Gabrieli.
São Salvador do Tocantins, TO.
Dezembro de 2012.
As manhãs de Natal, pessoalmente, sempre foram dias habituais de ressaca; onde ninguém levantava cedo, com exceção aos meus avós, e ninguém dispunha de entusiasmo ou bom humor ao longo do dia. As crianças, normalmente, gritavam em excesso, fazendo proveito da falta de disposição dos pais, e os poucos adultos sem ressaca tendiam a fugir da situação — e, consequentemente, da responsabilidade de administrar crianças que não fossem seus filhos. Até aquele ponto, aquele Natal estava sendo como qualquer outro.
Após o almoço, que contou unicamente sobras da ceia que, para o meu azar, não acabaram naquela refeição — o que implicava que meus pais levariam para casa e nós passaríamos mais uma semana inteira nos alimentando exclusivamente do resto de lombo — a maior parte da família decidiu que iria dormir. Meus primos pequenos ocupavam a cama dos meus avós, meus tios, sem muita escolha, optaram pelo chão da sala, e, por um breve momento, Aline e eu parecíamos as únicas pessoas despertas naquele ambiente.
Exaustas de toda aquela sonolência e falta de disposição, minha prima me arrastou pelo braço e eu imediatamente cedi. Dessa maneira, acabamos sentadas na calçada da casa dos meus avós, degustando dos restos de sorvete que raspamos do freezer. Aquele era um Natal excepcionalmente quente, habitual para o interior do Tocantis. E, apesar do concreto refletir parte daquele calor, o pé de pitangas na calçada dos meus avós proporcionava uma sombra fresca, consideravelmente melhor do que qualquer sombra que pudéssemos encontrar na área.
O assunto foi se perdendo aos poucos: Aline detalhou para mim o início no seu novo emprego, e as possibilidades dela se mudar para o estado de Goiás devido a uma proposta da empresa. Eu contei um pouco mais sobre o meu último semestre de faculdade, o incentivo dos meus professores a ideia de uma pós-graduação, mas exclui a ideia de mencionar Goiânia. Eu ainda estava apreensiva.
O silêncio entre nós, após tantas horas de conversa intensa, era confortável. Nós observávamos a rua excessivamente calma, terminando aquele restinho de sorvete de chocolate e eu tomava um pouco de água para amenizar o calor. Foi quando a pergunta surgiu:
— Sabe, eu tô pra te perguntar isso já tem um tempo... — ela repentinamente pontuou, e eu previ o que viria em seguida.
— Sobre o Henrique? — deduzi.
Eu sabia que deveria ser um assunto curioso para a minha família. Meu pai não, mas minha mãe certamente havia feito comentários sobre o nosso término, talvez relatando as minhas tias e, para quem taxava que nós tínhamos um relacionamento perfeito, como era o caso da minha família, certamente havia muita curiosidade.
— Ontem à noite você não tocou no nome dele e sua mãe andou comentando com o resto da família que vocês terminaram por um tempo...
— É claro que ela fez.
Contrai os lábios. Não deveria ser uma surpresa, e talvez até não fosse, mas o fato de, na noite de Natal, poucas pessoas me dirigiram perguntas sobre o meu relacionamento, me deu esperança de que o assunto não se tornasse maior do que deveria ser. Não que eu tivesse algo a esconder logo de Aline, mas se minhas tias se sentissem no direito a dar pitacos não solicitados, eu iria reclamar no ouvido da minha mãe o resto da minha vida.
— Ela também contou que vocês não ficaram muito tempo terminados...
— Você deve imaginar o que rolou, logo que ele mudou pra Goiânia — mencionei de forma breve, embora soubesse que querer evitar o assunto possivelmente não seria suficiente.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
Любовные романыUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...