‧₊˚ cinco.

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Gabrieli.

Era uma tarde de muito calor em Palmas. Já faziam alguns dias desde que eu não me sentia bem, devido a uma sensação de mal estar frequente e algumas vertigens e enjoos pontuais, mas eu estava o tempo todo tentando me convencer de que era apenas devido ao calor, principalmente por ser algo passageiro — embora recorrente.

Naquela tarde em particular, eu não consegui fugir, no entanto.

Enquanto as crianças da turma estavam na aula de inglês, eu ajudava Carla e tirar as decorações ultrapassadas que estavam lá desde o início das aulas, dando as boas vindas aos alunos. Eu estava em cima de uma cadeira, no fundo da sala, retirando os pedaços de eva recortados em formato de diferentes letras, formando o termo bem-vindos, quando aquela sensação incômoda no estômago me atingiu pela primeira vez no dia.

Eu tentei engolir em seco e continuar o meu trabalho, convencida de que estava ficando paranóica e que não deveria ser nada fora do comum. De início, minha tentativa deu certo; ainda incomodada pela sensação, fechei a boca, acreditando que sensação iria se dispersar e segui retirando os pedaços de eva colados à parede.

Quando me atingiu pela segunda vez, no entanto, eu não consegui seguir fingindo. Me segurei à parede, começando a suar frio. Carla talvez tenha percebido meu comportamento estranho, porque tratou de me perguntar:

— Tudo bem por aí, Gabi?

Tudo — respondi de forma sucinta. Eu tinha medo de me alongar e acabar causando uma catástrofe na sala.

Eu sabia que minha resposta não tinha sido convincente, mas Carla deixou passar naquele momento. Consegui me recompor um pouco, me afastando da parede, mas decidi descer da cadeira por medo de cair.

— Gabi? — Carla chamou por mim ao perceber que eu ajeitava a cadeira. Eu estava começando a suar frio, mas encontrei coragem para observá-la. — Tem certeza que 'tá' tudo bem?

Percebendo que o cuidado e a preocupação no seu olhar eram latentes, acabei negando. Foi um gesto breve e contido, devido aquela sensação incômoda de enjoo, mas foi suficiente para que Carla percebesse a gravidade do meu estado.

— Senta, antes que você desmaie. 'Cê' 'tá' branca, menina — ela instruiu, apontando para a cadeira a qual eu ainda segurava.

Acabei a obedecendo, apenas porque eu sabia que eu não estava em condições de continuar em pé. Eu ainda tinha as letras recortadas em eva em mãos quando deixei minha cabeça cair para trás, tocando a parede.

— O que você tem? — ao se aproximar a passos lentos, Carla me indagou.

Enjoo — confessei, sentindo a tensão que começava a se formar. Carla parecia tentar encontrar qualquer justificativa possível para aquela reação, começando pelo mais óbvio, talvez a fim de ignorar a hipótese mais plausível:

— 'Cê' comeu alguma coisa estranha?

Não — confessei de primeira. — Nada que pudesse estar estragado. Não que eu tenha sentido, pelo menos.

— esbocei uma risada breve ao perceber que ela não se daria por contente. Carla iria tentar encontrar uma justificativa a todo custo. — Você não 'tá' doente por acaso, não é?

— Não — segui negando. Na tentativa de amenizar o enjoo, fechei os olhos e comecei a rezar mentalmente para que fosse algo passageiro.

Entretanto, apenas de manter os olhos fechados, consegui perceber a tensão que se instalou no ambiente naquele momento breve. Carla parecia à procura de qualquer outra justificativa que não acabasse como aquela, mas ao perceber que era óbvio, precisou seguir em frente:

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora