‧₊˚ vinte e um.

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Henrique.

Eu deveria estar me concentrando ao que Lucas, da equipe de marketing do escritório, dizia. Eu sabia que era algo importante — extremamente importante — ou ele não estaria abordando o assunto em uma reunião, mas, eu preferi não fazer. Não, não que fosse proposital, porque o assunto me causava tédio, ou absolutamente nada do tipo, eu apenas não conseguia me concentrar sobre nada depois de quase duas horas de reunião.

O DVD estaria acontecendo em quatro meses a partir dali. Não era pouco tempo, mas nós precisávamos otimizar o que fosse possível. E, enquanto detalhes eram expostos e discutidos naquela reunião, em teoria sendo validados por mim e pelo meu irmão, minha mente só conseguia pensar nela.

Faziam nove dias desde que eu havia esbarrado com Gabrieli do lado de fora daquela boate. Oito dias desde que eu tinha me despedido dela na porta da minha casa, pouco antes de entrar em um ônibus para continuar a agenda de shows. E, sim, era pouco tempo, mas a saudade estava me corroendo de maneira intensa. Aquelas poucas horas juntos naquele dia não foram suficientes para compensar todo o tempo longe. Gabi insistia em dizer que nada seria suficiente para compensar a distância e o tempo, mas eu sabia que se eu tivesse a oportunidade de ter passado ao menos mais um dia com ela, esse sentimento não seria tão intenso.

É claro, nós nos falávamos todos os dias, através de ligações e mensagens de texto, em qualquer brecha possível. Às vezes eu estava no volante, às vezes Gabi estava jogando videogame com Pedro e colocava a ligação no viva voz. Nada daquilo fazia diferença, contanto que nós estivéssemos juntos. Ela até havia mencionado na noite anterior que talvez todas aquelas chamadas ficariam caras no final do mês, mas eu assegurei que estava tudo bem. Eu podia arcar com os custos daquelas ligações.

Sinceramente, ainda que tudo aquilo estivesse sendo construído apenas a partir de chamadas e ligações, há muito tempo eu não me sentia daquela forma, mesmo antes do término. Enquanto todos tentavam me alertar, alegando que aquela empolgação era coisa momentânea e as chances de ser apenas algo temporário eram grandes, eu não me importava. Eu sabia que as coisas estavam diferentes, que havia mais compreensão de ambos os lados. Para mim, era a única questão na nossa relação. O único ponto que nos levou a um término meses antes.

— Henrique?

Quando meu nome surgiu, eu primeiro me assustei. Ergui o olhar, confuso, e percebi que todos à minha volta me encaravam. Foi apenas que eu não podia continuar ignorando qualquer que fosse o assunto — porque as pessoas esperavam uma resposta de mim.

Sim?

Dispersei os meus pensamentos para me concentrar ao meu redor. Lucas, à minha frente, parecia estar à espera de uma resposta. Eu não tive como sustentar a postura. Relaxei os ombros e me dei por vencido, questionando:

— O que vocês estavam falando?

Tive receio de talvez ser taxado como anti profissional, mas as risadas baixas e dispersas no ambiente — inclusive a de Lucas — me tranquilizaram. Pude sorrir em resposta, enquanto esperava por ele dizer:

— Nós fechamos o local — Fernanda, ao lado de Lucas, tratou de mencionar. De imediato, parti à procura de Junim, que me observava com um entusiasmo latente. Foi difícil me conter e manter a postura enquanto Fernanda dizia: — Como a gente já tinha conversado antes...

— O centro cultural — sibilei. Fernanda sorriu em afirmação.

— Exato. A gente fechou os detalhes ontem, mas o Wander achou que fosse melhor guardar para dar essa notícia pessoalmente.

— A gente já estaria aqui hoje, de qualquer jeito — da ponta da mesa, Wander se levantou para se justificar. — É uma notícia que eu não acho que seja possível de ser dada pelo telefone. Eu sei o quanto vocês estavam esperando por isso e vocês sabem que tudo isso é fruto da persistência de vocês.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora