Gabrieli.
Goiânia, GO.
24 de março de 2012.
Eu imediatamente comecei a me sentir nervosa, a partir do instante em que aquelas palavras deixaram a boca de Henrique.
De alguma forma, antes mesmo que ele tivesse a chance de dizer, eu soube o que ele estava prestes a falar — talvez porque eu conhecesse muito dele para conseguir deixar algo do tipo escapar.
Henrique tinha uma particularidade excêntrica, de ser extremamente resistente à ideia de distância. De início, logo quando nós começamos a namorar, não era algo que eu enxergava como um defeito; eu amava ter Henrique por perto, sob qualquer circunstância, então, todas aquelas noites em que ele aparecia de surpresa para me buscar no trabalho, fosse para dormir em casa ou não, eram recebidas com muito carinho da minha parte. No entanto, após aquele um ano e meio de relacionamento, era algo que começava a me sufocar aos poucos.
É claro, os meses precedentes foram um pouco complexos quanto a essas noites esporádicas; Henrique vivia extremamente dividido entre Goiânia e Palmas e, às vezes, quando eu mais achava que ele iria me manter por perto, me pedindo para dormir em casa, é quando ele recuava com mais afinco. No entanto, eu também sabia que, mesmo dentro daquele contexto, aquele convite para morar em Goiânia chegaria em pouco tempo, ainda que nós nunca tivéssemos falado sobre morar juntos enquanto uma realidade próxima. Para ele, seria uma solução simples, embora não fosse uma ideia real para mim.
Naquele momento, após digerir a pergunta, meu olhar repousou sobre Henrique. Ele mantinha a mão entrelaçada à minha e parecia muito entretido com o olhar preso ali. Talvez até mais do que isso; Henrique parecia tranquilo, como se não tivesse acabado de propor uma mudança de estado. Talvez, para ele, a ideia soasse simples, mas eu estava nervosa para caralho por dentro.
— Não precisa me olhar com essa cara. — Henrique me repreendeu, mas não de forma rude; ele manteve o tom ameno e, consequentemente, brincalhão.
— Você 'tá' falando sério? — indaguei, acreditando na possibilidade de que ele pudesse estar tratando tudo como uma mera brincadeira.
Henrique então assentiu, um gesto que não se alongou muito, mas somado ao semblante carregado de seriedade que ele adquiriu, eu percebi que não havia espaço para questionamento.
— Amor, pensa bem. — Henrique se endireitou na cama, talvez com o intuito de se aproximar. Desfazendo o toque, senti seu rosto em uma proximidade excessiva enquanto ele argumentava: — Goiânia é uma cidade bem maior do que Palmas.
— O que tem?
— É mais oportunidade de emprego.
— Amor, a gente já falou sobre isso. — relembrei, pontualmente. Percebendo se semblante insatisfeito, voltei a dizer: — Eu vou ser efetivada ano que vem...
— Eu sei. — Henrique me interrompeu, não necessariamente rude, mas definitivamente soando insatisfeito. — Eu só acho que...
Quando ele se interrompeu, ergui o olhar a ele, curiosa para saber o que Henrique pretendia dizer. Ele tinha o olhar perdido, como se seus pensamentos estivessem o consumindo tanto que ele tinha apenas se desligado do momento.
— Só acha que... — incentivei ele a continuar, ansiando a sua resposta.
Sim, eu era irredutível à ideia e aquilo não estava em questão, no entanto, eu estava curiosa para ouvir os argumentos de Henrique.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
RomanceUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...