Capítulo 58

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  Após vários beijos e conversas finalmente Fred entrou em seu carro rumo à sua casa. Yuri, ainda sem fôlego com a intensidade do parceiro, entrara em casa praticamente sem ar quando ouve sua mãe quebrar o silêncio.

- Yuri... - Quitéria diz, sentada no seu sofá e aparentemente à espera do filho: - ...senta aqui, filho. Senta - ela dá tapinhas no estofado fazendo sinal para que o filho se junte a ela. Yuri conhecia bem a mãe. E a julgar pelo tom de voz dela e o momento que acabara de dividir com Fred, era batata: ela havia visto tudo. Sem sombra de dúvida. Mas não quis tirar conclusões e preferiu deixar a mãe começar a falar.

  Um silêncio breve, porém, sepulcral se instalou no ambiente. Mas dona Quitéria conhecia o filho dos pés a cabeça e sabia que, no fundo, ele já sabia que havia sido pego e do que a conversa se tratava.

- Yuri, eu sei que você sabe o que eu vi pela janela - Quitéria diz, em tom absolutamente sério e fechado. O rapaz sentiu sua respiração pesar e quase parar. "É agora", pensava. "Vou ser expulso de casa. Meus pais vão me odiar"...

- filho, alguma vez eu demonstrei ou fiz parecer que sou uma mãe da qual você não podia contar nada? - ela pergunta, sem deboche ou nenhum sentido de retórica nas palavras. Sua voz era sinceramente doce e tranquila: - alguma vez eu te fiz sentir que não poderia confiar em mim? Porque se sim, eu te peço desculpas. De verdade. Yuri, essa conversa não é para te dizer as coisas mais horríveis e preconceituosas do mundo se é assim que está pensando agora - o rapaz começa a relaxar e se sensibilizar aos poucos enquanto escuta a mãe falar: - filho, na igreja, a gente aprende a amar o próximo como a nós mesmos. E isso vale para tudo. As pessoas só não praticam muito esse mandamento mas eu sempre me atentei muito a esse versículo. Eu jamais, ouça bem Yuri, jamais te excomungaria ou te endemoniaria por causa alguma. Eu te amo meu filho. Do jeito que você é. Sempre te amei e sempre vou te amar e comigo você pode contar sempre. Como não iria te aceitar? E o seu sentimento por esse rapaz é puro e natural como qualquer outro. Nos poucos instantes em que vocês estiveram aqui eu pude perceber isso. Me perdoa se te fiz achar que iria te tratar feito um monstro, querido. Eu te amo demais - ela estende os braços para o filho que já se encontra perdido em lágrimas. Lágrimas de felicidade, lágrimas de conforto. De alívio e de tanto amor pela grande mulher que Quitéria sempre fora. Tão logo Yuri se aconchega nos braços da mãe e ali permanece: - eu te amo mãe - Ele diz: - eu também te amo, meu amor - os dois trocam as mais sinceras declarações fraternas, mãe e filho: - olha... - diz Quitéria, puxando o filho para olhá-lo nos olhos: - ...eu quero apenas que você seja feliz e que esse rapaz faça você feliz. E se for ele o motivo da sua felicidade meu amor, que assim seja - a mulher diz enquanto acaricia o rosto do filho e lhe dá um beijo terno em sua testa: - agora vai. Vai que seu namorado já disse que vai estar aqui cedo...
- mãe... - corrige Yuri rapidamente, o rosto corado: - ...ele não é meu namorado. A gente só tá indo com calma.
- ah mas eu quero muito que seja então. Gostei muito dele viu? Todo bonitão e ainda é simpático e agradável desse jeito? Pois tomara que venha a ser meu genro sim. - Yuri ri junto da mãe que lhe abraça novamente mas tão logo o jovem pergunta: - mas e o pai? Como vai ser? Sabe que não vai ser fácil né...
- ér, seu pai não é tão moderno ou aberto à essas coisas mas não é um homem ruim meu amor. Ele só não sabe como agir nessas situações nem o que dizer ou como se expressar. Só isso. Deixa que com ele eu vou conversar no melhor tempo, viu? Fica tranquilo e apenas vai fazer o que te disse que amanhã cedinho meu genro tá aí...
- MÃE... - Yuri diz novamente, encabulado. Quitéria ri e apenas diz: - tá bom, tá bom. Não tá mais aqui quem falou. Mas agora é serio filho, tá tarde. E eu só não quero que você se atrase no seu compromisso amanhã. Vai.

  Yuri não demora muito para escutar os conselhos da mãe. O dia seguinte seria longo e cheio de surpresas. Mal acreditava ainda em tudo o que estava lhe acontecendo. Estava cada vez mais envolvido e apaixonado por nada mais nada menos que o playboy que antes costumava ser o mais detestável de todo o ICAES. A ficha iria custar para cair.

  Apesar do nervosismo e da euforia que o dia anterior lhe proporcionou Yuri conseguira ter uma boa e tranquila noite de sono. Acordou até antes do horário na manhã de domingo. Eram exatamente seis da manhã quando despertou. O sol mal dava sinais por entre as nuvens. Tão logo se vestiu e arrumou todas as suas coisas rapidamente. Levaria apenas o necessário. Mas e se o necessário não fosse o suficiente? Eram tantos pensamentos. Resolveu fazer algo para agradar os pais. Na verdade considerava ser o mínimo perto de tudo o que faziam por ele.

  Quando dona Quitéria e seu Aloísio se levantaram, a mesa do café estava toda pronta. Yuri tirou pouco de um dinheiro que estava guardando e comprou algumas coisas que os pais gostavam: bolo de fubá fresquinho, biscoitos maizena, algumas frutas. Um café simples mas feito com muito amor e dedicação de um filho extremamente grato e muito amado.

- Você fez tudo isso filho? - diz seu Aloísio, surpreso. Yuri apenas confirma com a cabeça: - eu digo, a gente ganhou na loteria com um filho maravilhoso desse - seu Aloísio dissera, feliz com a surpresa preparada pelo jovem. Dona Quitéria apenas dera um beijo no rosto de Yuri e logo os três se sentaram, apreciando a doce e tranquila ternura de um momento em família.
  Não demorou muito para que Fred chegasse. Na verdade, o rapaz chegou bem antes da hora marcarda. Provavelmente a ansiedade também andou visitando o playboy aquela noite. Enquanto o mais velho pusera a mochila do bolsista na mala do carro dona Quitéria enchia o filho com cuidado e zelo de mãe.

- Ta levando escova de dente?
- to mãe
- fio dental?
- tá na nécessaire mãe.
- roupa de frio?
- relaxa, mãe. Tá tudo aqui.
- camisinha? - diz a mulher em um tom mais baixo para que Aloísio não ouça. Yuri logo se encabula por inteiro: - mãe! - diz o rapaz: - tá bem, tá bem. Já entendi. Se cuida meu filho. Assim que chegar lá avisa a mamãe. Não esquece.
- cuida do nosso garoto ouviu Fred? - diz seu Aloísio: - pode deixar, tio. O filho de vocês tá seguro comigo. - diz Fred, o olhar cheio de carinho e zelo desferido ao mais novo que sentia novamente seu rosto corando: - bom, é isso né? Vejo vocês daqui há três semanas. Te amo pai, te amo mãe.
- também te amamos, filho. Deus o abençoe - diz seu Aloísio ao filho enquanto o mesmo entra no carro de Fred. O mais velho dá um último abraço nos pais de Yuri e logo se acomoda no banco do motorista.

- deixa eu apertar aqui - diz Fred enquanto verifica se o cinto do mais novo está bem colocado: - Fred, pelo amor de Deus. Tenho quantos anos, treze? - O playboy ri enquanto diz: - é só cuidado, marrentinho. Apenas isso - o rapaz aperta seu cinto enquanto liga o veículo e se prepara para manobrá-lo: - preparado pras três semanas mais incríveis? - Yuri respira fundo e diz: - eu tenho escolha? - Fred o encara, um olhar maliciosamente sarcástico enquanto Yuri completa: - tô zuando. Vai ser maravilhoso sim - diz enquanto dá um beijo rápido em seu playboy que tão logo já ajeita o carro na pista e dá a partida rumo às tão sonhadas e esperadas férias dos dois.

Razões e Emoções (A #Freuri Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora