‧₊˚ quatorze.

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Gabrieli.

Aquelas duas semanas sem Henrique rapidamente se transformaram em três. Ainda que, por muito tempo, eu tenha acreditado que os dias sem ele seriam tristes e extensos, não foi o sentimento predominante ao longo daquela semana. Meus pensamentos não se dispersaram com tanta facilidade, me fazendo fugir de coisas do dia a dia para pensar sobre o meu relacionamento, unicamente porque o período de provas na faculdade me consumiu de uma maneira exaustiva. Mesmo em casa, sozinha, livre de qualquer resquício de barulho e interação humana, todo e qualquer minuto de tempo livre acabava se tornando momento de estudo; logo, o'único (breve) momento do dia em que eu me permitia ter tempo para pensar sobre ele, ao longo de um dia inteiro, era logo antes de dormir.

Eu perdi o sono, sim, algumas vezes, ao longo daquela semana 一 com mais facilidade do que eu esperava. Confesso ter entrado mais vezes do que gostaria no facebook, à procura de qualquer foto ou resquício que pudesse comprovar que Henrique estava ficando com outras mulheres 一 como se ele fosse ser burro ao ponto de expor. Não que eu estivesse desacreditada do que Mohana havia me dito, mas, de alguma forma, eu sabia que apenas algo concreto seria o suficiente para me fazer desistir da ideia de que nós ainda podíamos ter uma chance. E eu precisava desistir da ideia, pelo bem da minha própria saúde.

É claro que eu não encontrei nada. Aquilo não necessariamente queria dizer que Henrique não estava por aí, flertando e transando do jeito como melhor convinha a ele, mas de alguma forma me protegeu machucasse ainda mais 一 até aquela noite em particular.

Com a semana de provas chegando ao fim, Matheus sugeriu que saíssemos para beber em comemoração àquela semana atarefada. Eu, não necessariamente contente com a ideia de ir a um bar, sugeri então que a gente comprasse bebidas variadas e passássemos a noite em casa, comendo petiscos e aproveitando o momento juntos 一 eu, Matheus e Natália.

Era daquela forma como a nossa noite de sábado estava se projetando; nós três no sofá do meu apartamento, com a televisão ligada em um canal qualquer, servindo apenas de trilha sonora para o embalo da nossa conversa. Eles se esforçavam para desviar de qualquer menção ao meu relacionamento, o que não era excepcionalmente difícil, quando Natália mencionava com empolgação os planos para o final de semana seguinte. Ela estava muito contente com uma festa promovida pelas atléticas da faculdade e queria nos convencer a ir 一 embora, apesar de todo o seu esforço, eu insistisse em negar todas as vezes.

Já se aproximava das nove quando Natália se levantou para ir à cozinha, dizendo que precisava reabastecer seu copo e, enquanto virava a garrafa de energético sobre o copo, apoiado sobre o balcão, mencionou para nós:

一 Onde 'tá' a Mohana, afinal? Pensei que ela viria.

Eu troquei olhares com Matheus, mas era óbvio que se eu não sabia sobre a presença da minha concunhada, ninguém mais ali saberia.

一 Você não chamou ela? 一 o questionamento partiu do meu amigo, que estava sentado ao meu lado no sofá, há uma distância curta de mim.

一 Chamei, mas ela disse que tinha umas coisas 'pra' fazer e ia ver se conseguia passar aqui, então... 一 após repousar o copo sobre a mesa de centro, voltei a me apoiar contra o encosto do sofá. 一 ...aparentemente não rolou.

一 Liga 'pra' ela! 一 a sugestão partiu de Natália. Voltei a repousar meu olhar sobre ela enquanto ela me dizia: 一 'Cê' sabe que ela vai ficar chateada com a gente se souber que perdeu a reuniãozinha.

一 É, senão pode ficar parecendo que a gente não teve intenção de chamar ela. 一 Matheus concordou.

Ponderei, balançando a cabeça. Talvez eles tivessem razão. E, por mais que estivesse difícil manter o contato com Mohana ao longo daquele último mês, talvez ela fosse exatamente a pessoa com quem eu precisava conversar naquele momento. A única pessoa que seria capaz de me dizer exatamente o que eu precisava ouvir, ainda que eu não estivesse disposta.

(Im)perfeitos | Ricelly HenriqueOnde histórias criam vida. Descubra agora