‧₊˚ dois.

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Henrique.

— Quer ajuda? — a oferta de Gabi ecoou distante, talvez consequência do som estridente e incômodo.

Eu tinha tudo sob controle — ou julgava ter. Mas, no momento, minhas mãos pareciam escorregadias demais para me permitir abrir a garrafa de espumante.

— Henrique — Gabrieli advertiu, mas foi apenas quando senti seu toque que me convenci a parar. Observe minha namorada de forma atenta por cima do ombro enquanto ela se oferecia pela segunda vez: — Posso?

Ainda que a contra-gosto, entreguei a garrafa a ela. Gabrieli então se antecipou, se aproximando da pia, enquanto meu olhar vasculhava o ambiente externo através da janela.

No momento em que Natália mencionou a ideia, eu percebi Gabi resistente. Não cheguei a perguntá-la o porquê, mas eu também não precisei de muito esforço para fazê-la ceder. Talvez, no fundo, ela já quisesse, e precisasse apenas de um incentivo para se permitir admitir — até porque aquilo deveria soar muito bem como uma despedida.

Gabrieli ainda não havia contado aos amigos sobre a mudança, por falta de oportunidade. Aquele seria o momento o perfeito, e eu acredito que ela chegava a compartilhar daquele sentimento, embora não tivesse sido discutido. Talvez, até o nosso final da nossa estadia, ela se encorajasse.

Aquela altura, a atenção que estava dispersa sobre pequenos grupinhos deixava de se concentrar sobre poucas pessoas para reunir aquelas poucas pessoas em um mesmo círculo. Faltando pouco para a meia-noite, cerca de cinco minutos, as pessoas começavam a aferir os relógios com mais frequência, ao som de algum funk excessivamente alto — escolha do meu irmão, o que havia rendido uma pequena discussão entre nós. Eu havia entrado apenas para buscar o espumante e tentar abrir o primeiro lacre dele, mas sem sucesso. Gabrieli havia me seguido talvez pela minha demora.

Pronto! — ela dispersou meus pensamentos ao exclamar, e eu ergui o olhar a tempo de vê-la erguer a garrafa terrivelmente satisfeita. E então, murchei a postura, mas ela se manteve absolutamente perdida sobre o gesto enquanto afirmava: — Fala sério, o que seria de você sem mim?

Absolutamente nada — eu apenas cedi.

Me abrir daquela maneira motivou Gabi a não se reter; com certa cautela, no entanto, ela se aproximou até que me alcançasse e me deu um selinho. Eu teria estendido o gesto, mas ela recuou com a mesma facilidade com a qual me alcançou, e segurou minha mão para indicar que eu deveria segui-la.

Deixamos a cozinha, voltando para a área externa. Ao me ver, Junim me chamou em um tom excessivamente alto, e eu gesticulei, dizendo que iria até ele. Antes, me virei para Gabrieli, que tinha o olhar perdido — incomum para uma ocasião como aquela.

— O que foi, amor?

Ahn? — ela me questionou, enfatizando não saber do que se tratava a pergunta.

— Cê tá perdidinha. O que foi? — repeti a pergunta. Ela demonstrou relaxar a postura, permitindo que os ombros caíssem, e após um suspiro, comentou:

— Ano que vem tudo vai ser diferente, né?

— Depende em que sentido — argumentei, antes de passar meus braços pelo entorno do seu corpo, abraçando-a por trás. — Eu continuo apaixonado pela mesma pessoa há três anos, então...

— Mas morar junto não tava nos seus planos até pouco tempo.

— Não planos concretos, mas uma hora ia acontecer, né?

A minha sugestão foi atendida com certa dúvida. Vi Gabrieli ponderar com a cabeça, até que ela relembrasse, com um sentimento próximo de melancolia:

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora