Gabrieli.
— Eu preciso aproveitar — interrompi Carla por um momento. Ela me observou com certa apreensão, até que eu concluísse: — Eu não sei quando eu vou poder comer um japonês de novo.
— Quê? Como não? — com as sobrancelhas franzidas, ela enfatizou a pergunta.
— O Henrique não gosta de japonês — confessei, terminando de levar o sushi à boca. Carla foi incapaz de manter a postura, contendo a risada. — Nem o meu cunhado.
Na minha última semana no Tocantins, todos pareciam dispostos a me proporcionar despedidas. Eu havia ido almoçar com Natália, Bianca, Mohana e Priscila naquele mesmo dia, almoço esse que havia me rendido dezenas de conselhos não solicitados e instruções do que eu deveria fazer, caso as coisas com Henrique dessem errado em algum momento. Minhas amigas beiravam a apreensão e não que elas estivessem equivocadas, mas eu esperava um pouco mais de afeição do que aquela tensão latente.
Aproveitando a minha passagem pela cidade, decidi emendar com um jantar com Carla, porque eu jamais seria capaz de ir embora do estado sem antes uma despedida descente com a minha melhor conselheira — a única pessoa que, de fato, poderia dar conselhos não solicitados que fossem bem vindos. E, apesar de ser a única a saber sobre a traição, não se atreveu a me questionar sobre a minha decisão uma única vez — talvez porque soubesse que, se eu estivesse incerta quanto a ideia, jamais teria tomado a decisão.
— O seu namorado é estranho.
— É, me diga algo que eu não sei.
Murchei os ombros diante daquela breve constatação, e foi suficiente para arrancar outra risada contida da mulher à minha frente. Observei o momento em que ela deu um gole na própria bebida, antes de firmar a postura e, então, me questionar:
— Vem cá Gabi — eu apenas direcionei meu olhar a ela, enquanto me empenhava para não deixar a guioza cair do hashi. — Como você tá com tudo isso? Sinceramente.
Por um momento, desejei jogar a minha cabeça para trás para expressar, parcialmente, a minha exaustão. Há dias as pessoas vinham me repetindo a mesma pergunta, mas eu não sabia o objetivo com exatidão; talvez elas estivessem esperando que eu dissesse que eu havia me arrependido da minha decisão, mas eu estava mais firme a ideia do que jamais estive antes. Desistir, aquela altura, não era uma opção.
— Você quer saber se eu quero voltar atrás? — supus. Em seguida, mergulhei a guioza no molho, e estranhei a reação de Carla ao perceber que ela parecia quase descontente.
— Não, é claro que não. Eu sei... bom, eu acho que eu te conheço bem para saber que você não voltaria atrás, mas... — a sua afirmação tom de suposição, mas eu não concordei. Então, ela se permitiu suspirar, antes de me questionar: — Na verdade, o que eu tô querendo saber é como você tá, de verdade. Você tá tranquila com tudo isso? O coraçãozinho tá bem? Eu sei que é uma decisão muito importante, que você deve ter tantas perguntas...
Ao concordar, através de um aceno totalmente contido, eu me permiti sorrir. Levei um momento, pressionando o dedo logo à frente da boca para disfarçar o fato de que eu ainda mastigava, e conclui:
— Eu tô, tô bem tranquila, sim. Assim, tô nervosa, é claro, mas é um nervosismo normal. Nada de atípico, não.
— Parece que você tá certa do que tá fazendo — Carla sugeriu. Vi o momento em que ela levou um hot roll à boca e concordei através de um aceno. Percebendo que talvez não fosse a resposta que ela esperava, eu me alonguei no assunto:
— Eu tive muito tempo pensar nisso, então, sim, eu tô segura de que eu estou tomando decisão certa, aquilo que melhor me convém nesse momento. Eu não me imagino em outro lugar do mundo, não agora.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
RomanceUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...