‧₊˚ dezenove.

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Gabrieli.

Quando eu sorri, ele sorriu em conjunto. Então, desviei o olhar, mas voltei a olhá-lo em questão de instantes. Henrique seguia ali, com o olhar fixo a mim e um sorriso extenso sobre os lábios.

Talvez aquele fosse um daqueles muitos momentos em que a gente poderia passar horas apenas envolvidos em uma bolha particular; se não fosse pela presença de outras pessoas em um ambiente externo. Da mesma forma rápida como nos prendemos ao momento, também dispersamos o olhar quando o segurança voltou dizendo:

A pulseira.

Eu não me atrevi a olhá-lo em um primeiro momento. Eu estava frustrada com a interrupção.

— Obrigado — Henrique foi o responsável por se antecipar e pegar o objeto. Eu cruzei os braços e lancei um sorriso breve ao rapaz antes de esticar meu pulso a Henrique. Ele fechou o pedaço de papel ao redor do meu pulso e então deslizou seus dedos longos até envolver os meus. Foi quando eu sorri e nosso olhar se encontrou. — Vamos? — ele me sugeriu, embora não esperasse uma resposta.

Não hesitei em segui-lo para dentro, apesar da apreensão. Henrique ainda era sinônimo de lar e conforto e, ainda que não fosse bem minha intenção, eu o seguiria para qualquer lugar, porque eu ainda confiava nele.

O ambiente da boate já se encontrava lotado no momento em que avançamos pela porta, porém, não precisamos nos desgastar abrindo espaço porque aquela entrada dava acesso a um corredor que guiava de forma direta aos bastidores, e tinha acesso limitado a produção Eu segui logo atrás de Henrique, com meus dedos firmemente envolvidos pelos seus, conforme deixávamos para trás todo aquele resquício de música alta e corpos em constante movimento.

Ao adentrar o espaço reservado para funcionários, Henrique cumprimentou um rapaz da produção através de um aceno e tocou a maçaneta da porta à nossa esquerda, que abriu de imediato. Ele estendeu o braço, cedendo espaço para que eu pudesse entrar e me acompanhou logo atrás de mim. Enquanto eu observava o ambiente — o primeiro lugar dentro da casa noturna com iluminação regular — escutei a porta ser trancada e sorri. Henrique sabia das minhas intenções — e provavelmente compartilhava delas.

— Eu 'tô' um pouco surpreso — ele constatou, dando início a conversa de forma pacífica, sem demonstrar suas intenções. Era a hora de agirmos como dois adultos prudentes, pensei enquanto alisava o tecido do sofá e, por fim, decidi me sentar ali.

O camarim era um ambiente pequeno. No centro, estava um sofá de veludo preto em conjunto com um tapete, enquanto os cantos do ambiente eram preenchidos com mesas dispostas com bebidas e comidas variadas e poltronas. Apesar de pequeno, também soava acolhedor.

— Eu também 'tô' — confessei logo ao cruzar os braços. Henrique adentrou meu campo de visão, se sentando bem ao meu lado. Jogando o peso do corpo para a frente, ele demonstrou apreensão e eu me senti na obrigação de começar me explicando: — Sendo sincera, eu não sei o que me trouxe aqui.

— Você queria me ver — Henrique sugeriu, puxando minha mão de forma a entrelaçar nossos dedos outra vez. A risada que escapou pelos meus lábios não indicava alívio, apenas nervosismo.

— Isso é óbvio, mas...

— Você não veio aqui pra me perdoar? — ele deduziu. Eu murchei a postura na hora.

Enquanto meus pensamentos se sobrepunham e se atropelavam, eu buscava desesperadamente por uma resposta concreta. A verdade é que eu ainda não tinha uma resposta. Mas, eu estava prestes a descobrir.

— Eu vim pra ouvir o que você tem a dizer, se é que você tem alguma coisa a dizer pra mim — ainda que a postura de Henrique fosse tudo, exceto hostil, eu logo me atrevi a afirmar: — Se você não tiver também, tá tudo certo, eu só...

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora