‧₊˚ vinte e um.

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Gabrieli.

— Eu só não entendi o porque ela está vindo.

Sentada no chão, de frente ao espelho do quarto, eu observei Priscila caminhar pelo ambiente, carregando o babyliss em mãos. Eu ri fraco, medindo seu semblante, mas não disse uma única palavra até que ela estivesse sentada na cama, bufando.

— Você sabe que ela é minha concunhada, certo? — indaguei pausadamente, medindo sua reação pelo espelho. Ela continuava com um aspecto emburrado. — Não precisa ter ciúme, Pri.

— Quem 'tá' ciúme aqui? Eu só fiz uma pergunta.

Ri fraco, fingindo estar convencida, enquanto eu sabia que aquele não era exatamente o seu objetivo. De qualquer forma, a porta bateu pouco tempo depois e o som de vozes se dispersou pelo ambiente até que Natália e Mohana invadiram o quarto. Forcei um sorriso para Priscila, como um pedido silencioso de que ela fosse gentil. Priscila sorriu em resposta, um sorriso forçado e caricato, mas era sua forma de me dizer que iria tentar.

— Achei essa moça perdida lá fora e deixei entrar. — Natália descontraiu, tocando o ombro de Mohana, que reagiu com uma risada.

— Tudo bem, Moh? — perguntei como uma espécie de cumprimento.

— Bem, e você?

Assenti, percebendo seu receio e timidez na presença das meninas. Então, estiquei minha mão, sugerindo que ela se aproximasse. Mohana deixou sua bolsa escorregar por seu ombro, até atingir o chão. Logo após, se sentou ao meu lado e eu me endireitei, até que ficasse de frente para ela.

— Hoje você vai ficar encarregada da minha maquiagem.

Fechei os olhos, como forma de dizer a Mohana que estava pronta. Ouvi uma risada baixa e, em seguida, um som de acrílico contra o piso de cerâmica. Certamente Mohana estava mexendo sobre os produtos estendidos sobre o chão.

— Posso saber porque eu se tem outras duas pessoas aqui?

— A Natália é péssima, não sabe se maquiar. — ouvi um resmungo próximo de ei! mas não me atentei e segui dizendo: — A Pri pesa muito a mão. Literalmente. Chega a machucar.

— Se você 'tá' procurando alguém delicada, essa pessoa não sou eu.

Rimos em conjunto com a observação feita por Priscila. Ergui o olhar até a cama, encontrando Natália deitada, encarando o teto, enquanto Pri tinha o olhar fixo em nós. Pisquei para ela, que revirou os olhos, demonstrando sua insatisfação, mas tive minha atenção atraída por Mohana, quando ela tocou minhas pernas, me questionando:

— O que você quer 'pra' hoje?

— Nada que seja pesado, eu não curto muito.

Ou muito colorido. — ainda da cama, Priscila fez questão de advertir.

Beleza. — Mohana murmurou baixinho, o que eu julguei ser uma observação a si mesma. — Pode deixar comigo.

As semanas que sucederam o aniversário de Pedro foram relativamente tranquilas. Henrique começou a frequentar a minha casa com ainda mais frequência, o que me levou a ceder um pedacinho do guarda-roupa para ele. Pelo menos duas vezes por semana ele aparecia de surpresa na porta do meu trabalho, às vezes me levava para comer um lanche ou qualquer coisa do tipo e depois vínhamos para casa, ou ele me trazia direto e nós passávamos a noite cozinhando juntos — mesmo ele sendo um completo desastre na cozinha. Em finais de semana de shows, eu esperava acordada todas as noites, até que ele chegasse no hotel e me contasse um pouco da sua noite. Já era um hábito frequente e, ainda que eu me sentisse destruída na manhã seguinte, no fundo eu sabia que valeria a pena.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora