‧₊˚ nove.

204 12 8
                                    

Henrique.

Ao chegar à sala, curiosamente, a primeira pessoa que encontrei foi ele. Matheus estava de costas a porta do quarto, de forma que levei alguns instantes para conseguir desvendar sua silhueta, mas ao ouvir sua voz, em uma conversa curiosamente animada com Marcos, pai de Gabi, decifrei sem esforço.

Se eu me questionava o que ele estava fazendo lá? A todo momento, é claro. Eu me esforçava sempre, ao máximo, para evitar expressar meu ciúme excessivo, mas com Matheus as coisas eram... diferentes. Eu não sentia algo de positivo nele, independe de quantas vezes Gabrieli insistisse em dizer o contrário. Talvez ele fosse uma pessoa mal intencionada; ou talvez eu apenas estivesse insistindo no assunto por medo de que Gabrieli pudesse um dia virar as costas para mim por culpa dele.

No entanto, é claro que eu não chegaria com aquela postura hostil 一 não naquela data em particular. As coisas estavam estremecidas entre mim e Gabi e... sua família por perto também era motivo para que eu recuasse. Eu não podia causar uma cena na frente de todos, no aniversário de Gabi, apenas por não conseguir conter meu ciúme.

Henrique! 一 a exclamação surpresa partiu de Mohana.

Minha cunhada estava ali, no canto da sala, sentada em conjunto com Natália. Assim que reconheceu meu nome, Matheus se virou ao meu encontro, mas não esboçou reação e eu sequer me atentei; me concentrei na minha cunhada, que me observava com espanto. Ela não sabia que eu estaria aqui.

一 Eu não ia perder o aniversário da minha namorada, né? 一 comentei de forma breve, enquanto me aproximava, mantendo os braços abertos, já a espera de um abraço; foi daquela forma que ela me cumprimentou, acrescentando um beijo sobre a minha bochecha.

Mas você não disse nada... 一 ela observou, ao se afastar.

Eu sabia o que seu semblante queria dizer; ela estava se lamentando pelo namorado não estar ali. No entanto, assim que ela recuou, dando um passo para trás, compreendi que ela estava se esforçando para entender que aquela noite não era sobre ela 一 e que, se Junim não estava ali, não era por falta de vontade.

一 A gente disse 'pra' Gabi que ele vinha 一 o comentário de Matheus pode ser soado avulso à primeira vista, mas bastou que eu guiasse meu olhar para ele para entender.

Gabi provavelmente havia ficado triste quando eu mencionei que não viria; talvez ele tivesse se esforçado para consolá-la. Eu não me contentei com a ideia 一 nenhum pouco.

一 Quem não sabia? 一 Mohana demonstrou impaciência ao pontuar, revirando os olhos. 一 Só a Gabi mesmo 'pra' acreditar nessa desculpa esfarrapada.

一 É mesmo, é? 一 indaguei, forçando despretensão. Mohana, por sua vez, ao repousar os olhos em mim, gesticulou de forma dramática.

一 Se você não viesse de surpresa, eu ia era mandar ela te dar um pé na bunda.

Natália esboçou uma risada baixa, acompanhada pelo pai de Gabi. Matheus, ainda ao lado do meu sogro, se contentou em não esboçar reação. Ele estava impassível, como na maioria das vezes em que estávamos em um mesmo ambiente, ainda que tivesse me mencionando anteriormente. Ele sempre forçava uma indiferença tão grande próximo a mim que me fazia acreditar que talvez houvesse algo a mais por trás.

一 Quem não sabia, também? 一 o comentário pontual de Natália dispersou minha atenção. 一 A gente te conhece, Henrique. 'Cê' é um idiota apaixonado.

A constatação de Natália arrancou risada de todos ali, com exceção a Matheus 一 novamente. A sua postura podia ser impassível, mas uma breve constatação que me ocorreu ali era que ele beirava a hostilidade. Uma coisa era Matheus não gostar de mim 一 eu pouco me importava e viveria de forma confortável com aquilo 一 outra era sua postura arrogante próxima a mim. Se ele queria que tivéssemos uma boa convivência, estava tentando aquilo da maneira errada, tornando difícil que eu mantivesse o sorriso próximo a ele.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora