Fred
- me fala, Fred. Por favor. Eu preciso ouvir pra poder seguir em frente. Você tem alguém? - A pergunta pega Fred novamente de surpresa. Mas diferente daquela primeira conversa, agora não havia mais porquê fugir ou negar aquela resposta até para ele mesmo. Reuniu a coragem que já havia começado a ter para enfrentar toda a situação que estava por vir e para ele, aquele seria o primeiro passo de muitos que ainda precisaria dar. Olhou Isabela bem fundo nos olhos e disse: - tá bom, Isa. Se isso vai te fazer desencanar e seguir adiante então... é. Eu tô sim gostando de uma pessoa aí. Na verdade eu tô muito apaixonado por ela. Me desculpa de novo se não consegui te corresponder como você gostaria mas...
- não, tudo bem. - Isabela interrompeu e Fred podia jurar que seu tom de voz estava um pouco embargado: - você não sabe o bem que me fez ouvir isso. De verdade, obrigada - sem mais delongas, a menina lhe dá um beijo no rosto e sai rapidamente mas antes se vira novamente e diz: - ah e... eu espero que você e essa pessoa dêem certo um com o outro. Vou torcer. - e saiu. Deixando Fred ali, sem jeito com o que acabara de acontecer mas logo na sequência ignorando. Precisava falar com Yuri. E já havia perdido tempo demais com aquilo tudo.Estava indo para a porta de seu carro quando uma visita ilustre e inesperada o pega de surpresa: - vô?! - diz vendo seu Nicolau caminhando em direção ao neto, um olhar de alívio e satisfação: - ah aí tá você meu garoto. Te procurei por tudo isso aqui. Na verdade não me lembrava que o ICAES era tão grande - o ancião dizia, admirando toda a instituição com um rápido olhar por toda ela: - na verdade eu decidi vir porque queria passar o dia com meu neto preferido. O que acha de darmos um passeio? - o olhar do rapaz se iluminou no mesmo instante. Cada tempo com o avô era precioso para ele. E no fundo acabou descobrindo que era disso que mais precisava no momento.
Fred e Nicolau caminhavam tranquilos por uma espécie de pracinha no bairro da Tijuca, onde seu Nicolau vivera praticamente sua vida inteira e as vezes voltava para visitar os amigos próximos. Queria que o neto conhecesse mais de sua origem humilde, porém, onde viveu a época mais feliz de toda sua vida.
- olha ali, olha - disse o ancião enquanto apontava para uma rua estreita: - ali era onde seu avô morou quando pequeno. Fui tão feliz e nem sabia disso. Bons tempos aqueles...
- e o senhor devia aprontar muito né, velho? - disse Fred, em tom de brincadeira. O que sempre dava certo pois arrancava boas risadas de seu avô: - ah seu avô nunca disse que era um santo. Aqui eu tive amigos, tive minhas namoradinhas e também...
- Nico?!Uma voz distante e que aparentemente correspondia ser de alguém com a mesma idade ou próxima de Nicolau chamou pelo idoso, que se virou rapidamente para olhar. De pé, estava um senhor de aproximadamente uns 78 anos de idade, com cabelos ralos porém um pouco desgrenhados numa franja meio bagunçada e levemente penteados. Usava um suéter vermelho e um óculos preto, daqueles antigos que os idosos costumavam utilizar para leitura e afins. Os olhos eram de um profundo verde água e havia uma expressão de emoção neles.
- Você é... Não...! - disse Nicolau, aparentemente se lembrando do "estranho" que o chamara: - Giovanne? Giovanne dos Menezes?? Aquele Giovanne que costumava brincar comigo?? - Fred observava a cena. Era como se de repente ambos os idosos esquecessem de sua presença ali por completo. E se não conhecesse bem seu avô poderia jurar que vira os olhos do ancião brilharem mais que a luz do sol logo que pôs os olhos no aparente amigo de infância: - meu deus, há quanto tempo não te vejo - diz novamente o tal Giovanne. O senhor logo avança devagar porém com ímpeto na direção de seu avô para um forte e caloroso abraço. Seu avô retribui o gesto e os dois permanecem ali por um bom tempo até que se separam para encararem um ao outro nos olhos: - puxa eu nem acredito. Você sumiu durante todos esses anos. Nunca mais nos vimos - disse Nicolau, ainda sob efeito da emoção forte: - ér... eu acabei me mudando durante muito tempo. Voltei faz uns dois meses e a primeira coisa que fiz foi procurá-lo mas disseram que você não morava mais aqui fazia um bom tempo então acabei desistindo. Nunca iria imaginar que poderia revê-lo de novo, puxa. - Giovanne dizia, eufórico. Fred apenas observava a cena com atenção. De repente, decidiu se afastar silenciosamente para deixar os velhos amigos um pouco mais à vontade para porem o papo de toda uma vida em dia. E deu certo. Seu avô e o outro idoso conversaram durante um bom tempo. Se sentaram em uma das mesinhas que tinha na praça e ali permaneceram. Fred apenas observava, com um sorriso caloroso e de felicidade lhe cortando os lábios. Amava demais seu avô e amava mais ainda vê-lo feliz como estava com o reencontro com o amigo.
Enquanto seu avô e seu Giovanne conversavam, Fred tentava novamente qualquer tipo de contato com Yuri. Lotara a caixa de mensagens do bolsista e tentou ligar mais de quarenta vezes. Ninguém atendia. Yuri o estava evitando novamente. E aquilo corroía o mais velho por dentro. Nem percebeu que duas horas já haviam se passado e que seu avô estava sentado ao seu lado no banco e pegara o neto de surpresa quando disse:
- Você gosta bastante desse menino não é, meu neto? - Fred quase deu um pulo do banco enquanto ouvira a pergunta do avô. Rapidamente tentou disfarçar. Se perguntou "será que ele leu tudo?". Nicolau observava o neto de cima a baixo: - olha, nunca vi você fazer tanta questão de alguém como faz desse rapazinho. Nem com suas namoradinhas foi assim. Nem com aquela menina... qual era mesmo o nome dela?
- Guilhermina? - Fred respondia, ainda com um nó de ansiedade e desespero na garganta: - isso! Nem com ela - Fred tentava rapidamente disfarçar: - e o seu amigo? Cadê ele? - Nicolau não era bobo. Percebeu de imediato o comportamento alarmado do neto mas preferiu responder sua pergunta: - foi embora. Disse que haviam umas coisas para resolver. Mas marcamos um café pra qualquer dia desses.Fred apenas assente com a cabeça para a informação. Nicolau continua percebendo o nervosismo do neto e logo pergunta: - mas... e seu amigo? Por que estava mandando tantas mensagens pra ele? Mensagens até carinhosas, por sinal - Fred engoliu em seco. "Caralho..." pensou. "Ele leu tudo". Não tinha mais como fugir. Não de seu avô: - Nada ue. Ih vô tá vivendo em que mundo? Hoje em dia amigos podem ser carinhosos um com o outro ue, nada demais.
- Nunca te vi fazer tanta questão e mandar tantas mensagens de afeto assim nem para o Otávio, Frederico - Nicolau despeja: - me conta, meu neto. Há dias venho te sentindo tenso. Aborrecido. Quero saber como você está. Quero poder te ajudar...Não havia mais saída. A única coisa que lhe restava era a tentativa de um voto de confiança em seu avô. Logo as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto instantaneamente. O medo, a insegurança, o desespero... tudo tomava conta naquele momento. "Ele vai me odiar mano" pensava. Achava que nunca que seu avô aceitaria aquilo. O próprio neto, que sempre fora o rei das meninas na escola e até hoje, apaixonado por um homem: - você tá gostando desse rapaz não é Fred? E repare que quando digo gostando é desse jeito mesmo que você está pensando - não tinha mais jeito. Fred olhava para o avô, os olhos completamente marejados pela dor, pelo medo e pela tristeza. Nicolau apenas abraçou o neto, surpreendendo-o até: - ah filho, isso é tão normal. Você está apaixonado. Isso acontece. Ninguém melhor que eu para lhe entender...
"Epa! Como assim?", o rapaz pensa.
Fred logo sai dos braços do avô para vê-lo. Sua expressão de suma dúvida. E Nicolau rapidamente entendeu seu olhar. Não precisou nem Fred formular uma pergunta direta para o ancião lhe dar uma resposta: - ér... eu sei exatamente o que você sente meu filho. E posso te dizer que é a coisa mais normal do mundo - Fred ouvira atentamente as palavras de seu avô até receber uma informação que iria fazer sua expressão ir de desespero à choque em meio segundo: - e o mínimo que eu posso e devo fazer é lhe entender. Até porquê já estive exatamente neste mesmo lugar. E sei bem como ele é.
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Razões e Emoções (A #Freuri Fanfiction)
FanficUma história abordando uma realidade paralela a da novela "Vai Na Fé", de Rosane Svartman, exibida atualmente na rede globo. Centralizada na narrativa e pontos de vista dos personagens Fred e Yuri, também de autoria de Rosane Svartman. Sinopse: Fred...