Henrique.
O mês seguinte ao meu aniversário foi tedioso, doloroso, confuso, lento e outra porção extensa de adjetivos não necessariamente positivos. Foi um período de sentimentos confusos que eu nunca conseguia colocar em palavras quando me perguntavam sobre 一 e menos ainda encontrar uma definição que coubesse a mim mesmo.
Cada vez mais, o trabalho começava a se tornar rotina e os dias em casa gradativamente se tornavam contados. Nós tocávamos de quinta a domingo, expandindo cada vez mais o nosso trabalho a novos estados e cidades e quase todo o tempo fora dos palcos era passado na entrada, em um ônibus, junto da equipe, rodando de norte a sul do país.
Wander começava a conversar com nós sobre a possibilidade de um DVD. Aparentemente, o resultado de todo aquele trabalho árduo estava começando a se projetar em um futuro 一 talvez 一 promissor, embora ninguém nos dissesse com aquelas palavras exatas. Wander, assim como toda a equipe do escritório, ainda não tinham absoluta certeza, mas estavam empolgados com a ideia e falam sobre de maneira constante. A única coisa que ainda nos afastava da certeza era a constância daqueles resultados positivos, mas eu era confiante o suficiente para dizer que era apenas uma questão de tempo.
É, eu estava começando a me sentir realizado profissionalmente. Exausto, mas realizado. E viver tudo aquilo logo ao lado do meu irmão me deixava um pouco emotivo. Era mais do que nós tínhamos sonhado, e as pessoas ainda tratavam aquilo como se fosse pouco; como se pudéssemos chegar ainda mais longe. Aquele sentimento só causava uma certeza ainda maior de que nós havíamos escolhido certo 一 e estávamos prestes a colher os frutos que vínhamos plantando.
Em contrapartida, naquele mês, minha vida se resumia a minha vida profissional. Eu não saia para resenhas, recusava qualquer convite para churrascos ou festas e passava todo e qualquer tempo fora do trabalho em casa, fosse assistindo partidas de futebol, jogando videogame com o meu rimão ou deixando meus sentimentos extravasarem através de músicas.
A príncipio, eu não queria que chegassem aos ouvidos de terceiros, mas é claro que tendo meu irmão morando comigo, seria impossível esconder. Em algum momento ele me ouviu e seu único comentário pontual foi algo do tipo: "desse jeito logo logo a gente vai ter um DVD inteiro só sobre o seu término". Junim nunca mais tocou no assunto.
Eu não sabia dizer como eu estava levando tudo no pós-término, talvez porque não houvesse uma maneira certa de dizer, uma palavra em específico que fosse a síntese de todos aqueles sentimentos e sensações tão confusos. Eu não estava bem, é claro, mas ao mesmo tempo eu estava me dedicando tanto à carreira que eu me sentia constantemente sendo sufocado apenas para não ter que conviver com aquelas sensações tão frequentemente. Se eu me deixasse levar pela minha própria cabeça, eu estaria surtando, e não seria nada positivo.
Minha tentativa estava funcionando, em partes. Durante os dias na estrada, eu me sentia tão constantemente exausto que eu não tinha fôlego para me lamentar pela ausência de Gabi. É claro que os momentos corriqueiros que eu gostaria de compartilhar com ela ainda existiam e eu ainda me condenava por perder aquilo, mas na maior parte do tempo, minha cabeça estava em modo automático e lembrar dela, ainda que fosse algo pertinente, nunca ocupava mais tempo do que eu tinha livre.
A ausência de Gabrieli, no entanto, batia mais forte em dois momentos: em todos os shows, quando eu cantava Nasci 'Pra' Te Amar e fazia questão de ainda mencionar que aquela música havia sido escrita para uma pessoa em particular. Eu não tinha nenhuma intenção além de ser verdadeiro com quem estava ali, para me ver, e a introdução da música sempre foi aquela, não havia motivo para que eu voltasse atrás àquela altura. O segundo momento eram normalmente os fins de tarde em casa, onde eu me flagrava pensando em onde Gabrieli poderia ir a noite 一 se ela estaria acompanhada, se ela apenas iria para casa... normalmente eu não me alongava, por medo da resposta, mas aquele pensamento era extremamente corriqueiro e invasivo na minha cabeça.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
Любовные романыUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...