mas o barulho do toque do meu celular ecoou alto.

Me inclinei, pegando o aparelho sobre a mesa. Sob a tela, estava o nome de Henrique. Havia quase um mês desde que conversávamos todos os dias. Se aquilo significava que eu estava acostumada a suas chamadas? A palpitação sob o meu coração dizia que definitivamente não.

— Gabrieli, nós estamos conversando. — Matheus insistiu, frustrado.

— Nós estávamos conversando, bem falado. — pontuei, me levantando do sofá. — Agora eu 'tô' indo. Boa noite para vocês e lembrem de não fazer barulho porque eu vou estar no quarto ao lado. Transem, mas não sejam filhos da puta.

Até o momento em que tranquei a porta do quarto, Priscila havia me respondido através de uma risada frouxa, mas Matheus se manteve em silêncio - o que talvez fosse consequência de eu tê-lo deixado sozinho em meio a uma discussão.

— Alô? — questionei enquanto ainda levava o aparelho ao ouvido. Henrique, do outro lado da linha, respirou com alívio. Ali, naquele momento, não existia qualquer outra pessoa além de nós dois

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora