Gabrieli.
— Você poderia parar de rir, por gentileza?
A sugestão de Henrique desencadeou uma reação natural e mim e, a risada que antes era sutil e discreta se intensificou.
A maneira como Henrique carregava o bebê conforto era como a síntese de todo o receio que ele sentia. Carregar Maria não soava como uma tarefa fácil, ainda que aquelas muitas camadas de estofado fizessem o objeto parecer minimamente confortável. Talvez fosse questão de prática, mas até Henrique se sentir seguro, ele continuaria andando engessado, eu automaticamente deduzi.
— Amor, você não pode estar falando sério.
— Eu tô carregando um bebê! — Ele relembrou ao passar pela porta. Sinceramente, eu apenas soube rir. — Você quer ver como isso é difícil?
— Desculpa, amor. — Pedi assim que ele passou por mim.
— Não. — Henrique retrucou. Quando achei que ele recuaria, ele avançou até que seus lábios estivessem sobrepostos aos meus. Eu ri em meio ao gesto e, de repente, todo aquele receio de horas antes havia se esvaído.
Logo que ele se afastou, terminou de adentrar a sala enquanto eu me encarregava de fechar a porta. Henrique ainda usava a cesárea como uma desculpa para recusar qualquer tentativa minha de fazer esforço, por menor que fosse, por isso ele não hesitou em carregar Maria, mesmo que tivesse medo.
— Finalmente. — Escutei ele dizer e o encontrei a tempo de vê-lo colocar o bebê conforto no sofá.
Maria dormia graciosamente, como se nada estivesse acontecendo. Ela estava acordada quando retornamos ao hospital, mas dormiu a caminho de casa, no conforto do carro. Vê-la tão tranquila daquela maneira despertava um sentimento muito bom em mim. Ela genuinamente parecia em paz.
— Ela é perfeita, não é? — Ouvi a pergunta partir de Henrique. Maria tinha os dedos envolvidos na mão do pai, como se ela não tivesse a intenção de que ele recuasse. Ela era pequena, mas, de fato, era perfeita. E a ideia de vê-la em casa pela primeira vez, tão segura a ponto de não acordar, despertou em mim a vontade de chorar.
— Ela é.
Meu suspiro intenso foi interrompido por um soluço discreto. Percebi que o gesto atraiu a atenção de Henrique, mas ele demonstrou certa relutância em se afastar de Maria. Sorri, como se estivesse tentando dizer a ele que eu estava segura, mas ele não se convenceu.
— Amor... — Quando Henrique chamou por mim, desviei o rosto na tentativa de evitá-lo, mas minha tentativa não foi bem-sucedida.
— Eu só estou emotiva. — Justifiquei. De fato, a ideia parecia simples naquele momento.
— Nós dois estamos.
Senti o toque de Henrique sobre o meu braço e foi o que me fez ceder. Ele me acolheu em um abraço caloroso, permitindo que eu afundasse a cabeça contra o seu peito enquanto seus braços me envolviam na altura da minha cintura. Eu chorei, mas não foi um choro denso, não naquele momento. As carícias de Henrique eram uma tentativa contida de me proporcionar conforto, e foi bastante para que meu choro se dispersasse tranquilo, porque eu sabia que não tinha nenhum motivo para me sentir insegura — apenas aliviada.
— Nós vamos ficar bem agora. — Ele declarou, e eu constatei com obviedade:
— É claro que vamos. Com ela aqui, nós estamos completos.
Henrique quis avançar; sua mão se estendeu ao meu rosto, e a proximidade entre nós começou a se tornar escassa. Quando ele firmou sua pretensão de se aproximar, com sua respiração densa tocando meu rosto, o choro de Maria nos impediu.
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(Im)perfeitos | Ricelly Henrique
RomanceUm romance de conto de fadas não era nada do que Gabrieli esperava. Príncipes estavam para ela tanto quanto sapatos de cristais e carruagens que se transformam em abóboras: meros conceitos de filmes da Disney. Ironicamente, foi exatamente o que ela...