‧₊˚ dezessete.

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Gabrieli.

Você ficou maluco?! 一 foi o primeiro questionamento que me atrevi a fazer, com a voz excedendo o tom que eu gostaria, devido ao meu incômodo excessivo.

Eu costumava acreditar que as pessoas superestimavam a minha ingenuidade em muitas situações e aspectos. E, se antes aquela era uma questão aberta, naquele momento eu tive certeza.

Três anos antes, quando Matheus chegou em Priscila durante uma festa universitária, na primeira vez em que nos vimos, era bem óbvio para todos ali que ele não estava conversando com ela por causa dela. O tempo todo, o seu olhar estava em mim, causando uma sensação incômoda. Priscila também não foi ingênua de aceitar de primeira e foi relutante durante algum tempo, até ceder o convite de Matheus para um primeiro encontro. Mas, a partir do primeiro encontro, ela seriamente acreditava que qualquer resquício de interesse por mim teria ficado no passado 一 como eu também acreditei.

Apenas naquele momento, três anos depois, eu compreendi que eu tinha feito errado em todas as vezes em que eu a incentivei a aceitar o convite. Em todas as vezes que eu garanti a ela que eu jamais teria algo com Matheus e que ele jamais demonstraria interesse em mim de novo. Na primeira oportunidade, lá estava ele, agindo como se ele não tivesse estado em um relacionamento com a minha melhor amiga pelos últimos três anos.

Gabi... 一 aquela foi sua tentativa de aproximação, sabendo que eu seria resistente a qualquer argumento. Eu apenas o observei por cima do ombro.

Eu podia ter mantido a calma, mas não teria o mesmo efeito sobre ele. Foi por isso que eu elevei o tom de voz:

一 Gabi o caralho, você mal esperou terminar com a Priscila para estar me dizendo essas coisas. Você 'tá' querendo jogar fora a história que vocês construíram por três anos...

Ela jogou fora! 一 Matheus esbravejou, se levantando do sofá em um solavanco para justificar as suas atitudes, ainda que aquele argumento não fosse nada além de infantil.

Eu não compreendi o porquê da sua postura. Até aquele momento, eu acreditei que nós estivéssemos em uma conversa pacífica, até que Matheus decidiu que não era mais conveniente para ele manter a postura de bom moço apenas porque eu não havia reagido da maneira como ele esperava.

一 Você sabe disso... 一 um pouco mais calmo 一 ou aparentando estar 一 ele abaixou o tom de voz para que conseguisse manter a compostura à minha frente. 一 ...se fosse por mim, a gente nunca teria...

Foda-se. 一 retruquei baixinho, em contrapartida com minha falta de humor. Ele pareceu surpreso com a resposta. 一 Se você acha que eu vou passar por cima do que eu construí com a minha melhor amiga durante todos esses anos por sua causa, você 'tá' muito enganado. 一 ressaltei. 一 Eu nunca tive interesse em você, Matheus, não tinha há três anos atrás, quando eu te conheci, e muito menos agora, te conhecendo e conhecendo a sua história com a Pri.

Mas...

Ele seguia dizendo baixo. Era óbvio que sua intenção era não me assustar, por receio de que eu pudesse recuar. O que ele não sabia era que eu recuaria de qualquer forma.

一 Não existe mas. 一 murmurei, para o seu descontentamento. Eu dizia tudo de forma pacífica, sem fazer questão de levantar a voz ou gesticular. 一 Eu nunca estive confortável com as suas atitudes, mas você não se questionou uma vez se eu estava bem naquelas circunstâncias, porque o que sempre importou foi o seu bem estar, né?

一 Ela não precisa saber disso...

一 Ela vai saber disso. 一 o corrigi, apesar de entender onde ele pretendia. Eu jamais deixaria Matheus concluir a frase. 一 Se você acha que eu não vou comentar com ela, você 'tá' enganado. Ela precisa saber onde se enfiou nos últimos três anos, como ela desperdiçou...

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora