‧₊˚ dezenove.

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Gabrieli.

— Isso é ridículo. — Apesar do meu argumento, eu sabia que havia poucas coisas capazes de impedir Henrique — e um mero resmungo da minha parte certamente não estava entre eles.

— Uai, o que é que tem de errado?

Encarei ele determinada a listar a quantidade de coisas que me pareciam banais e desnecessárias, mas o olhar amoroso de Henrique foi um impedimento para que eu fosse adiante.

A segunda noite no hospital havia sido pior do que a primeira. Na primeira, meu corpo ainda estava cansado e ainda havia resquícios da analgesia, por isso, as dores haviam sido menores e menos incômodas — em suma, suportáveis. Mas, na segunda noite, a cada vez que eu ousava me mexer na cama, eu sentia meu corpo inteiro doer.

Henrique acordou a cada vez que eu tentava me virar, porque meus gemidos de dor certamente o despertavam. Eu pude perceber que ele estava preocupado, mas não havia muito que estivesse ao seu alcance para me ajudar, exceto me perguntar se eu precisava de ajuda. Em todas as vezes, Henrique recebeu a mesma reposta; um sorriso contido, e então um breve aceno de cabeça que indicava que não. Ele não pareceu muito satisfeito.

Naquela manhã, depois de um analgésico, enquanto ainda tomávamos café, eu começava a me sentir ligeiramente melhor. Talvez a minha falta de resistência à ideia de continuar quieta fosse a solução que eu estava à prova desde o início — por isso Henrique insistia em me levar o café à boca. Deveria ser um gesto de solidariedade... mas começava a me irritar.

— Você já foi lá hoje? — Indaguei, mesmo relutante com a ideia. Henrique era seriamente irredutível. Tentar argumentar com ele só seria incômodo para mim.

— Eu não saí daqui, amor. — Ele levou o copo novamente à minha boca e eu beberiquei um pouco de café morno. — Você sabe disso.

— Você deveria ter ido. — Joguei minha cabeça para trás, apoiando sobre a cama enquanto ele aproveitava a brecha para beber do próprio café. Henrique parecia sobreviver à base da bebida naqueles últimos dias. — Deveria ter ido ver como ela tá, como ela passou a noite.

— A gente vai juntos. — Henrique argumentou. Em seguida, assoprou a bebida na tentativa de resfriá-la. — Depois que você terminar o café.

Eu assenti. Pelo restante daqueles minutos, ele esteve quieto enquanto terminava de me servir. A todo momento ele me lançava olhares solidários e me questionava se eu, de fato, me sentia bem. Em certo ponto, eu apenas aceitei, sabendo que aquele cuidado excessivo não acabaria no momento em que eu deixasse o hospital. Era o tipo de coisa que eu teria de aprender a lidar.

Henrique me ajudava a sentar quando nossos planos foram interrompidos com uma batida à porta. Débora, a médica que havia feito o meu parto adentrou o cômodo, nos desejando bom dia. E então suspirei, sem saber que tipo de notícia ela trazia.

— Como você está hoje, Gabi? — Ela desejou saber. Contrai os lábios por um momento.

— Um pouco mais dolorida. — Fiz uma careta para ilustrar a situação. — Mas eu disse para a enfermeira e ela me deu um analgésico, então aliviou um pouco.

— Bom, isso é normal, você vai se sentir desse jeito por uns dias, enquanto ainda estiver se recuperando. Fora isso, alguma outra queixa?

Não. — Discordei. Eu conseguia manter o sorriso, embora aquele não fosse um momento feliz. — Eu estou me sentindo bem... na medida do possível.

— Isso é bom. — Débora assentiu múltiplas vezes, até que me dissesse: — Nesse caso, eu estou aqui para assinar a sua alta.

Meu olhar recorreu a Henrique, como se eu não tivesse dimensão do que ela dizia.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora