‧₊˚ vinte e sete.

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Gabrieli.

O meu estômago não estava tornando minha vida exatamente fácil naquela manhã. Antes de eu sair de casa, Priscila me deu um comprimido de omeprazol e disse que eu iria melhorar em questão de minutos, claramente se empenhando ao máximo para que eu não me sentisse ainda mais nervosa — ela havia se esforçado, era inegável. A questão era: a dor de estômago não era nada que eu tivesse comido, ou então a minha própria gastrite; era o cúmulo do nervosismo ao qual eu havia chegado e nada seria capaz de dissipá-la.

Duas semanas após a gravação do DVD, o momento mais importante da minha vida estava diante de mim. Eu tentei seguir todas as recomendações da minha orientadora: finalizar o trabalho com antecedência para usar o tempo livre para treinar a apresentação, não virar noites finalizando o trabalho porque não renderia o tanto que eu imaginaria, mesmo que me faltasse tempo, e ter uma noite descontraída antes da manhã da apresentação. Priscila até se empenhou no último critério, me levando para o cinema, assistir um péssimo filme de terror e, curiosamente, havia funcionado como distração.

As dez da manhã, pontualmente, naquela manhã de sexta-feira, eu sorri para a banca avaliadora e dei início a apresentação do meu TCC, que durou exatos quinze minutos Me esforcei para manter a compostura e recebi sorrisos, aparentemente, sinceros em um primeiro momento. Aquilo me reconfortou, em partes, até que eu tivesse terminado a apresentação. As expressões de satisfação ficaram gravadas na minha memória; pareciam ser um ótimo indicativo.

Cerca de dez minutos depois, eu fui contemplada com a nota: um esplêndido 100 que me fez ter vontade de abraçar toda a banca avaliadora, embora eu tenha me contido. Quando eu deixei a sala, foi exibindo um sorriso sem conseguir ser capaz de me conter. Eu arrisco dizer que, a qualquer um que me perguntasse naquela manhã, a minha resposta seria mesma: eu acabei de tirar nota máxima no TCC — mesmo que eu sequer conhecesse a pessoa.

Da sala, caminhei até a saída sobre o extremo do campus, onde eu havia combinado de encontrar a minha família logo após. Eles haviam vindo de Paraíso para me levar almoçar e passar o restante do dia comigo — fosse me consolando por uma péssima nota, ou comemorando, como seria o caso.

— Bi! — Pedro foi o primeiro a me cumprimentar, há dezenas de passos de distância.

Eu só tive tempo de reparar que meu irmão havia cortado o cabelo antes que seus braços me envolvessem de uma maneira consideravelmente forte para a idade. Pedro me manteve presa ali, abraçado a minha cintura, enquanto eu observava a reação dos meus pais, há uma curta distância. Eles estavam se divertindo com a minha reação e eu calculando quanto tempo restava até perder o ar. Pedro estava mais forte do que eu conseguia me lembrar.

— Eu também senti saudade, pirralho.

— E aí, filha? Como foi? — meu pai se atreveu a perguntar conforme eu caminhava na direção deles, ainda com Pedro atrelado ao meu próprio corpo.

— Eu tô aprovada — surpreendentemente, minha voz não se sobressaiu. Eu esperava uma exclamação empolgada, mas fiquei no meio do caminho entre uma exclamação e meu tom de voz casual. — Com nota máxima!

É claro que nada daquilo impediu meu pai de se antecipar e também me envolver em um abraço. Ele sussurrou sobre o meu ouvido, mais de uma vez, o quanto sentia orgulho de mim e o quanto estava feliz por me ver tendo minhas primeiras conquistas.

Minha mãe foi a última pessoa a me abraçar e, apesar de toda a seriedade com a qual ela costumava tratar — quase — toda situação, ela deixou de lado a postura comum e se deixou ficar emotiva durante alguns poucos segundos.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora