‧₊˚ seis.

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Henrique.

Ô doido! — quando Emil chamou por mim, foi difícil não me atentar a ele. Não quando Emil tinha a capacidade de ser tão discreto, mesmo a distância — sua voz ressoou com certa intensidade, e o silêncio no lobby do hotel intensificou a proporção do gesto.

Eu estava conferindo a minha reserva no hotel, em Floripa, no final da manhã daquele sábado, questionando a recepcionista sobre o porquê meu nome não constava na lista de reservas. O fotógrafo da dupla se aproximou rindo, acompanhado de Guilherme, músico da banda. O clima predominante era de uma leveza intensa, que apenas foi interrompido quando arqueei as sobrancelhas em questionamento. Emil, percebendo o gesto, se encarregou de responder:

— Não dorme agora não que daqui a uns vinte minutos, no máximo, tem uma surpresa chegando pra você.

O quê?

Eu, genuinamente, não conseguia compreender o teor daquela menção. De início, achei que pudesse ser uma brincadeira, ou apenas uma piada que eu havia deixado passar, mas, à medida que Emil se aproximou e o sorriso se manteve, apesar do riso ter cessado, eu compreendi que não fazia ideia ao que ele podeira estar se referindo. Sua expressão passou de uma brincadeira casual para uma seriedade comum. Definitivamente não se tratava de uma piada.

— Do que cê tá falando, doido? — percebendo que não seria fácil contorná-lo, repeti a pergunta. Emil se debruçou sobre o balcão e pediu a recepcionista a chave. Incomodado com a ausência de uma resposta, questionei a ele: — Não vai me responder não?

— Eu vou deixar você descobrir sozinho. Te garanto: vai ser mais divertido.

Com a chave em mãos, Emil me deu as costas e caminhou até o elevador na companhia de Guilherme. Ele não pareceu minimamente interessado em me dar respostas — e aquilo me intrigou de uma maneira intensa.

— O gerente permitiu eu liberar o seu acesso — voltei minha atenção a recepcionista quando ela acrescentou. À minha frente, ela segurava a chave de acesso ao quarto. Agradeci a ela, pedi desculpas pelo inconveniente e disse que minha assessora resolveria mais tarde. Insatisfeito, reuni o que ainda me restava de coragem e subi até meu quarto

Se Emil não me diria o motivo, então eu não iria me atentar a nada; fui direito para o banho, com os pensamentos fixamente presos à ideia de dormir logo após. Meu corpo estava cansado, a cabeça sobrecarregada em excesso, e eu sabia que após um banho morno, não iria rejeitar a ideia de um bom sono.

Deixei o banheiro trajando apenas cueca, fazendo uso da toalha para secar o cabelo. O ar-condicionado já estava na temperatura adequada, as janelas fechadas, e a cama perfeitamente desfeita. Tudo aquilo era um convite para um sono extenso e bem-dormido — até baterem à porta.

Olhando para meu corpo exposto, com o peito inteiramente nu, eu considerei não atender. Minha mala estava intacta no canto do quarto, e eu pretendia deixá-la ali até a hora de sair para o show. Mas então eu me recordei da menção de Emil e, ainda desencorajado a vestir uma roupa, questionei, parado há pouca distância da porta:

Quem é?

Eu não obtive resposta. Suspirei, prevendo que a minha curiosidade me motivaria a descobrir, e joguei a toalha sobre as minhas costas, na tentativa de camuflar a ausência de roupa. Abri a porta aos poucos e, parado atrás dela, privei com que a pessoa em questão tivesse em vista a imagem do meu corpo. Mas, aos poucos, a imagem de Gabrieli foi se tornando nítida, enquanto ela afirmava:

Surpresa!

Seu tom de voz havia ficado em uma espécie de limbo entre um grito entusiasmado e a falta de coragem em dizer. Eu arqueei a sobrancelha, com sérias dúvidas do porquê ela estava ali, mas não precisei questionar, porque Gabi se encarregou de me dirigir um questionamento primeiro:

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora