Capítulo 5

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Morro do vidigal - RJ
Segunda 22:49pm

RD narrando

Até que fim essa merda acabou.

Olhei em volta e não dava pra explicar o alívio que eu tava sentindo. Porque namoral, não dá pra negar o tanto que a experiência de ter ido até o inferno e voltado foi fudida pra mim. Nesses dois anos e meio eu só pensava se morrer não teria sido mais fácil, mas aí eu lembrava de quem tá me esperando quando eu voltar e a razão firmava de novo.

Essa merda deixou muita bagunça e cicatrizes em mim, a menor delas foi a do peito, porque depois que cicatrizou ficou suave. Mas a mente é um bagulho doido, eu fiquei tão perturbado que até esqueci quem sou de verdade. O tempo todo eu pensei que não aguentaria nem um ano, depois duvidei se aguentaria dois, e agora me vendo aqui, vivo, com uma vingança realizada e sem saber como voltar pra casa, chega até ser engraçado.

Engraçado e desesperador.

Olhei pra cromada na minha mão e o medo bateu forte. Até agora eu não consegui pensar em como vou contar a verdade pra elas, porque eu não sei se elas vão me odiar muito ou se vão morrer de infarto quando me verem de novo. Não sei se elas vão me abraçar ou me descer na porrada. E pior, não sei se elas vão compreender o motivo disso tudo e acreditar que foi pesado pra mim também.

Gavião: papo reto, o muleque fugiu - olhei pra ele e joguei o cigarro fora.

- como?

Gavião: saiu por cima e caiu na mata.

- o marreta tava lá em cima fazendo o que? Dando o rabo? - fechei a cara.

Gavião: sei não chefe.

Chefe...

Tá aí a posição que eu nunca quis ser e fui obrigado à abraçar nos últimos anos. Admito que eu até tava curtindo, mas toda hora alguém me lembra do porque eu odeio essa merda... É uma responsabilidade fudida de ter que se preocupar comigo e com os outros. E eu odeio isso.

- junta com aquela tropa de bosta dele e acha esse filho da puta.

Gavião: pode pá, o Afeganistão já tá no encalço. Se o muleque ligar o telefone já era.

- beleza.

Gavião: os cu azul vão subir que horas? Temos que organizar geral, se não fudeu.

- marcaí

Peguei meu celular no bolso e liguei pro polícial mais filho da puta desse rio de janeiro.

Ligação off

André: meu bandido preferido, como tu tá?

- poucas ideias André, solta a voz logo.

André: qual teu preço?

- 10 mil.

André: caralho RD, tu tá ruinzão de negócio pô. Sobe essa porra aí.

- e pegar ou largar vagabundo.

André: pra mim não dá parceiro, foi mal aí.

Filho da puta.

- suave, eu já imaginava - ri irônico - a gente se vê no jornal então sangue bom. Tu não é mais útil pra mim.

André: qual foi? Vai vim de ameaça?

- uai, nosso acordo num era esse? O bagulho era bom quando tava legal para os dois. Se não tá pra mim e nem pra você, bota pra fuder então.

André: pô RD, você já foi melhor de negócio cara - riu de nervoso.

Duas Vidas - 1 e 2 Parte (REVISANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora