‧₊˚ dois.

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Gabrieli.

Alisei meu vestido pelo que parecia ser a décima quinta vez desde que desci do carro. Eu não sabia dizer com exatidão se era a fim de puxar a barra do vestido para baixo, porque mostrava demais das minhas pernas, ou aliviar o suor sobre as palmas das minhas mãos, mas àquela altura, pouco importava.

Para começo de conversa, eu sequer conseguia me lembrar do momento exato em que eu havia me deixado convencer por Priscila e Natália e aceitado entrar daquela merda. Eu não me sentia confortável usando roupas curtas, mas lá estava eu, usando um vestido que mal cobria minhas coxas.

E, como se o vestido por si só não fosse suficiente, era ridículo que eu estivesse nervosa pela remota possibilidade de esbarrar naquele cara que minhas amigas tanto mencionaram. No entanto, cada vez que elas faziam menção a ele, algo se acendia dentro de mim — talvez a instigação pela curiosidade.

— Querem alguma coisa pra beber? — Matheus, namorado de Priscila, ofereceu assim que entramos na boate.

O ambiente, naquele início de noite, estava relativamente tranquilo. Uma música eletrônica ecoava pelas caixas de som, havia uma quantidade moderada de pessoas na pista de dança e o bar definitivamente não parecia cheio para uma noite de sexta-feira. Tinha tudo para ser agradável, mesmo que o show fosse uma merda.

— Eu vou... — Comecei a dizer, tentando que minha voz se sobressaísse ao volume da música, mas fui interrompida por Natália:

— Não, nós estamos bem. Vamos, Gabi!

Não tive tempo suficiente para reagir; quando ela enganchou seu braço ao meu, me puxando para o outro extremo da boate, eu saí tropeçando em meus próprios pés e, lutando para manter o equilíbrio sobre aqueles saltos, apenas acompanhei seus passos.

— Pra onde você tá me arrastando, sua maluca? — Resmunguei, quando já tínhamos caminhado até o centro da pista.

— Aproveitando pra pegar um bom lugar de frente pro palco.

— Natália, você surtou de vez. — Tentei argumentar, embora àquela altura já não significasse nada. — São só dois caras que ninguém conhece direito, se ainda fosse alguém famoso...

Cala a boca, você veio aqui me acompanhar.

Ela puxou meu braço com um pouco mais de força e eu entendi como uma súplica silenciosa para que eu deixasse de falar. Não que eu estivesse me dando por convencida, mas era difícil me concentrar em qualquer coisa quando Natália me puxava ao encontro do palco. Eu não era natural com saltos.

Quando paramos praticamente a frente do palco, com exceção de algumas garotas à nossa frente, eu ofeguei, me sentindo cansada. Apenas então, ergui o olhar, avaliando ao redor. Estávamos na extrema esquerda do palco, quase no limite que a nossa visão permitia.

— Você realmente acha que tem alguma chance dele me enxergar daqui? — Indaguei em provocação, mas Natália não pareceu ter percebido meu tom irônico.

— Pra quem não quer ficar com ele, você tá muito preocupada.

— Você não entendeu o contexto disso. — Toquei seu braço, ao perceber que ela se esforçava em se colocar na ponta dos pés para avistar o palco. Natália se conteve e eu insisti: — Eu tô pouco me fodendo pra isso, eu só queria entender esse filme de romance que você já coordenou na sua cabeça.

Gabrieli...

— Me diz, se ele é tão bonito assim, por que você não fica com ele? — Indaguei aquilo que me perturbava, e recebi em resposta um olhar atravessado.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora