Fred
Pensem num cara despojado. Que nunca está fora de uma boa festa, sempre conhece pelo menos um ou dois grupos em cada círculo social e sempre tem muita facilidade de desenvolver novas amizades e relações.
Fred é esse cara.
Por onde passava, Fred deixava alguma de suas marcas. Ou alguma amizade ou um suspiro apaixonado. O rapaz nunca saía de um lugar despercebido, sem ser notado. Seu melhor amigo era Otavio mas agora ele parecia viver mais pra namorada e os amigos dela que faziam parte do grupo de bolsistas da faculdade do que acompanhá-lo em suas empreitadas. Então, na maior parte atual de seu tempo, era ele por ele.
Por onde passava, Fred era visto ou como um grande imbecil, como aquele amigo que as pessoas procuram quando precisam de algo ou como o cara que sempre organizava as melhores festas e eventos.
Mas lá dentro, bem no fundo, Fred era um rapaz com um coração gigante e que só queria alguém desinteressado e que o levasse a sério. Mesmo que as vezes ele também não fizesse muito que facilite o pensamento das pessoas a pensarem diferente. Era um jovem com nuances e alguns complexos como qualquer outro. Seu término com Guiga, por quem fora apaixonado desde que se viu como gente praticamente, o tirou um pouco dos eixos. Dali por diante ele se afogou mais ainda em suas próprias loucuras. Não queria pensar naquilo e qualquer tempo livre em que ele pudesse ocupar com alguma de suas idéias era essencial.
Mas não era apenas isso que o atormentava. Quem dera. Fred também tinha alguns problemas com sua família.
Fred sempre teve um estilo de vida bem sucedido. A mãe era uma empresária positivamente conhecida, atuava no ramo dos cosméticos. O pai era um militar com patente bastante influente no exército e tinha seu irmão mais velho que o apoiava. Era o orgulho da família e agora ele também se tornaria pai. Na maioria das vezes, Fred era visto como um problema a parte que eles tinham de resolver. A mãe era sempre ocupada e o relacionamento com o pai não era dos melhores. No final, ele só podia contar com seu avô. Esse sim, Fred encontrava o apoio fraterno de que precisava. Seu Nicolau era tudo pra ele. Aconselhava, acalentava. Sempre tinha sido assim, desde que Fred era uma criança.
- E aí, vô... - Fred dizia, cabisbaixo. Sua última conversa com Guiga não havia sido muito boa.
- oi, rapaz - O avô fazia com dificuldade um gesto de soquinho, um cumprimento comum entre os jovens da atualidade. Principalmente entre os meninos. Nicolau percebeu que o neto não estava bem. Conhecia Fred de cima a baixo. Desde o último fio de cabelo até a ponta das unhas dos pés. Analisou bem o neto antes de tentar entrar em algum assunto. Por conhecê-lo tão bem também sabia que o garoto não iria falar tão fácil assim o que se passava. Fred nunca foi bom com desabafos, muito menos em expressar o que sente.- Então... como foi a aula hoje? - Nicolau perguntava: - aconteceu alguma coisa de importante na faculdade hoje?
- Tudo na mesma, seu Nicolau - Fred respondera. Nicolau sabia que teria que fazer um bom jogo de cintura se quisesse arrancar algo do neto. Não iria ser fácil: - hum... e essa cara aí de quem comeu e não gostou? Também inclui no pacote "tudo na mesma?" - enquanto entorna uma garrafa d'água gargalo à baixo, Fred fechava sua expressão. As palavras do avô o calaram num silêncio de quase um minuto. Mas sabia que não poderia mentir justo para a pessoa que mais o conhecia ali. Limpando a garganta, finalmente decide responder.- não da pra mentir pro senhor, né... - Fred respira fundo e se acomoda na poltrona ao lado do avô: - é a Guiga. Não sei qual o problema daquela garota, juro. Ainda vai me deixar maluco. - A relação de vocês sempre foi conturbada não é, filho? - o avô respondia. Fred precisava desbafar, precisava e queria ser ouvido. Mas ao mesmo tempo sentia um nó embargado na garganta. Era complicado: - só sei que tô querendo distância, vô. É melhor assim por enquanto, cada um no seu lugar - ele sinaliza um ponto final no assunto. Nicolau sabia que não iria conseguir arrancar mais nada, não naquele momento então só lhe resta se conformar. Fred dá um beijo na testa do avô e sobe pro quarto. Joga a mochila de qualquer jeito sob a cama e se acomoda na cadeira giratória de frente ao computador.
A verdade é que nem ele conseguia apagar sua conversa com Guiga. Mas estava decidido a esquecer. Precisava passar aquela fase, por um fim naquela história. Afinal, essa relação conturbada de incertezas entre eles se propaga desde a adolescência. E era algo que Fred precisava superar. E encontrou em tantas festas um certo tipo de apoio. Queria estar ocupado em qualquer tempo livre que tivesse. Mas sem Otávio, que além de melhor amigo era quase como um cúmplice, quem poderia acompanhá-lo em suas maluquices?
Três batidas na porta do quarto prenderam sua atenção.
- Oi! - Ele atendera.
- Filho, seu pai está aí - dizia o avô.Fred suspira. Seu relacionamento com o pai era um tanto complicado. Os dois não trocavam mais que cumprimentos de rotina como bom dia, tarde ou noite. Estava decidido a permanecer no quarto mas era quase impossível. Seu pai ja havia entrado.
- oi. - Miguel cumprimentava Fred de forma mais introspectiva e fechada possível. Sempre foi um homem de pouquíssimas palavras principalmente quando o assunto se tratava do filho mais novo. Ele sempre teve mais olhos e mais atento aos passos de Max, o filho mais velho. Que agora tambem seria pai. O orgulho da família.
- e aí... - Fred respondia, sem ânimo.
- como anda a faculdade? - ele perguntava. O que, para Fred, era estranho pois vindo principalmente do pai? Não era algo que ele costumava ter com muita frequência.- ah... tudo normal - ele responde.
- bom. - Miguel finalizava. Já havia tido interações o suficiente com Fred. Pra quê estender? Mas o rapaz achou que seria uma boa oportunidade de mencionar a festa na qual estava planejando. Não tinha tido tempo de lhe explicar.- pai, pô eu tava aqui pensando... queria reunir a galera aqui e montar uma socialzinha sabe? Coisa simples. Rola? - Ele pergunta com um certo tato. Sabia que o pai não era fácil de lidar, principalmente com ele. Miguel respira fundo, claramente irritado com a pergunta e devolve sem delongas:
- igual aquelas festinhas que você volta quase sempre bêbado e eu que tenho que largar o meu trabalho e te socorrer? Pode esquecer.
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Razões e Emoções (A #Freuri Fanfiction)
FanfictionUma história abordando uma realidade paralela a da novela "Vai Na Fé", de Rosane Svartman, exibida atualmente na rede globo. Centralizada na narrativa e pontos de vista dos personagens Fred e Yuri, também de autoria de Rosane Svartman. Sinopse: Fred...