Capítulo 41

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Fred

- tava sim lá com um amigo. E garanto que me divirto bem mais lá do que esses restaurantes aí que a gente frequenta - rebate Fred à pergunta ríspida e preconceituosa do pai com uma expressão sarcástica em seu rosto. A cara de Miguel vai de impaciência à raiva em um segundo: - ah e o "moleque" tem nome. É Yuri. Pode não se lembrar mas ele...
- não tô nem um pouco interessado em saber o nome dos seus amiguinhos suburbanos - Miguel diz, escancarando o tom elitista nas palavras: - sua janta tá no microondas - diz o homem enquanto volta sua atenção ao jornal. Fred esquenta o prato que encontra envolto por um papel toalha no aparelho e rapidamente retira e esquenta. Nem tinha percebido o quanto estava com fome até retirar a comida do microondas e apoiá-la sob a mesa. Comia enquanto pensava no menininho que acabara de ajudar com sua mãe. Na verdade pensava neles desde que os deixara na esquina da rua de sua casa. Neles e em Yuri. Principalmente em Yuri.

- pai... - Fred chama. Miguel revira os olhos mas tenta permanecer aberto a algum diálogo: - que foi? - responde. Fred respira fundo tentando procurar algum meio de iniciar aquela conversa. Precisava tentar ajudar aquelas pessoas assim como todas as que viviam naquela situação. Mas não sabia como e nem iria conseguir sozinho. Não naquele momento: - eu... tava pensando. Como a gente tem muito quando existe gente que não tem nada. Isso não te incomoda nem um pouco? - Miguel se desliga do jornal para encarar o filho. Uma expressão de desdém e escárnio pelo assunto: - o que? - pergunta, estupefato. Fred prossegue: - sério. Hoje presenciei uma cena que mexeu comigo, sei lá. Uma criança, um menino com menos de 7 anos de idade com fome. A mãe dele também... é nessas horas que eu fico me perguntando sei lá, nunca parou pra pensar que a gente pode ter uma certa responsabilidade nisso tudo?

- responsabilidade? Não me faça rir, Frederico - Miguel se exalta: - que culpa temos se existem pessoas que nasceram com o fracasso entranhado nelas? Ora eu não tenho culpa se eu soube aproveitar bem todas as minhas oportunidades...
- cê tá ligado que nem todo mundo têm as oportunidades que a gente tem né? - Fred corta o pai: - nem todo mundo tem a oportunidade de uma vaga na área militar com um salário a altura como o senhor e o Max ou de prosperar na vida a ponto de se tornar uma grande empresária como a minha mãe. As oportunidades nesse país não são as mesmas pra todo mundo, tu sabe né? - Fred continua cercando o pai com seus argumentos enquanto Miguel se encurrala cada vez mais em suas palavras mas não se dá por vencido: - eu sei é que andar com suburbano tá te fazendo pensar e imaginar coisas demais. Vê se pode, eu culpado. - o homem joga o jornal sob o sofá e se encaminha para o quarto, encerrando a conversa ali. Deixando Fred pensativo quanto a seus próprios conceitos e principalmente os de sua família que, naquele momento, se mostravam clara e definitivamente opostos um do outro.

  Após a janta, Fred se encaminha para o quarto e tenta estudar um pouco. A última semana de aulas antes das férias se aproximava e o rapaz precisava decorar o tema o mais rápido possível para encerrar o período com tudo certo e fechado.

  Mas não conseguia se concentrar em outra coisa naquele momento se não em Yuri. Cada momento que passava com o mais novo era mais especial. Sua companhia, seu jeito... tudo nele encantava o playboy. Principalmente sua forma de dizer não a Fred. Por incrível que pareça até essa parte da relação dos dois deixava Fred cada vez mais envolvido, atraído. E também pensou no momento em que Yuri e Kaíque se falaram. A raiva lhe queima o estômago apenas em lembrar mas logo passa. Estava claro que aquilo era ciúme. Mesmo que Kaíque seja um amigo de infância de Yuri ainda assim Fred se sentia incomodado. Rapidamente balançou a cabeça para tentar fugir dos pensamentos e se jogou na cama, a fim de dormir. Nem se deu conta quando percebeu que já era bem tarde. Não demorou muito para que pegasse no sono.

  Naquela noite, Fred tivera um sonho. Foi com Yuri. Sonhou que o mais novo corria perigo. Que algo ruim lhe acontecia. Corria para ajudá-lo e quanto mais se aproximava mais distante se sentia do bolsista. No sonho, eram Mauro e André. Os dois jovens problemáticos que tentaram atacar Yuri há algumas semanas atrás o atormentavam de novo mas desta vez de forma mais grave. Cada vez que tentava se aproximar Fred se sentia mais impotente até que acordou assustado só de pensar na hipótese. Estava suando frio, com medo. Pegou o celular e mandou algumas mensagens para o mais novo perguntando se ele estava bem, se estava seguro. Não podia nem pensar se algo lhe acontecesse. Rapidamente se lembrou da conversa que tivera com o avô.

  "E pra você ele é só um amigo mesmo?"

  A frase de seu Nicolau ecoou em sua cabeça ao mesmo tempo que também se lembrou da pergunta taxativa de Isabela na última vez em que conversaram definitivamente.

  "Cê tá gostando de alguém?"

  E mediante a tudo que sentia quando não estava com o mais novo: a saudade, a vontade de permanecer à seu lado e não sair mais, a forma como o admirava mais e mais e o que sentiu quando viu apenas abraçando um amigo de infância... todas essas sucessões de acontecimentos deixavam tudo direto e transparente para Fred e cada vez mais a ficha ia lhe caindo de forma clara, por mais que tentasse fugir e se esconder.

  Fred não via mais o jovem bolsista como um amigo.
  Havia muito mais em seu coração sobre Yuri.
  Não sabia como nem quando aconteceu mas estava claro: havia se apaixonado perdidamente pelo bolsista.

  Tentava fugir da verdade e esconder até de sí mesmo mas não havia mais como. E retrair esse fato só o fazia mal ultimamente. Mas como assumir tal sentimento se tantas coisas os impediam? A primeira eram suas visões de mundo completamente opostas. A segunda sua família que jamais aceitaria uma situação dessas. E seus amigos então, Fred? O garanhão playboy rei de todas? Apaixonado por um... cara? Eram várias problemáticas que só aumentavam a seriedade da situação.

  Repousou novamente sua cabeça no travesseiro para tentar dormir. E assim foi, pegou no sono com seus pensamentos perdidos no jovem bolsista.

  Na manhã seguinte, por mais que soubesse que era "errado" e que haviam vários obstáculos foi simplesmente impossível para Fred lembrar de tudo isso. Apenas se levantou, fez sua higiene pessoal normalmente e vestiu-se. Arrumou todas as suas coisas e já estava sentado tomando seu café conforme a rotina quando seu avô se senta ao seu lado.

- bom dia - dissera. Fred apenas o cumprimenta com um aceno de cabeça. Poderia ter quaisquer reações que fossem, não conseguiria disfarçar ou sequer mentir para seu Nicolau. Era impossível. O ancião o conhecia como a palma de sua mão. Resolveu pular a parte que sabia que seu avô fixaria que eram as perguntas e começar a ir um pouco mais direto ao assunto.

- vô... - o jovem dizia, com todo o cuidado: - ...como é que, sei lá, a gente sabe que tá gostando muito de uma pessoa? Que tá apaixonado por ela? - a pergunta pega o idoso completamente de surpresa. Fred, apaixonado? Nicolau sabia perfeitamente como o neto era em relação a isso. Fugia de compromisso sério como o diabo da cruz: - ah eu acho que nossas sensações, o que sentimos no nosso corpo toda vez que a pessoa está com a gente... isso diz bastante mas por que a pergunta? - o ancião sondava o neto, que começa a fugir do olhar: - nada, nada. Tenho que ir: - o rapaz entorna o copo de café em sua garganta enquanto retira a mochila da cadeira e a pendura em suas costas deixando o avô completamente confuso e intrigado.

  Por mais que tivesse tentado, Fred simplesmente não resistiu. Estava bastante adiantado. Ainda tinha alguns minutos e como sabia que havia se dado bem na maioria de suas provas finais não iria ter problema algum. O semestre estava para acabar e os alunos estavam há apenas uma semana das férias. Sendo assim o jovem recalcula sua rota e muda o destino para outro lugar e acaba parando em frente a casa de um certo bolsista. Buzina e vê ao longe o mais novo saindo às pressas para entrar no carro.

- e aí, Kaique. Vamo logo? - Quando ouviu o nome do outro rapaz, Fred podia sentir seu sangue queimando em seu corpo. "De onde esse cara saiu?" Se perguntara e o fato de Yuri simplesmente proferir o nome dele o deixava bastante incomodado e irritado, por mais que tentasse evitar.

- qual foi, Yuri? Não te entendi agora. O que tá rolando contigo? - e não sabe se foi algo que falou ou se simplesmente sua presença deixaram o mais novo com algum tipo de crise de ansiedade e talvez passando um pouco mal já que o mesmo começara a suar e pôde ver algumas lágrimas querendo escorrer por seu rosto: - Yuri, o que foi? Tá tudo bem mano?

 
 

Razões e Emoções (A #Freuri Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora