Capítulo 08

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Fred

Enquanto estava ali, dançando com Yuri, Fred esquecera qualquer problema. Esquecia do que acontecera com Guiga, os problemas com o pai. Tudo. Parecia que eram apenas os dois ali. Até a voz de seu pai estragar tudo e o puxar de volta à sua triste realidade. Todos estavam incrédulos, principalmente Fred. Ver Miguel e o resto da família parada ali, olhando tudo ao redor. Era algo que definitivamente não estava em seus planos.

- ACABOU A PALHAÇADA!! - Miguel despluga a tomada dos aparelhos de som do bocal de maneira brusca e a joga violentamente de lado. Expulsa todos de sua casa de forma grosseira e hostil, sem notar que Yuri ainda estava ali. O rapaz encarou Fred e seus familiares incrédulo com a situação. Mas que horas eram? Puxa, era bem tarde. Umas 02h15? Yuri não conseguiria achar meio de transporte naquele horário. Mas não iria incomodar, daria um jeito como sempre.

- ah, eu tô indo...
- espera aí, eu te levo - Fred interrompe e sai acompanhando o rapaz até a porta quando Miguel se interpõe: - Não vai pra lugar nenhum, Frederico! - ele indaga. A mãe de Fred só fazia olhar para o marido e para o filho, sem pronunciar uma palavra sequer: - ah tá, e eu vou deixar o moleque ir embora sozinho essa hora só porque você quer? Bora Yuri - Fred enfrenta o pai que avança sobre ele: - DAQUI VOCÊ NÃO SAI, FREDERICO!!

- Miguel - Nicolau os interrompe. Sempre sereno e paciente, o avô de Fred continua: - deixe disso e de fazer escândalo por qualquer coisa - ele diz: - QUALQUER COISA?! - Miguel rebate: - acho que o senhor não entendeu que o Frederico deu uma FESTA em casa enquanto estávamos fora, pai - o militar estava muito alterado. Ainda paciente, Nicolau o confronta: - e daí? Quantos jovens que você conhece nunca fizeram isso? Você mesmo, inclusive. Ele não será o primeiro e muito menos o último - Miguel o encara perplexo mas Nicolau se mantém firme contra o filho. Yuri apenas acompanha a linha de discussão mas decide cortá-la quando finalmente responde: - ér... sem querer interromper o momento de vocês e peço desculpa por isso mas é que eu preciso mesmo ir embora. Minha mãe já deve estar preocupada

- eu te disse que daqui, essa hora, tu não sai sozinho - Fred o interrompe, os olhos decididos fixos nos do pai que devolve o olhar com raiva e repreensão. Elisa, mãe de Fred, finalmente decide tomar a palavra: - Miguel, por favor. O rapaz realmente não pode voltar pra casa a essa hora sozinho. Seja prudente. - Ela olha para Yuri mas não com compreensão e sim, desdém. Apenas não queria carregar nenhuma possivel culpa se fosse o caso e o pior acontecesse.

- Venham meninos, por aqui - Nicolau acompanha os rapazes até a porta e sibila para Fred sem que seus pais ouçam: - acompanha o rapazinho, deixa que com seu pai eu me entendo - Ele faz um sinal para que Fred leve Yuri até o pátio do condomínio.

Fred e Yuri permanecem em silêncio enquanto o playboy tenta um carro por aplicativo para o rapaz. Era inviável levar Yuri para casa depois de ter bebido mas não pela lei seca ou essas coisas, o playboy não estava nem aí para essa parte e sim, por Yuri. Não queria expor o jovem a nenhuma situação e sentia uma preocupação a mais por ele. Ele não entendia mas sabia que sentia.

- Aí playboy - Yuri chama Fred: - Só me promete uma coisa - Fred olha para o bolsista e permanece atento as suas próximas palavras: - que vai conversar com a bela na segunda. Que é a primeira coisa que cê vai fazer quando chegar na faculdade - Yuri aguarda uma resposta do playboy, de preferência, positiva. Ele suspira mas assente a promessa ao bolsista: - de boa. Eu vou falar com ela, prometo. E você... - ele para. Suspira. Deixando Yuri curioso para saber o que ele ira dizer: - ...acredita em mim né? Que eu não dei aquele beijo na Guilhermina? - Yuri assente positivamente com a cabeça, escolhendo finalmente acreditar em Fred: - cê não presta mas vou te dar esse crédito dessa vez - Ele brinca, tentando quebrar o gelo. Os dois soltam uma risada sincera. Fred se pega admirando Yuri com o olhar mais uma vez enquanto o mesmo está distraído. Decide voltar a atenção para o celular até que finalmente encontra um motorista disponível. Não demora muito para que ele chegue ao local e Yuri entre no carro.

- anota meu número aí - Fred dita seu número de telefone e Yuri o salva em sua agenda. Não tinha o porquê ter o contato de Fred em seu celular, era o que pensava. Pelo menos não até aquela noite. Fred suspira olhando para o bolsista e diz: - assim que chegar, a hora que for, tu me avisa - ele pede. Yuri assente mais uma vez com a cabeça e o motorista finalmente dá a partida, deixando Fred mais uma vez sozinho com seus pensamentos.

Em casa, o playboy já aguardava sua inquisição. O pai, a mãe e o avô o esperavam. Miguel praticamente com sangue nos olhos. Elisa apenas analisava a situação. Nunca se envolvia diretamente. Para ela só lhe importava o trabalho, os encontros com as amigas e algumas futilidades mais. Nicolau era o único que o enxergava. O olhava com compaixão, compreendendo-o. Fred respira fundo e começa:

- tá, eu vacilei mesmo. Sei disso. Mas peraí também, foi só uma festa com alguns amigos.
- Alguns amigos? - Miguel o interrompe: - você lotou a minha casa de gente, Frederico. E eu lembro de ter te deixado bem claro que não queria festa alguma aqui - Fred o encara enquanto ele conclui seu argumento. O rapaz já está cansado. Não aguenta mais tanta represália e hostilidade vinda do pai: - nem quando eu tô certo você deixa de me recriminar né? Normal isso já - Ele diz: - vai começar o drama, já? - Miguel o rebate: - eu já te falei e vou repetir: essa é a minha casa. Tudo o que tem aqui é meu. Você não passa de um moleque mimado e quase um agregado já que tem mais de 20 anos na cara e não arruma algo de decente pra fazer - Miguel pega pesado nas palavras: - claro, é o que cê quer né?! Tá doido pra se ver livre de mim que eu sei. Na verdade pra você só importa o Maxmiliano né? É o único filho que tu tem - Fred diz, quase esbravejando. Miguel respira fundo e diz: - acho bom você calar a sua boca e moderar esse tom - suspira. Nicolau pressente o clima e tenta apasiguar - por favor, vamos manter a calma. Miguel pelo amor de Deus, foi só uma festa de jovens e já acabou. Não há mais nada o que você possa fazer - formula o idoso mas nem filho nem neto lhe dão ouvidos. Continuam discutindo: - E EU TÔ MENTINDO POR ACASO?! - Fred altera o tom de voz, claramente irritado: - OU VOCÊ VAI ME DIZER QUE O TRATAMENTO QUE VOCÊ DÁ PRO MEU IRMÃO É O MESMO PRA MIM?! Porque as vezes eu acho que nem seu filho eu sou...

Os argumentos de Fred são cortados com o estalo de um tapa contra seu rosto. Foi a reação de Miguel as palavras do filho, que agora estava incrédulo. Nunca havia sido agredido pelos pais e pensava que era só aquilo mesmo que faltava. Engoliu em seco enquanto ouvia o pai concluir: - Me respeita e respeita a tua mãe, moleque. E para de ficar vomitando essa asneira. - ele continua: - melhor ir pro quarto que você já tá histérico e o teu mal é sono - ele range os dentes. Mas nem precisou mandar duas vezes. Em menos de dez segundos Fred já havia se trancado em seu espaço ou o que achava que era seu espaço, pelo menos. Lutava contra as lágrimas que marejavam seus olhos mas foi em vão. Elas escorriam sem que ele pudesse controlar. O rapaz se jogara na cama, nem teve tempo ou cabeça para pensar em pijama ou qualquer outra coisa. Estava aborrecido demais com o último ocorrido. Escutara algumas batidas na porta de seu quarto mas também optou por ignorar. Ficou em silêncio em um bom tempo olhando para o vazio do teto.

Apesar do fiasco do fim da noite e de todo o ocorrido, nem mesmo a agressão do pai foi capaz de fazer Fred esquecer os bons momentos que teve em sua social, principalmente com Yuri. Na verdade, era só isso que ele lembrava naquele momento, a companhia do bolsista que lhe fazia tao bem ultimamente mesmo que nutrida por pequenos instantes. Ficou pensando e lembrando também de quando dançaram juntos e desengonçadamente no meio da sala. Permaneceu tanto tempo preso a estes específicos momentos por um longo tempo até que, finalmente, adormeceu.

Razões e Emoções (A #Freuri Fanfiction)Onde histórias criam vida. Descubra agora