Capítulo 04

144 19 7
                                    

Fred

  Fred tentava engolir a seco as palavras do pai. As vezes se perguntava se Miguel o odiava. Desde que se viu por gente nunca teve um afeto do pai, uma outra reação que não fosse uma resposta atravessada ou uma desculpa do trabalho.

- ué, e por que? - decidiu questionar.
- porque eu não quero e fim de papo. Sua mãe pediu pra avisar que vai chegar mais tarde. Que não precisa esperar ela pra jantar...
- ainda tô esperando um motivo - Fred o interrompe. Durante um tempo tinha tentado fazer o possível para não contrariá-lo. Mas sua paciência havia chego a um certo limite com aquela situação.
- Porque você não vai lotar a minha casa de vagabundo desocupado igual você só pra encher a cara e incomodar vizinho com essas músicas irritantes. Tá bom esse motivo, Frederico? - Miguel era impaciente. Não adiantava. Nada iria fazê-lo mudar de ideia. Fred vê o pai bater a porta de seu quarto e sair bufando.

  Era inútil discutir. Só iria deixá-lo com mais raiva. Fred se jogou na cama e respirou fundo. Em seguida, seu avô entra no quarto a passos bem leves e moderados como só ele sabia dar.

- a conversa não foi muito boa... acertei? - pergunta.
- o que o senhor acha? - diz Fred. Mas ele já estava acostumado. Havia muito tempo em que se conformara que possivelmente nunca agradaria Miguel, não importava o quanto se esforçasse.

- seu pai é muito teimoso. Sempre foi turrão. Herdou da sua avó. Mas ele gosta de você e se preocupa, do jeito dele...
- ah corta essa, vô - Fred interrompe. Já estava cansado das conversas de auto-ajuda que tinham sobre sua relação com o pai. Ele simplesmente havia se cansado: - o cara passa o dia naquele inferno de trabalho, nem olha na minha cara direito. Só vem falar comigo quando é pra fazer pouco de mim e do que eu faço e ainda querem que eu acredite que ele gosta de mim?

- e o que te faz pensar que ele não gosta? - Nicolau pergunta. Ele sempre tentou estabelecer um mínimo elo de paz que fosse de pai e filho entre eles. Mas era muito difícil.
  Fred puxa o celular e manda algumas mensagens de texto.
- vou vazar. Não consigo ficar aqui com esse babaca em casa
- não fala assim do seu pai menino - Nicolau repreende mas de um jeito terno, gentil: - vai ver aquele seu amigo? Como é o nome dele... Olavo?
- Otávio, vô - Fred sempre relevava pela idade e também porque realmente fazia tempo Otávio não frequentava sua casa.
- ah, manda um abraço pra ele.
- pode deixar - Fred dá um beijo na testa do avô e sai.

- e aí, cara, tá tudo bem? Recebi sua mensagem e vim correndo. Brigou com seu Miguel de novo ne? - Otavio pergunta. Sempre soube da relação conturbada entre eles. E também não era pra menos já que os dois eram amigos desde a adolescência.
- ele me tira do sério - Fred respira: - mas não te chamei pra falar dele não. Quero só respirar mesmo, beber, sei lá.
- ah beleza então. Bar do Simas?
- tu sempre lendo minha mente né, irmão.

  Após algumas cervejas e mais meia dúzia de conversas jogadas fora, incluindo a última discussão familiar de Fred, alguém precisava encarar um pouco a realidade da situação:

- eu sei que tu não gosta mas é a verdade. Você sempre foi o mais parecido com o seu Miguel cara. - Diz Otávio, sem medo das reações de Fred já que o mesmo não suporta falar sobre o assunto.
- Tá de sacanagem né? Ja falei que não te chamei aqui pra falar disso. - diz Fred: - Quero saber se tu já decidiu. Socialzinha sábado, sim ou não?
- Ah tá mais pra eu ir sim. A Jennifer também, parece que a mãe dela não vai trabalhar mais com as quentinhas nesse sábado e liberou ela do compromisso. - Completa Otávio: - mas peraí... tu não disse que teu pai barrou a festa?

  Fred lembra da discussão que teve com o pai. Lembra de tudo o que foi dito por ele. Mas também lembra que justamente no sábado os pais e o avô viajam com o irmão e a nora, algo já planejado há um tempo pela familia mas ele não quis participar. Fred sabia que era bom no que estudava. Amava direito. Decorar e dominar as leis de cor, sabia tudo sobre direitos e deveres. Mas principalmente também sabia a hora de quebrar as regras quando queria, principalmente se ele não concordasse nem um pouco com elas:

- ih relaxa, irmão. Tá tranquilo - ele diz ao amigo: - a festa ainda tá de pé. Só vou precisar de uma ajuda tua.
 

Razões e Emoções (A #Freuri Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora