‧₊˚ dez.

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Gabrieli.

Me surpreendi ao chegar em Brasília e constatar um clima mais frio do que o habitual. Não era o que eu particularmente chamaria de frio, mas eu me tremi ligeiramente ao deixar o aeroporto, abraçada pela brisa de outono, à procura de Mohana e Pedro na área de desembarque.

O movimento no aeroporto era grande, de maneira que eu me encolhi à medida em que outras pessoas passavam por mim. O ruído constante do atrito entre as malas e o piso de concreto me causava uma ligeira aflição, resultando naquele incômodo. Sem encontrá-los, conferi o relógio sob o meu pulso. Passava das oito, e Mohana havia me dito que chegaria pontualmente naquele mesmo horário.

Como previsto, houve alguns contratempos durante o voo, mas, por sorte, o ensaio também havia atrasado por questões técnicas, que fugiam do meu entendimento. Talvez, se não houvesse trânsito, eu chegaria a tempo de assisti-lo por inteiro.

Henrique, compartilhando aquela ânsia, já havia ligado para se certificar de que eu havia chegado pelo menos duas vezes. Ele estava desgostoso com a ideia de que eu pegasse um voo sozinha, apesar das incontáveis vezes em que aleguei me sentir bem para fazer aquela viagem — o que, por consequência, exigiu de mim destreza para lidar com a situação.

Gabi! — a exclamação de Mohana soou próxima. Me coloquei na ponta dos pés, observando aquelas dezenas de carros estacionados e a encontrei cerca de cinco carros acima de onde eu me encontrava.

Mohana tinha apenas uma das pernas para fora do carro. Com um dos braços apoiado sobre a porta, ela acenava insistentemente com a mão livre. Quando meu rosto se acendeu, ela deixou de insistir e desceu do carro, à minha espera.

Saí puxando a pequena mala de mão, enquanto intensificava meus passos. Ao ser recebida por minha amiga, seus braços me envolveram, mas eu não pude retribuir o gesto, porque minhas mãos estavam tentando desesperadamente evitar com que minha bolsa escorregasse pelos meus ombros e caísse. Ao me afastar, ouvi Mohana dizer:

Eu quero saber como minha gravidinha preferida está!

Em um primeiro momento, minha reação foi esboçar um sorriso não muito longo. Mohana estranhou minha reação e eu timidamente indiquei Pedro, sentado sobre o banco do motorista. Ela resumiu sua reação a um balançar de sobrancelhas e um sorriso desconfortável. Mohana sabia o que eu pretendia dizer.

— Vem, vamos colocar no porta-malas!

Mohana puxou minha mão, antes que eu tivesse qualquer reação. Não se atreveu a dizer nada, o que não foi algo necessariamente negativo — não naquele momento. Pouco mais de dois minutos depois, eu estava devidamente acomodada sobre o banco traseiro quando Pedro se atreveu a dar partida.

— Eu ouvi isso certo? — ele questionou, com a curiosidade aguçada. Percebi seu esforço para não se atrever a soar entusiasmado em excesso, mas Pedro não reteve ao me questionar: — Cê tá grávida, Gabi?

— Eu acabei falando demais — Mohana se lamentou, aflita. — Desculpa, Gabi.

— Eu não deveria saber — Pedro concluiu, sem esforço. Mohana assentiu. Prevendo que ela insistiria, resolvi que seria melhor que eu conduzisse a situação.

— Ninguém sabe além da Mohana e do Juliano. A gente pretende contar hoje pro meus sogros, então... será que você consegue guardar segredo até lá? Eu não queria que eles ficassem sabendo de outra maneira.

— Mas é claro, Gabi. Pra quem eu contaria?

Sua menção despertou em mim um sorriso — uma leve curvatura sobre os lábios — como um sucinto agradecimento. Mohana, naquele momento, me observava com certa curiosidade através do espelho. Eu me permiti respirar com certa ânsia, antes de mencionar:

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora