‧₊˚ um.

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Henrique.

Goiânia, GO.

Fevereiro de 2012.

— O que você achou? — a pergunta de Junim foi feita diretamente a Ricardo.

— Olha, se vocês querem que eu seja honesto... — imediatamente assenti, com vontade de me queixar da pausa dramática, mas Ricardo logo seguiu: — É um valor relativamente baixo 'pra' investimento, o que significa que vocês vão ter que colocar muito esforço para fazer isso dar certo. Menos dinheiro, mais trabalho. Mas, em contrapartida, o contrato em si não é ruim.

Era uma noite de quarta-feira. Após muitas idas e vindas a Goiânia, reuniões com a equipe do escritório e jantares informais com Wander, eles finalmente tinham uma proposta de contrato para nós — fruto do trabalho que estávamos fazendo no norte de Goiás, que, porventura, começava a trilhar nosso caminho até a capital.

— O que isso quer dizer, exatamente? — questionei Ricardo.

Nós estávamos em um bar no centro da cidade. Eu vestia bermuda e chinelo de dedo, assim como Junim. Tudo era informal para ser denominado como uma reunião de trabalho, mas aquela era a finalidade daquele encontro; discutir com nosso advogado, e amigo próximo, as possibilidades dentro daquele contrato. Meu objetivo era manter os pés no chão e ser firme, mas dentro da nossa visão de futuro.

— Vocês têm liberdade sobre o que vai ser trabalhado. Não totalmente, é claro... — ele acrescentou rapidamente. — ...mas é uma liberdade maior do que normalmente esse tipo de contrato permite. Se vocês querem ter esse espaço dentro de um escritório, esse talvez seja o melhor contrato que vocês podem encontrar.

— Você acha que a gente deveria aceitar. — conclui aquilo que Ricardo tentava dizer, informalmente.

Deixei de tocar a cadeira do meu irmão, com o braço estendido pelo assento, para me curvar a frente e alcançar meu copo. Aquela era uma noite quente e sentar daquela forma, na calçada do lugar, era uma forma de encontrar uma brisa um pouco mais amena naquele clima abafado de verão em Goiânia.

— Eu acho que é bom contrato. — ele corrigiu, me observando em particular. — Eu sei que qualquer um quer ter controle sobre seu próprio trabalho. Vocês não querem cantar qualquer coisa, eu sei disso.

— A gente já tem um bom repertório. — Junim relembrou. Eu assenti, em concordância com o meu irmão. — Lançamos aquele CD independente ano passado e tem algumas músicas ali que a gente pretende manter em um novo trabalho. Elas são boas 'pra' gente desperdiçar, principalmente considerando que esse trabalho não rodou muito.

Se esse CD acontecer. — resmunguei baixinho.

Não que em algum momento ao longo daquele ano que havia se passado eu tenha passado a desacreditar de nós. No entanto, muita coisa havia acontecido dentro daquele período para que eu desacreditasse da possibilidade daquele contrato. Eu sabia que eles poderiam voltar atrás a qualquer momento e que nós poderíamos ter que aceitar a situação de mãos atadas. Por isso, eu queria ser tão firme, para evitar a possibilidade de grandes decepções.

— É como eu 'tô' dizendo 'pra' vocês, o plano deles é começar uma divulgação desse material que vocês tem pronto 'pra' então preparar terreno 'pra' um DVD, ou talvez um CD promocional, talvez lá por novembro, dezembro... — Ricardo talvez tenha percebido minha expressão, porque insistiu em afirmar: — Olha, eu sei que parece muito tempo, mas vocês já esperaram demais por isso. Um pouco mais de paciência, junto de um contrato e um bom repertório, como vocês mesmos disseram, pode ser o caminho certo. Não existe fórmula 'pro' sucesso, vocês com certeza sabem melhor que eu, mas eu, como amigo agora e não advogado, acho que com uma oportunidade dessas, vocês podem chegar longe. Vocês já chegaram longe assim, sozinhos.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora