Capítulo 4

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Laura narrando

Eu amo viajar na mesma proporção que odeio. Amo conhecer lugares, pessoas e comidas, mas depois que eu fiquei um pouco mais famosa, as coisas mais simples se tornaram quase impossíveis. Não é uma reclamação, mas sinto falta de fazer coisas bobas e normais.

Jorge: tá pensando em que? - sentou na poltrona do lado.

- queria ter ido naqueles pontos turísticos que eu te falei, eu tenho um carinho especial por gramado.

Jorge: você já foi lá?

- já, por isso eu queria ir de novo - sorri sem mostrar os dentes - mas tudo bem, os shows foram ótimos e é isso que importa.

Jorge: será? - olhei pra ele - não tô dizendo pra você agir que nem uma criança mimada, mas tudo bem se você ficar chateada por algo que você queria e não conseguiu.

- não entendi.

Jorge: Ah laurinha, eu já estava querendo conversar com você sobre isso, mas preferi respeitar o seu tempo... - continuei sem entender - você trancou seus sentimentos de uma forma tão profunda que não permite nem se sentir frustada, isso não é bom meu bem.

- isso por acaso é uma sessão grátis de terapia? - ri irônica e ele permaneceu sério - se for eu agradeço, mas não vai rolar.

Jorge: acho que o que aconteceu te machucou mais do que nós imaginamos...

- não quero falar sobre isso Jorge - repreendi e voltei a olhar para a janela do avião - não importa o que aconteceu, agora eu sou assim e pronto.

Jorge: tudo bem, mas quando você estiver se sentindo confortável para conversar, saiba que estou aqui. Ainda tenho esperança de você voltar a ser aquela menina doce e alegre.

Que coisa chata.

- olha... - olhei pra ele de novo - eu não quero ser grossa com você, então acho melhor pararmos por aqui.

Coloquei meus fones de ouvido e fechei os olhos.

Eu sei exatamente o tamanho do buraco que estou e sei que não sou mais aquela mulher de antes. Mas infelizmente não tem nada que eu possa fazer pra melhor isso, esse sentimento de merda me engoliu e eu nem sei se quero lutar pra sair.

Ou talvez eu queira, mas não consigo.

Chegamos em BH e todo mundo começou a se despedir enquanto eu tentava pedir um Uber.

Jorge: tô indo pra casa da sua mãe, quer uma carona?

- não, valeu.

Jorge: Laura...

- não tô com raiva, relaxa - tentei sorri simpática - só vou passar em casa primeiro e depois buscar o Felipe.

Jorge: então beleza - me deu um beijo na lateral da cabeça - te encontro lá.

- tá bom.

Fui de Uber até em casa e quando abrir a porta tomei um susto.

- Que merda e essa Carolina? - Ela olhou por baixo das pernas e sorriu.

Carol: Pilates - deu pause na televisão e sentou no chão de pernas cruzadas - tô tentando ser mais saudável, tô engordando demais.

- e precisa ficar com essa raba gigante virada pra porta?

Carol: a parte que eu falei que tô engordando você não ouviu né? - comecei a rir e sentei no sofá.

- você não tá gorda amiga, você está gostosa.

Duas Vidas - 1 e 2 Parte (REVISANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora