Gabrieli.
— Dezembro? — Repeti a sugestão de Henrique. Ele quase se interrompeu, ao passo em que levava um pedaço de pão à boca, mas escolheu apenas assentir. Talvez ele tenha pressuposto que eu estava descontente, mas a menção apenas me causou uma breve confusão. — Por que tão longe assim? Eu achei que você tava com pressa.
— Eu não estou com pressa. — Ele mais do que imediatamente discordou. Pouco convencida, arqueei a sobrancelha, reiterando a pergunta. Henrique não tardou a dizer: — Eu sei que o disse a um tempo atrás, mas é verdade. Eu pretendo não morrer daqui até dezembro... — Revirei os olhos com a menção a aquela ideia ridícula. — E nem quero fazer nada correndo. Se a gente tem tempo, vamos aproveitar então, uai.
Pisquei algumas vezes, o olhar distante refletindo a dimensão da minha ausência. Henrique terminou de levar o pedaço de pão à boca. Quando flagrei a imagem, ele sorriu, como se me encorajasse na ideia de compartilhar meus pensamentos.
Sentados à mesa, em uma manhã de domingo, terminando de tomar o café, por algum motivo desconhecido, Henrique chegou à conclusão de que aquele era o momento certo para falar sobre o casamento.
Eu disse para ele que, se ele pretendia que acontecesse antes da Maria nascer, então agosto era a data certa. Minha obstetra havia mencionado que, com o final da gestação, talvez eu não pudesse fazer viagem longas, e se nós fossemos fazer a cerimônia em Palmas, implicaria em ir contra as recomendações da minha médica. Mas, contrariando tudo o que eu pensava, Henrique se mostrou suficientemente tranquilo quando eu abordei a ideia. Parecia não ter pressa, quase me sugerindo que tínhamos todo o tempo do mundo.
— Você quer casar antes? — Henrique me sugeriu. E, com certa apreensão, eu não pude concordar ou discordar de prontidão.
Para mim, tudo era um grande se. Se eu pudesse ir Palmas com um bebê de dois meses. Se eu pudesse fazer viagens longas. Parecia incerto querer definir algo tão cedo, mas ele parecia empolgado, e eu não iria desencorajá-lo.
— Com quanto tempo de antecedência a gente tem que marcar no cartório exatamente? — Indaguei a minha única dúvida pertinente.
Henrique gesticulou, pedindo um momento, e enquanto eu o observava sacar o celular, levei um gole de chá quente à boca. O momento de silêncio fez com que minha atenção se dispersasse. Aquela era uma manhã atípica para mim.
— Não achei nada, amor. — Henrique pareceu se queixar quando devolveu o celular à mesa. — Talvez a gente devesse ter dado um pulo no cartório enquanto a gente estava lá.
— Eu vou pedir para a Mohana ver isso para mim. Quem sabe ela pode ajudar. — Sugeri, e a minha sugestão foi recebida com um aceno tímido.
Henrique se perdeu por um momento; o olhar distante, os reflexos guiando seus gestos. Era estranho vê-lo a mesa em uma manhã de domingo, mas como as folgas aos finais de semana eram uma rara exceção, ele havia voltado para a casa durante a madrugada, apenas para que não perdesse aquele momento a mesa; casualmente tomando um café da manhã.
— Mas, se você quer saber, dezembro me parece uma... — A menor menção, Henrique tornou a se atentar a mim. Ele franziu o cenho, estranhando o assunto, quando eu mencionei a ele: — ...ótima ideia.
— Você acabou de dizer que não era que queria.
— E disse que não era isso que eu esperava. — Me corrigi a tempo. Henrique tombou a cabeça para trás e revirou os olhos, como se a situação fosse meramente cômica. — Não quer dizer que eu discorde da ideia. Eu só achei que você fosse querer fazer isso antes.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
Storie d'amoreUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...