Gabrieli.
Toquei a campainha e me afastei, à espera de Carla. Enquanto ela não parecia à porta, observei com atenção a fachada da sua casa nova, atenta a cada mínimo detalhe. Ela havia se mudado há pouco mais de um mês e havia insistido incansavelmente para que eu fosse conhecer sua casa nova. Tivemos alguns desencontros pelo caminho até que conseguíssemos marcar um dia em comum, mas eu havia prometido a ela que não passaria daquela semana — como, de fato, não passou. Fazer companhia à Carla em um sábado à noite soava como um programa ótimo.
— Gabizinha! — ela gritou ao sair a porta, demonstrando parte do seu ânimo. Eu ri fraco, a acompanhando.
A casa em si era simples, porém bonita. Tinha aquele aspecto de casa recém-construída, com portas e janelas tinindo de novas, piso em perfeito estado, sem desgaste nenhum, e pintura impecável. Eu sabia que aquela casa era um sonho realizado para Carla, por isso estendi o sorriso.
— A casa 'tá' linda, Cá — tratei de dizer no momento em que ela alcançou o portão.
— 'Tá', né? — ela acrescentou, com um deslumbre palpável enquanto se encarregava de abrir a fechadura. — Espera 'pra' você ver dentro. Não 'tá' cem por cento ainda, mas já 'tá' começando a ficar do jeitinho que eu sempre sonhei!
Assim que ela abriu o portão, me encarreguei de acolhê-la em um abraço rápido e prontamente me afastei. Me mantive por perto enquanto Carla fechava o portão e deixei com que ela me guiasse para dentro de casa.
— Vem, eu vou te mostrar tudo.
Ela de fato fez. Me guiou por todos cômodos — sala, cozinha, banheiros, quartos e lavanderia — pontuando tudo aquilo que ainda faltava ser feito, embora a casa já parecesse impecável. Apesar de ser uma casa relativamente pequena, tudo havia sido escolhido com muito bom gosto, tornando os ambientes acolhedores naqueles tons claros, sempre cercando a madeira, o branco e o cinza.
Voltamos à sala pouco após. Carla me instruiu a deixar a bolsa no sofá e me ofereceu um copo de suco gelado e se serviu de uma cerveja — eu até gostaria de acompanhá-la, mas continuava com restrições em decorrência da gastrite. Com isso, nos sentamos na área próxima a churrasqueira, desfrutando daquele comecinho de noite de sexta com vigor.
— E o Rodrigo, Cá? 'Tá' por onde? — perguntei sobre o seu marido.
— Ah, ele 'tá' no Rio de Janeiro à trabalho, pela empresa. Volta no começo da semana que vem.
Assenti, em concordância. Eu sempre admirava a forma carinhosa como Carla se referia ao marido, sempre tão deslumbrada, como se tudo ainda fosse novo, embora eles já fossem casados há mais de dez anos.
— Deu tempo de sentir saudade? — insinuei, risonha. Talvez Carla tenha percebido a forma como dizer aquilo me afetou, porque me observou com melancolia, mas apenas seguiu adiante:
— É claro que sim. Ele 'tá' lá desde quarta, vai ficar quase uma semana fora... para gente, é muito tempo;
Contrai os lábios diante do seu suspiro. Ela aproveitou a brecha para tomar um gole de cerveja. E, por alguns instantes, desfrutamos do silêncio de forma confortável.
— Sabe, Gabi, tem uma coisa que eu 'tô' precisando dividir com alguém... — a forma como ela soou incerta ao murmurar aquelas palavras me deixou em alerta.
— O que foi? — indaguei, me questionando se poderia ser sobre o seu casamento.
— Você sabe que eu já 'tô' junto do Rodrigo há muito tempo — assenti brevemente. Diante do meu gesto, ela suspirou novamente, antes de continuar: — Só de casados, faz uns dez anos e... é meio normal que as pessoas passem a cobrar por filhos depois de um certo tempo de casamento. Tipo, as pessoas à volta.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
RomanceUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...