‧₊˚ oito.

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Henrique.

Eu não soube dizer quanto tempo se passou. Poderia ser uma questão de minutos ou horas, mas, para mim, não pareceu muito. Talvez fosse o efeito da bebida, ou então resultado dos meus pensamentos inconstantes e traiçoeiros, que me questionavam a todo momento quando eu contaria a Gabrieli sobre o acontecido há semanas atrás. Ou talvez fosse a junção daquelas duas coisas; da minha mania de sempre agir impulsivamente, fosse naquela ligação ou no próprio acontecido. Fato é que: eu não me sentia bem.

Eu sabia que eu estava sendo um péssimo namorado. Ah, eu definitivamente tinha plena consciência daquilo. No entanto, me faltava coragem. O timing me pareceu ruim logo de cara; a gente ainda estava se adaptando à ideia de ficar distantes e, honestamente, aquela distância começava a se tornar ainda mais pessoal do que apenas física. E, quando eu me dei conta de que eu não teria outra alternativa, comecei a pensar que talvez fosse tarde demais. Quanto mais prorrogasse o assunto, mais difícil se tornaria falar sobre. Uma coisa seria mencionar o acontecido logo após, mas passar semanas empurrando aquele segredo... ela talvez não me perdoasse e eu jamais poderia tirar a razão de Gabi.

Imerso naqueles pensamentos, tudo o que eu sei é que eu apenas me situei de onde estava quando ergui os olhos ao ouvir chamarem por mim.

Minha cabeça estava zonza, eu mal conseguia situá-la sob uma direção em particular, mas mesmo assim eu fiz, e encontrei Junim há alguns metros de distância, caminhando à frente enquanto Wander, nosso empresário, o acompanhava alguns passos atrás. A perspectiva do seu grito, mesmo distante, me causou um intensa pontada na cabeça e eu levei a mão até a testa em um gesto inconsciente, enquanto ele repetia:

Você ficou maluco?!

Junim estendia os braços, gesticulando de forma excessiva, mas... honestamente, eu não estava em condições de responder nada que soasse coerente. Foi por isso que afrouxei o sorriso, mencionando a ele o primeiro pensamento que me ocorreu:

A Gabi me atendeu!

Eu sabia que ele não tinha intenção de falar do assunto naquele momento — ou talvez supus depois — mas a minha versão bêbada apenas queria compartilhar aquilo como o irmão, como se fosse motivo para se orgulhar.

— Henrique, levanta daí! — Junim ordenou, rangendo os dentes. Ele não parecia exatamente amigável, não naquele momento.

— Eu 'tô' bem, 'véi'.

Tentei me desvencilhar assim que ele me alcançou e segurou meu braço com força, como se quisesse me dar um impulso para levantar. Quando não fiz, ele continuou segurando meu braço, mas deixou de insistir, à espera da minha colaboração.

— Você 'tá' bem o caralho, olha 'pra' isso! — Junim seguiu dizendo, em um tom excessivamente alto. — 'Cê' 'tá' largado no meio da sua, parecendo um mendigo.

— Eu só um tiquinho bêbado, mas...

— Mas o caralho, você saiu sem avisar ninguém! — ele insistia em me repreender, mas eu não conseguia demonstrar reação, ou acabaria rindo da sua feição. — Ninguém!

— Henrique, por favor... — a súplica veio de Wander. Foi o bastante para que eu ajeitasse a postura. Implicar com o meu irmão era uma coisa recorrente, mas envolver o nosso empresário no meio se tornava outra história.

— Vamos, Henrique, já 'tá' ficando tarde, ninguém deveria estar na rua nessas horas — Junim seguiu insistindo. Então, começou a se empenhar para segurar o meu braço até que eu, por fim, cedi.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora