Pt2.Cap9- Culpa e vergonha

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Izuku acorda, se afastando do jato de água em seu rosto, e a primeira coisa que pensa é

"Porra."

A palavra sai entrecortada e meio soluçada. Porque o que diabos ele acabou de fazer? Bem, Izuku sabe o que fez. Ele voltou atrás em sua promessa a seus pais e Toshi. Ele voltou aos velhos hábitos e mentiu para as pessoas que o amam e fez uma coisa estúpida, estúpida e sem motivo. E essa é a merda de tudo, não é?

Normalmente, quando Izuku se matava, era por um motivo específico. Ele precisava curar uma lesão ou testar uma teoria ou obter apenas um maldito momento de alívio. Mas Izuku não teve esses motivos desta vez. Então agora, sentado no chão de ladrilhos de um chuveiro de academia sendo atingido por água muito quente, Izuku nem sequer consegue aquele pedaço de alívio para se agarrar, para acalmar sua vergonha. Ele não teve uma pausa, uma reinicialização ou uma lufada de ar fresco porque não sentiu que estava se afogando antes de vir para cá. Ele não tinha motivos para justificar isso. Ele simplesmente fez isso.

All Might lançou uma maldita bomba sobre ele ontem e Izuku não conseguia parar de pensar no quanto doeu quando Shigaraki o matou, e ele não tinha feito isso então. Ele foi ao Hound Dog, conversou e se sentiu melhor. Então por que hoje, quando ele jantou que não foi tão ruim e os pais estavam sentados ali na porra do sofá, por que ele simplesmente não estendeu a mão e conversou com eles? A ajuda não poderia ter sido mais fácil ou mais acessível.

Mas não. Izuku decidiu 'foda-se' e enfiou a porra de um apontador de lápis no bolso e cortou os pulsos. É muito embaraçoso.

Izuku se levanta, piscando duramente para conter as lágrimas. Ele não quer que fique óbvio que ele estava chorando quando voltar para cima, caso Zashi ou Aizawa ainda estejam acordados. Ele fecha a torneira e verifica o chuveiro para ter certeza de que não há vestígios de sangue em nenhum dos azulejos brancos. Ele caminha até onde deixou suas roupas e se seca com uma das toalhas de cortesia da academia antes de se vestir rapidamente. Ele pega os pedaços quebrados do apontador e marcha até o lixo, empurrando-o o mais fundo que pode, certificando-se de que esteja coberto e escondido.

Verificando-se no espelho para ter certeza de que não há evidências, Izuku volta pelo andar principal do ginásio até o elevador. Ele para no meio do caminho, porém, para verificar a hora em seu telefone e ter certeza de que já passou um tempo razoável para ele voltar. Ele sempre treina por pelo menos uma hora, então qualquer coisa menos que isso levantaria suspeitas.

Faz apenas vinte minutos desde que ele desceu aqui. Ok, então ele tem tempo para matar. Infelizmente, Izuku não tem mais vontade de malhar. Ele só quer subir e se trancar no quarto e fingir que nada aconteceu. Ele decide que a próxima melhor coisa é encontrar a escada, porque deve haver uma por aqui em algum lugar, e subir. Certamente demorará um pouco para subir os quarenta e oito lances de escada para chegar ao andar deles. Contanto que ele ande devagar.

Então, Izuku faz exatamente isso. Ele fuça até encontrar a escada de acesso e começa a subir. Ele se move mecanicamente, um pé após o outro, num ritmo constante e deixa sua mente desligar. Ele não pensa no que acabou de fazer ou em como se sente culpado ou na leve pulsação em seus pulsos que sempre persiste depois que ele revive. Não, ele só se permite focar na queimação em suas coxas quando chega ao décimo quinto andar e como isso significa que ele ainda tem trinta e três lances pela frente. Trinta e dois. Trinta e um. Trinta.

Passam-se mais quarenta minutos antes que Izuku chegue ao seu andar e, mesmo assim, ele apenas se senta no patamar da escada e olha um pouco para o telefone. Ele nunca foi muito bom nas redes sociais, então, em vez disso, abre o rolo da câmera e percorre as fotos que adquiriu desde que comprou o telefone. Toshi deitado em um colchonete na academia, desligando a câmera. Zashi com o cabelo preso em um coque e uma máscara facial com estampa de panda. Aizawa dormindo no sofá com os três gatos deitados em cima dele. Essas são todas as razões pelas quais Izuku queria um telefone com uma boa câmera. Essa vida que ele tem agora e essas pessoas que vivem nela são algo que vale a pena fotografar. Vale lembrar. Vale a pena viver.

Cinzas De Um Fogo Qualquer (Izuku Vigilante)Onde histórias criam vida. Descubra agora