Gabrieli.
Eu havia acabado de sair do banho quando ouvi baterem na porta. De início, pensei em apenas deixar para lá. Sempre que batiam em casa, tendia a se tratar de algum vizinho querendo reclamar de excesso de barulho de outro apartamento ou querendo encrencar com a entrada e saída de pessoas abundantes do nosso apartamento — o que, quase sempre, se referia somente a Matheus. No entanto, enquanto eu caminhava até o quarto, com apenas uma toalha envolta no corpo, me lembrei que Henrique havia ficado de vir até a minha casa depois que eu chegasse do trabalho. Pelo horário, deveria ser ele.
Não reprimi aquela onda grande de ansiedade porque eu sabia que não tinha necessidade. Eu estava, sim, ansiosa para encontrá-lo e não havia porque dizer o contrário.
Ao chegar à porta, estiquei meu corpo na ponta dos pés e espiei pelo olho mágico. Era exatamente Henrique quem estava parado há poucos passos, mexendo nas mãos nervosamente enquanto esperava por mim. Destranquei a porta com cautela, escondendo meu corpo atrás, para evitar que alguém que, porventura, estivesse passando no corredor, pudesse me ver. Seu sorriso ao repousar os olhos sobre mim, foi intenso e eu retribui da mesma forma.
— Amor? — Henrique chamou por mim, estranhando meu gesto.
— Entra logo, eu 'tô' só de toalha. — resmunguei, o que rendeu em resposta uma risada.
Puxei Henrique pelo braço, devido a sua demora, e sua risada se intensificou. Ele, no entanto, se rendeu e adentrou o apartamento, deixando com que eu fechasse a porta. Quando me encostei contra a madeira, encontrei o olhar de Henrique preso ao meu corpo.
— É assim que você atende a porta?
— 'Pra' você, sim. — Henrique não teve reação, apenas seguiu deslizando os olhos com atenção até que eu resolvesse dizer: — Eu acabei de chegar do estágio. Ou eu trocava de roupa ou eu te deixava esperando.
— Não, você entendeu errado amor. Eu não 'tô' reclamando.
Henrique estendeu os braços para cima, em sinal de rendição — talvez com o objetivo de reforçar o que havia acabado de dizer. Eu revirei os olhos, em um gesto involuntário, mas mantive o sorriso.
— Vai dormir aqui em casa hoje?
Dei as costas a Henrique e comecei a caminhar em direção ao quarto. Ele, no entanto, seguiu meus passos. Ouvi seus pés tocando o chão de cerâmica até que eu adentrasse o ambiente e caminhasse diretamente até o meu guarda-roupa.
— Talvez. Eu 'tô' sendo convidado?
— Você precisa de convite para dormir na minha casa? — devolvi a pergunta com outra pergunta, enquanto começava a procurar por um pijama.
— Seria me aproveitar da sua boa vontade.
— Ricelly. — o chamei pelo primeiro nome, sabendo que assim conseguiria sua atenção. Henrique, que fuçava os materiais jogados sobre minha mesa de estudos, cessou seus gestos e ergueu o olhar até mim. — Eu 'tô' te falando agora, você não precisa de convite 'pra' dormir aqui. Você sabe que eu não me importo. Aliás, eu quero que você durma mais aqui
— Da próxima vez eu venho direto então.
— E vê se trás umas roupas 'pra' você não precisar sair daqui amassado da próxima. — murmurei, enquanto ainda mexia no meu guarda-roupa. — Acho que eu posso abrir um espacinho se você quiser deixar algumas coisas aqui.
— Se eu quiser deixar algumas coisas aqui? — ele mencionou, soando confuso.
— É. Assim, se você decidir dormir aqui, sabe, meio que de última hora, você vai ter alguma coisa 'pra' usar no dia seguinte.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
RomanceUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...