Gabrieli.
Eu odiava voar. E odiava ainda mais a maneira como Henrique havia me prometido que se tornaria algo mais confortável com o tempo, porque ele mentiu. Talvez não propositalmente, mas mentiu. E eu gostaria muito que ele estivesse certo.
Independente de quantas vezes eu tivesse feito aquele mesmo trajeto — uma viagem relativamente curta, entre as capitais Goiânia e Palmas — eu nunca me acostumava com as sensações de estar em um voo. O nervosismo era recorrente, bem como a ânsia e a sensação constante de mal-estar — sensações que se tornavam ainda mais intensas devido a gestação.
Naquele início de noite, sentada próximo ao portão de embarque, eu contava os minutos para que o voo fosse anunciado, já me sentindo nervosa. O voo estava atrasado, o que me era mais um motivo para apreensão. Eu havia marcado um compromisso em Palmas, e talvez não chegasse a tempo — o que só geraria frustração, porque, sinceramente, eu queria muito estar com as minhas amigas naquela noite.
Nas minhas mensagens recentes, Mohana já começava a me perguntar que horas o meu voo sairia, certamente contente com a ideia de me encontrar. E, ainda que eu quisesse responder, decidi que seria melhor não fazer enquanto eu não tivesse uma resposta.
Olhei o painel outra vez. O voo ainda constava como atrasado, o que não me ocasionou uma surpresa. Suspirei, pouco antes de me concentrar sobre o meu celular e, ignorando as mensagens da minha amiga, segui direto até o instagram, decidindo que o melhor que eu poderia fazer para passar meu tempo era encontrar uma distração a altura.
Minhas notificações estavam cheias com a foto que eu havia postado com Henrique na noite anterior. Meu pai havia tirado para nós na pequena comemoração do meu aniversário. Na foto, aparecíamos sentados em torno da mesa, eu com a cabeça repousando sobre o seu ombro e Henrique tocando minha barriga. Cortei a foto ao máximo, dentro do enquadramento, para evitar que o volume da minha barriga não ficasse visível. As pessoas, no entanto, foram muito mais perspicazes do que eu poderia acreditar. Mais do que apenas supor, vieram aos meus comentários me questionar sobre o pouco da minha barriga que estava aparecia na imagem. E eu não sabia o que responder.
Eu sabia que, se perguntasse a Henrique como lidar com tudo aquilo — porque ele sempre estava um passo a frente de qualquer situação — ele teria uma resposta certeira, mas eu não queria tornar aquilo um problema. Ele já havia me dito que nós só entraríamos no assunto de maneira pública quando eu me sentisse receptiva com a ideia, o que estava distante de ser o caso. Eu não queria falar sobre. Logo, não havia motivo para trazer o assunto à tona outra vez.
Os comentários se dividiam em duas reações: aqueles que perguntavam de maneira gentil sobre uma possível gravidez e pessoas que afirmavam de maneira ambígua — camuflando (mal) a intenção de ser rude. Era possível se perder por muito tempo ali, se eu tivesse disposição de ler os comentários, o que eu não fiz quando escolhi sair da publicação e voltar para as minhas notificações. Eu não iria deixar me levar por coisas que estavam fora do meu controle. Não naquele final de semana.
Ao entrar nas notificações, encontrei novas marcações. Havia uma considerável quantidade de pessoas respostado a foto com legendas variadas. Curti algumas das publicações e deslizei a timeline, passando pelas publicações de amigos e fã-clubes, até que algo inesperado atraiu a minha atenção.
Havia uma publicação de Henrique em que ele aparentava estar consideravelmente mais novo — coisa de uns cinco anos, no mínimo, se eu estivesse certa. Na foto, ele aparecia ao lado de uma mulher, segurando sua cintura, cercado por uma turma com amigos. Sorrindo, tudo parecia dizer que eles eram um casal.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
RomansaUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...