‧₊˚ quatro.

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Gabrieli.

— Faz quase um mês que a moto tá parada aí na garagem e nada.

— Um mês o seu cu, faz no máximo duas semanas — retruquei, por cima do ombro, enquanto observava a imagem de Henrique na extremidade da mesa. — Eu nem tô aqui há tanto tempo assim. E para de me caluniar pro seu irmão, Ricelly Henrique!

— Tem base um trem desse, manim? — Henrique questionou diretamente ao irmão. Insatisfeita, não me atrevi a olhá-lo. — Ainda me acusa de mentir.

— Júnior, não ouse defender o seu irmão — exigi, apontando para Junim.

Ele chegou a sorrir, por um momento, o que fez com que os cantos dos lábios se elevassem, mas não demonstrou interesse algum em fazer parte daquela discussão, quando resmungou:

— Eu não vou é me meter em porra nenhuma, vocês que resolvam as suas diferenças.

Ao repreendê-lo, me levantei e deixei o prato sujo sobre a pia. Quando passei por Henrique, ele riu, demonstrando que tudo não passava de uma brincadeira. Minha resposta foi um contido balançar de cabeça, em desaprovação, mantendo a descontração.

Nas duas semanas desde que eu havia chegado em Goiânia, a rotina estava surgindo de maneira casual, sem muita pretensão. Eu e Henrique tínhamos criado o hábito de se revezar na cozinha; quando um preparava a refeição, o outro cuidava da louça, e, daquela maneira, nós começávamos a nos ajeitar em uma divisão de tarefas.

Eu temi, no começo, com a ideia de mudança, que a convivência com meu cunhado talvez fosse complexa. Por mais que nós sempre tenhamos sido amigos, há uma grande diferença entre ver alguém pontualmente e conviver todos os dias, dentro de um mesmo ambiente, mas nós encontramos um equilíbrio, apesar das adversidades. Era mais fácil promover uma discussão com Henrique do que com Junim, porque poucas coisas genuinamente incomodavam o meu cunhado. Ele era pacífico em excesso.

— Eu sei que parece que eu tô fazendo desfeita, mas... — encontrei uma maneira de manter o tom pacífico, ao repousar o prato na pia, enquanto dizia: — Eu tô com medo de subir na moto.

Conferi o olhar de Henrique. Ele consultou o irmão, observando-o brevemente, antes de argumentar:

— Você já dirigiu minha moto tantas vezes.

— Faz o que? Com certeza mais de seis meses que eu não tento.

Então bora! — Henrique se levantou da mesa com tamanha motivação que me causou espanto. — Eu pego o capacete, você tira a moto da garagem.

Isso não vai dar certo — Junim resmungou o que, para ele, era previsível. Ele não estava equivocado. Eu não tinha um bom histórico conduzindo motos, e Henrique não era lá um bom instrutor — definitivamente, éramos uma dupla contestável.

Observei meu namorado com descrença quando ele ameaçou passar por mim. Quis insistir para que não, mas ele sorria de maneira tão intensa que me convenceu a ceder. Eu sabia que, para ele, não era suficiente que eu tivesse aceitado o presente; Henrique gostaria que eu fizesse uso dele, o quanto antes. Apenas então ele se convenceria de que havia sido um dinheiro bem gasto — e que eu havia gostado, embora já tivesse aceitado há dias.

— Se eu me ralar... — adverti, estendendo meu dedo a ele em tom de ameaça.

Uhm...

— ...eu vou te culpar pelo resto da vida, Ricelly.

— Eu não vou te deixar cair dessa vez — ele assegurou.

— Eu acho bom.

Henrique envolveu meu corpo com seus braços, tocando o trecho entre a cintura e o quadril. Ele se aproximou com cautela, fazendo um biquinho antes que nossos lábios se tocassem. Ao fundo, Juliano exclamou:

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora