‧₊˚ doze.

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Henrique.

O trajeto até minha casa havia me levado sentimentos ambíguos; apesar de significar uma caminhada de mais de vinte minutos, eu não estava disposto a pegar um táxi ou qualquer coisa do tipo; de alguma forma, eu compreendia aquela caminhada como um momento de colocar a cabeça no lugar.

Eu não pensei em muito, no entanto. Aliás, talvez eu tenha pensado em muito e nada ao mesmo tempo. Eu não conseguia digerir a ideia de que o meu relacionamento havia chegado ao fim porque não parecia real, ao mesmo tempo em que eu era tomado por uma tristeza descomunal em pensar que Gabrieli não estaria ali na próxima vez que eu quisesse ligar para ela, depois de um dia cheio, quando tudo o que eu precisaria era ouvir a sua voz.

Eu havia colocado tudo a perder, e a troco de quê?

Não consegui encontrar uma resposta ao longo daqueles pouco mais de vinte minutos. Acredito que eu não encontraria, mesmo se estendesse a caminhada. Senti alívio ao encontrar minha casa e avistar o portão. Percorri toda a extensão do quintal com um nó na garganta, mas me contive. Esperei passar pela porta da sala para desabar.

Apenas a partir daquele momento, eu senti conforto suficiente para demonstrar vulnerabilidade. E, no momento em que o choro se sobressaiu a qualquer outro som, minha mãe apareceu a porta da cozinha, espantada.

一 Henrique?

Eu era capaz de dizer, pelo seu semblante que sua maior preocupação era a possibilidade de algo ter acontecido com a nora. Eu quis dizer a ela que não, mas não encontrei coragem para proferir aquelas palavras 一 nem quaisquer outras de imediato. Por mais que eu quisesse falar, as palavras simplesmente não saíam, afinal, eu não conseguia encontrar força dentro de mim para esboçar qualquer coisa que não fosse o óbvio. Foi em uma breve brecha entre soluços que eu confessei:

Ela terminou comigo.

Eu não sabia o que esperar da reação da minha mãe, não depois de ter sido ignorado por ela no hospital. Eu não tirava a razão dela, mas, no fundo, tudo o que eu mais queria era ser acolhida naquele momento; e foi exatamente o que ela fez.

Deixando de lado qualquer resquício de ressentimento, ao menos naquele momento, minha mãe me envolveu em um abraço apertado, deixando com que eu repousasse minha cabeça sobre o seu ombro e desabasse de vez. Meu choro era alto e, por consequência, meus soluços também.

Minha mãe não me dizia palavras de conforto, com certeza porque ela não conseguia encontrar nada que fosse verdadeiro naquele momento. Não adiantava ela me dizer que ficaria tudo bem se as minhas atitudes não estavam colaborando para aquilo. Talvez aquele fosse um término definitivo, e não que eu estivesse conformado com a ideia, mas eu precisaria aprender a lidar com aquilo o quanto antes.

一 Me explica isso com calma, Ri. 一 foi o único pedido que ela me fez naquele momento.

Com as mãos agarradas as minhas costas, minha mãe me guiou até o sofá para que eu me sentasse ao seu lado. Uma vez que ela estava acomodada, eu deitei minha cabeça contra o seu colo e senti seus dedos envolverem os fios dos meus cabelos conforme eu desabava.

Foi preciso algum tempo para que eu conseguisse parar de chorar, no caso não parasse por completo, mas desse uma brecha para que eu conseguisse esboçar alguma frase. Ela estava ali, cedendo o seu colo e demonstrando interesse em me ouvir. Foi isso que me encorajou a ir em frente:

一 Ela disse que não pode lidar com tudo isso agora e me pediu um tempo. 一 confessei baixinho.

Mais do que apenas um sentimento desolador, eu estava envergonhado. Eu sabia que a culpa daquele término recaia apenas sobre mim, mas o que eu não sabia era como encarar as pessoas que torciam tanto por nós, como era o caso da minha família, e admitir que eu havia provocado aquela situação. Porque eu não pude respeitar as inseguranças de Gabrieli. Porque eu, aparentemente, precisava tanto estar em um ambiente lotado que preferi as noitadas ao meu relacionamento.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora