Gabrieli.
— Bi... — a voz de Pedro ecoou baixinho.
Embora Pedro repetisse meu nome em curtos intervalos, meu subconsciente estava tão embalado pelo sono que não me permitiu despertar. Agarrada ao travesseiro, me virei na cama e torci para Pedro não insistisse - o que, é claro, não aconteceu.
— Bi... — outra vez a voz ligeiramente estridente, porém carinhosa, de Pedro ecoou. Eu me agarrei com ainda mais firmeza ao travesseiro e gesticulei, pedindo que ele saísse. E, assim como na vez anterior, não funcionou. — Gabrieli!
— Que saco! — resmunguei, com o rosto ainda afundado sobre o travesseiro. Abri meus olhos apenas o suficiente para que a figura de Pedro se tornasse um pouco mais distinta no ambiente. — O que foi?!
Seus olhos me observavam de uma maneira que parecia beirar a curiosidade. Talvez Pedro soubesse o que tinha feito na noite passada. Talvez ele estivesse estranhando o meu comportamento. Porém, por qualquer que fosse o motivo, não era aquilo que eu procurava saber no momento.
— A mamãe 'tá' te chamando na cozinha. — ele disse, por fim. Eu bufei, insatisfeita, e voltei a fechar os olhos. — Bi, é sério.
— Não devem ser nem oito da manhã ainda, Pê. Me deixa descansar. — supliquei, sabendo que Pedro não iria ceder fácil.
— Mas...
— Eu me resolvo com ela depois. — assegurei, em um choramingo.
Minha cabeça doía. Era uma dor latejante e, embora não muito forte, constante. Eu também sentia minha cabeça pesada, como se levantá-la exigisse um esforço ao qual eu não estava acostumada. Era uma sensação que me causava estranheza e um pouco de receio. Eu nunca havia me sentido daquela forma.
— Bi, ela não 'tá' muito feliz com você. — Pedro insistiu, a partir dali usando um tom que indicava preoucpação.
— Gabrieli! — o grito da minha mãe surgiu, provavelmente direto da cozinha, porque soou distante.
— Eu avisei. — Pedro resmungou baixinho.
Eu soltei alguns murmúrios de insatisfação antes de criar coragem para me sentar. Cocei meus olhos, enquanto me esforçava para mantê-los abertos e meus pés tocaram o chão. Quando minha visão se tornou distinta o suficiente, vi Pedro deixar o quarto, como se ele já tivesse cumprido com sua obrigação naquela manhã.
Sentada sobre o colchão, ainda tentando conter a vontade de me deitar novamente, curtas lembranças da noite anterior começaram a surgir. Após a segunda latinha de cerveja, as lembranças se tornavam menos vívidas. Eu me lembro de ter pedido algo ainda mais forte ao garçom, da sensação de ter os braços de Henrique me sustentando mais de uma vez, mas não do que aconteceu após. Eu sequer me lembrava sequer como eu havia voltado para casa. Talvez minha mãe realmente tivesse motivos para estar brava.
Ao olhar para baixo, me encontrei usando exatamente a mesma roupa da noite anterior. Comecei a me perguntar com ainda mais afinco o que poderia ter acontecido, afinal. Se Henrique havia me levado até em casa, quando ele fez isso, e o que aconteceu entre o momento que eu deixei de me lembrar até aquela amanhã? Tudo era muito confuso e eu coloquei expectativas de que a minha versão bêbada não tivesse sido muito vergonhosa, porque eu não saberia daquilo até falar com Henrique novamente.
— Gabrieli! — a voz da minha mãe soou estridente outra vez. — Eu não vou ter que te chamar outra vez, não é?
— 'Tô' indo! — resmunguei, seguido por uma careta. Falar fazia minha cabeça doer. E os gritos da minha mãe não eram exatamente reconfortantes.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
RomanceUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...