Gabrieli.
— Finalmente te achei! — fui dispersa dos meus pensamentos por um comentário esbaforido de Priscila. — Rodei a porra desse lugar inteiro!
Ela não tardou a adentrar meu campo de visão, com a bandeja em mãos enquanto equilibrava o celular com outra. Era de costume que almoçássemos juntas todos os dias no restaurante universitário da UFT. Como meu prédio era mais próximo, então eu normalmente era responsável por guardar lugar para Priscila — o que, àquela altura, também incluía Matheus.
Aquela era uma tarde abafada de muito sol na capital tocantinense e, estando no centro daquele ambiente cheio, com dezenas de pessoas conversando, o clima abafado parecia ainda mais intenso. Haviam dúzias de vozes se sobrepondo, junto ao som de talheres em constante movimento.
— Nossa mesa de sempre 'tá' ocupada. — me justifiquei, encolhendo os ombros.
— Eu vi, por isso eu vim te procurar aqui.
Priscila deslizou a bandeja pela mesa, deixando a alça da bolsa escorregar pelo ombro e cair ao seu lado sobre o banco conforme se acomodava. Matheus caminhou por trás da namorada, assumindo o espaço vago ao seu lado.
— Gabi... — me cumprimentou através de um simples aceno.
— Tudo bem? — questionei por educação e ele retribuiu através de um sorriso. — Vem cá, eu nunca mais vi vocês desgrudados. Só andam juntos agora? Viraram uma pessoa só?
Matheus riu fraco, mas observou Priscila, aguardando a reação da namorada.
— Se você tivesse transado no sábado, ao invés de ter ido dormir, quem sabe você não estaria menos amargurada e um pouco mais bem humorada. — ela resmungou em resposta, enquanto espetava um pedaço de carne com o próprio garfo.
Eu encolhi os ombros, esboçando um sorriso ao me sentir desencorajada a rir. Tentei fingir naturalidade observando meu próprio prato enquanto levava uma garfada à boca, mas Matheus logo insistiu:
— Aliás, o que foi que deu com ele? — quando erguei o olhar, Matheus completou: — O cantor lá, da sexta.
— Amor, lembra que eu te falei ontem? — Priscila tocou seu ombro e Matheus dividiu a atenção entre nós. — Ela não quis dar o número de celular 'pra' ele, agora 'tá' aí, se lamentando porque ele ainda não veio atrás dela. Supostamente, né? Por que como você saberia se ele viesse?
— Não é difícil imaginar onde eu estudo. — pontuei, em minha defesa.
— Gabrieli, esse campus é gigante. Você queria o que? Que ele adivinhasse pela força mágica do pensamento?
Matheus conteve uma risada, mas o movimento dos seus ombros não passou despercebido por mim.
— Por que é que você 'tá' insistindo no assunto? Já passou, Pri, aconteceu. Ele não 'tava' interessado e por mim 'tá' tudo bem, de verdade.
— Gabi... — Matheus murmurou em repreensão.
— Se você for defender a sua namorada, talvez seja melhor não dizer nada. — apontei a faca na direção de Matheus que, cumprindo seu papel, ergueu os braços em sinal de rendição.
— Eu não estou tomando partido, 'tá' legal? — o olhar de Priscila sobre Matheus foi certeiro para que ele reiterasse: — Eu amo você, mas a Gabi é minha amiga também.
— Porque eu te apresentei ela!
— Fala de uma vez, Matheus. — intervi naquele tipo de DR, antes que tivesse chance de se tornar uma discussão real.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
عاطفيةUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...