‧₊˚ vinte e dois.

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Gabrieli.

— Eu não quero ir. 

O comentário de Henrique me fez fechar os olhos por um momento. Ele tinha direito de se lamentar de muita coisa, mas ele possivelmente não percebia a maneira como os seus comentários refletiam em mim. Toda semana nós nós lamentávamos pela mesma situação  e a cada semana eu me sentia ainda mais perdida.

— Você precisa fazer isso. — Murmurei com dor, tornando a abrir os olhos. Ele me olhava como se me implorasse para que eu pedisse para ficar, mas eu não poderia fazer aquilo. Não com ele. 

— E se vocês precisarem de mim? — Ele sugeriu, ainda relutante. 

— Eu acho que você precisa da gente mais do que a gente precisa de você. 

Henrique riu. Eu tinha Maria apoiada sobre o meu corpo, a cabeça repousando nos meus ombros, na esperança de que ela pegasse no sono no conforto de um acalento — mas sem muito sucesso até ali. Naquele momento, ele passou o braço pelo entorno do meu corpo para me puxar para perto e me beijar. 

Sua mão tocava meu queixo, me fazendo erguer a cabeça quando sua língua se atreveu a se enroscar a minha, em um embraço tênue. E quando seu toque sobre a minha cintura se tornou mais firme, eu senti minha postura vacilar um pouco.

Despedidas nunca foram fáceis, mas desde que Maria chegou em casa, havia se tornando um momento ainda mais difícil. Eu tentava não demonstrar fraqueza e pedir com que Henrique ficasse, embora muitas vezes batesse na trave. Os dias sem ele pareciam tão monótonos. 

— Eu não posso discordar. — Ele acusou, repousando o nariz sobre a minha bochecha. 

Senti um beijo molhado sobre a minha pele e abri os olhos a tempo de vê-lo se afastar. Apesar do me esforço para ninar Maria, não hesitei em entregá-la a Henrique. 

— Eu amo você, minha azeitoninha. — Ele relembrou. Maria tinha os olhos pequenos, pendendo ao sono, mas resistindo a ideia de ser vencida. — E eu prometo que vou voltar pra casa logo. Nem vai dar tempo de sentir saudade.

— Vai, vai sim. — Contestei Henrique. Ele, que brincava com o pezinho de Maria cessou o gesto de imediato. — Mas a gente sabe como lidar. — Menti ao dar de ombros. 

Henrique não permitiu com que eu me estendesse; voltou a firmar seu toque sobre mim e me consumiu em um beijo. O momento em que seus lábios falharam foi um indício de que Henrique estava prestes a chorar. A ideia me corroeu um pouco por dentro. 

— Sem lágrimas hoje. — Murmurei sobre o seu ouvido. Sua resposta foi um contido:

— Você está me fazendo um pedido muito difícil.

「 ੈ✩‧₊ 」

— Gabi!

A menção ao meu nome fez com que eu corresse os olhos a Natália mesmo à distância. 

Há meses Natália havia feito a promessa de ir me visitar em Goiânia o quanto antes. Morando em Brasília, a nossa distância parecia ser mais curta do que nunca — exceto pelo período em que moramos em Palmas. No entanto, aquela promessa foi adiada algumas vezes; primeiro por desencontros, quando pareceu ser muito difícil encontrar uma data que coincidisse, segundo porque, com o nascimento precoce de Maria, ela achou que fosse prudente esperar um pouco, até que as coisas se acalmassem e Maria estivesse em casa. Felizmente, o dia havia chegado.  

Quando conversamos por telefone duas semanas antes, eu pressionei até que ela cedesse — mesmo sob as suas alegações de que Maria ainda era nova demais e ela não queria ser uma intrusa na nossa rotina.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora