‧₊˚ sete.

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Henrique.

A frustração ali foi um sentimento recorrente e culposo. Frustrante porque nós estivemos perto, muito perto; era inevitável ser tomado por tantas sensações e sentimentos diferentes e não pensar o que poderia ter acontecido; e culposo porque Gabi resistiu. Era evidente que ela não queria estender o momento, enquanto tudo que eu mais gostaria era que tivéssemos tido a oportunidade de levar aquilo até o fim.

A volta para casa foi um caminho estranho, para dizer o mínimo. O silêncio era recorrente e inevitável, é claro, mas eu senti Gabi resistente até ao contornar meu corpo com seus braços, para que o movimento da moto não causasse desequilíbrio. Tudo parecia ser feito a contragosto e eu cheguei a me perguntar se em algum momento havia feito algo errado ou se aquela era apenas uma reação natural. Não cheguei a conclusão alguma, embora tenha decidido manter apenas a segunda em pensamento.

Chegamos de volta ao condomínio de Gabrieli cerca de quinze minutos após. Outra vez, ela não precisou da minha ajuda, nem sequer do meu incentivo, para descer da moto. Quando eu enfim tirei meu capacete e pude repousar os olhos sobre ela, ela me aguardava com o seu capacete em mãos.

Eu esperava encontrar um semblante carregado de descontentamento, porque eu não sabia bem como interpretar aquela expressão. No entanto, Gabi não parecia necessariamente brava, apenas igualmente confusa, sem saber como se portar a minha frente.

— Foi bom? — questionei ela, pouco após aceitar o capacete. Deixei o objeto sobre o guidão da moto e então me encostei sobre a lataria para encará-la.

Gabi abriu a boca algumas vezes, parecendo à procura de palavras que pudessem estar à altura para descrever como ela se sentia. No entanto, ela levou longos segundos para que conseguissem enfim elaborar uma frase completa - o que, para a minha surpresa, foi:

— Eu não queria que as coisas terminassem assim.

— Ah, você não gostou mesmo do encontro então. — constatei, sem saber como reagir. Conter minha frustração não resultaria em muita coisa.

— O que?! — o questionamento de Gabrieli veio acompanhado de espanto. — É claro que eu gostei, eu... — quando meu olhar voltar a repousar sobre ela, Gabi pareceu se perder nas próprias palavras, gaguejando algumas vezes antes de enfim conseguir elaborar: — Eu só não queria que as coisas ficassem estranhas entre a gente pela forma como terminou. Eu gostei muito de sair com você, Henrique, muito mesmo. Aquele só não foi o melhor momento.

Eu assenti. Se eu sabia onde ela pretendia chegar com aquele "só não foi o melhor momento"? Honestamente, eu não tinha ideia. Mas estender o assunto não seria, como não foi, minha primeira opção. Quando fosse o momento, talvez Gabrieli falasse.

— Isso quer dizer que pode ter um segundo encontro? — sugeri, demonstrando minha incerteza a fim de conseguir entender onde aquilo nos colocava. Se Gabrieli continuasse a ser resistente, eu estava pronto para continuar insistindo. No entanto, se ela não soasse confortável, eu também estaria pronto para recuar.

— Olha, eu não vou te dar isso assim, de mão beijada.

— Ei! — protestei e Gabrieli riu. — Você gosta de me ver correr atrás de você, hein? De me torturar um pouquinho mais a cada dia.

— Eu não gostei, eu adorei. — ela confessou, mantendo um sorriso que beirava o sádico. — É brincadeira, Ricelly. — revirei os olhos como um reflexo automático e seu sorriso se transformou em outra risada. — Sei lá, a gente pode ir conversando.

— A partir de hoje eu só aceito que você me chame assim.

Gabrieli franziu o cenho, possivelmente estranhando. Parada à porta da entrada do edifício, ela mantinha a mão sobre a bolsa à tira colo, talvez com o objetivo de se distrair enquanto conversamos - gesto que exalava nervosismo.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora