Revisado até aqui
Laura narrando
O caminho para a casa foi em um completo silêncio constrangedor.
Eu não sabia o que pensar e nem o que estava acontecendo. Aquela pessoa que vi hoje nunca que era o meu melhor amigo. O Mateus que eu conheço tem seus problemas de raiva, mas ele nunca segurou um arma ou tem amizade com bandidos assim. Eu não sei quem era aquele e nem quais perguntas eu tenho que fazer para tentar entender tudo isso, mas com certeza essa versão dele me dá medo.
Olhei para o homem no banco do motorista e ele não expressava nenhum sentimento, como sempre, mas seu braço apoiado na janela e a mão parada perto da boca dava para saber que ele estava pensativo e provavelmente nervoso.
- quero ir para a minha casa, por favor - pedi quebrando o silêncio, mas ele não respondeu.
Voltei a olhar pela janela e por um momento me deixei relembrar cada cena daquele baile. Confesso que adorei a muvuca de pessoas, a maioria era divertida, brincalhona e sorridentes, até me surpreendi no tanto que as pessoas das comunidades tem um jeito único de ser gentis. Por conhecer apenas por fora, a gente acaba carregando um preconceito social referente a eles, mas durante grande parte do tempo eu fui surpreendida e amei praticamente tudo, menos o chefe do morro e toda a confusão.
E que confusão...
O Mateus ignorou totalmente o que eu pedi e me trouxe para a casa dele, quando chegamos notei que um carro preto parou logo atrás da gente. Descemos juntos e ele foi até o vidro do motorista para falar alguma coisa com ele, provavelmente um agradecimento, depois entrou para dentro de casa sem ao menos olhar para trás. Encarei a Andressa que estava descendo do lado do passageiro e o olhar dela estava distante, como se lamentase algo, mas logo ela desviou e entrou também. Depois eu entrei, e atrás de mim o Vitor e a Laís.
Passei pela porta da sala e meu olhar foi direto no Mateus, se é que posso chama-lo assim. Ele estava sentando no sofá, com a cabeça jogada para trás, os olhos fechados e os ombros em um tom de derrota e cansaço. Pela sua forma de respirar eu sabia que ele estava nervoso, mas não cabe a mim resolver isso agora.
Lais: Pronto, agora a palhaçada acabou! - disse com raiva jogando a bolsa no outro sofá e parando de frente a ele - que porra é essa de minha mulher? Tu tá ficando louco, Ricardo?
Ele permaneceu em silêncio.
Lais: estou falando contigo, caramba! Não paga de sonso - deu uns tapas na perna dele para ver se o mesmo reagia, mas ele continuava da mesma forma - a Laura é sua mulher então? - ergui a cabeça na mesma hora.
- não me mete nisso louca, eu não sou mulher de ninguém.
Lais: não foi o que eu vi hoje - me encarou de volta. Se ela pudesse soltar fogo de algum lugar, ela soltaria nesse exato momento - aliás, não só eu, mas todos os aliados dele.
- pois eu também vi muita coisa que não entendi e nem por isso estou dando piti, então relaxa, tá legal?
Lais: eu relaxar? - apontou para si mesma e veio na minha direção - eu relaxaria metendo a mão na sua cara, sua songa. Tu adora pagar de boa samaritana né? - sorriu debochada, mas com raiva - vai ficar fazendo ceninha como se não tivesse entendido o que aconteceu? Me erra caralho, todo mundo viu que o RD te assumiu na frente da favela toda e ainda peitou o dono do morro por sua causa.
Ok, já entendi que RD é o Mateus, mas porque chamam ele assim?
E porque eu deveria contar vantagem dessa situação de merda?
Andressa: ela não sabe Laís - nós duas olhamos para a mulher em pé no canto e ela olhou diretamente para mim - ela não sabe sobre o RD, nem sobre mim e muito menos sobre você.
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Duas Vidas - 1 e 2 Parte (REVISANDO)
Novela JuvenilAté onde você iria para esconder o seu maior segredo da pessoa que você mais ama? Talvez criar outra vida seja uma boa opção. Afinal, você teria outra personalidade, outros princípios, outros valores e ninguém poderia te julgar por isso. Mas e se e...