Clara estava fascinada. Até aquele dia nunca vira um Nova Espécie e quatro deles foram busca-la em Santa Rosa. Eram grandes, musculosos e ela se vira sem saber qual era o mais fantástico. Eram diferentes de qualquer homem que já tivesse visto.
Mas o senhor Cedar... Ele era espetacular! Bronzeado como os outros homens, com olhos grandes da cor de chocolate combinando com os cabelos castanhos, que pareciam ter saído de um comercial de shampoo.
Ela lera tudo que conseguira achar sobre as Novas Espécies. Pelos cálculos dela ele teria mais de quarenta anos, mas aparentava ter um pouco menos de trinta.
Quando entrara na sala achara que não conseguira disfarçar o seu deslumbramento. Desejara ser uma mulher bonita, de corpo exuberante e voz sexy. Mas era uma magricela, desajeitada e com uma voz infantil. Aliás, ninguém lhe dava os seus 28 anos e sempre perguntavam se acabara de se formar.
Cedar North parecera em dúvida sobre ela, porém Clara sabia que o seu currículo era muito bom.
Desde que vira a reportagem da revista Many Tribes se apaixonara por Homeland III e seus habitantes. Quando um colega de trabalho lhe contara sobre a vaga na colônia ela não conseguira pensar em mais nada, enviara o currículo e quando foi chamada para a entrevista, fizera suas malas confiante e partira para Homeland III. E fora contratada mesmo com o aparente desagrado do senhor Cedar.
Ela aprendera que, de acordo com o DNA de animais, eles podiam ser classificados em caninos, felinos e primatas. Sabia que os felinos tinham olhos de gato e os primatas possuíam o rosto mais humano, então Cedar seria canino. Os olhos eram como poças de um castanho vivo. A boca era uma tentação e, quando ela vira as presas, um arrepio percorrera o seu corpo. Sim, definitivamente estava fascinada.
Um Nova Espécie que se apresentara como Cloud pegara suas duas grandes malas como se fossem de papel. Ele a levara a uma construção baixa e comprida, que dissera ser o dormitório feminino.
Na entrada onde havia um saguão com poltronas e mesinhas, uma mulher alta e linda a recebeu.
— Clara Domingues, boa tarde. Sou Confidence.
Clara gostou do nome, como gostara de todos que ouvira. Era muito bonita aquela característica das Novas Espécies, nomes com significados pessoais.
Cloud entrou com suas malas e Confidence a levou até uma porta.
— Eu não sabia que ficaria aqui, então não tive tempo para arrumar melhor o seu aposento. - abriu a porta. Clara admirou a sala pequena com uma cozinha americana.
— O quarto é aqui. - ela reparou no pequeno quarto dominado por uma cama enorme. — Vou providenciar cortinas e utensílios para a cozinha.
— Está tudo ótimo.
Cloud deixou as malas no quarto e dirigiu-se à Clara.
— Seja bem vinda, Clara Domingues. Logo receberá a sua escolta.
— Eu preciso de escolta?
Confidence e Cloud se entreolharam.
— É para sua segurança. - ele respondeu.
— Estou acostumada a lidar com animais selvagens.
Cloud quase sorriu e deu de ombros.
— Aguarde a escolta, por favor.
Ele saiu e Confidence deu um sorriso.
— Está com fome? Algumas das espécies têm alimentos em seus aposentos.
— Eu aceitaria um café.
— Pode deixar. Se instale, trarei o café daqui a pouco.
Quando ela saiu, Clara tirou as botas e se jogou na cama. Estava em Homeland III! E conviveria com seres extraordinários! Pensou em Cedar e soltou um gemido baixinho. Nunca vira um homem como ele...
Homem não. Espécie.
Gostando muito de toda aquela novidade, levantou-se e começou a desfazer as malas. Quase todas as roupas eram de trabalho: camisetas e blusas de malha, shorts e calças confortáveis e bermudas curtas. Trouxera também dois vestidinhos frescos. Sua lingerie era simples, sutiãs macios e calcinhas divertidas. A que usava naquele momento era verde com bolinhas amarelas.
Ouviu barulho na sala, era Confidence que voltou com uma bandeja com um bule, duas xícaras e um pratinho com biscoitos caseiros.
— Saindo um café fresco.
Ela colocou a bandeja na mesinha de centro e se sentou numa poltrona. Clara sentou no sofá de dois lugares.
— Não há televisores nos quartos?
— Os espécies assistem no Clube.
— No clube?
— Sim, onde estão o refeitório e uma sala de jogos. E também usamos para conversar.
— Que interessante.
— Sua escolta chegará logo. O primeiro horário do jantar é às 18 horas. A maioria dos humanos come nessa hora.
— Eu jantarei às 18, então.
— Bom.
Confidence se recostou na poltrona.
— Gostou do que viu até agora de Homeland III?
— É enorme. Pensei que a estrutura fosse menor. Achei lindos os jardins em frente às casas.
— As cabanas individuais são para os acasalados e alguns líderes.
— Acasalados são os casados, não é?
— Alguns fizeram o casamento humano, outros apenas se acasalaram.
— Acho tudo sobre as Novas Espécies fascinante. - Clara bebeu o café e deu um olhar dissimulado para Confidence. — O senhor Cedar é acasalado?
— Cedar? - a mulher riu. — Ele é um dos Conselheiros. É acasalado com a ONE.
— Quer dizer que é muito dedicado?
— Dizem que aquele macho não dorme.
Clara aprendera que as Novas Espécies se chamavam de macho ou fêmea.
— E você?
— Sou solteira. Poucas fêmeas se acasalaram.
— Por quê?
Confidence deu-lhe um sorriso orgulhoso.
— Gostamos de ser livres. - quando Clara não fez comentários, ela continuou.— Em Mercille éramos forçadas a procriar com os machos.
— Procriar?
— A fazer sexo. Queriam que gerássemos bebês para vender.
— Que horrível!
— Se não fizessemos sexo éramos torturadas ou os machos.
— Eles... eles aceitavam?
— Sim, mas nos tratavam bem.,— seu semblante se entristeceu. — Às vezes davam substâncias para os machos e eles perdiam o controle. Fêmeas morreram assim.
— Que...Nem sei o que dizer.
— Hoje somos livres. Só fazemos sexo com o macho que nos agrade. Somos muito seletivas.
— Mas há casais Novas Espécies, né?
— Poucos. - deu um sorrisinhos. — As humanas é que gostam dos nossos machos dominadores.
— E eles são mesmo?
— São, sim.
Clara ficou pensando, Cedar seria dominador? Confidence se levantou e pegou a bandeja.
— Se a sua escolta não chegar eu te levarei para jantar.
— Tudo bem.
Decidiu tomar um banho. Ainda estavam no inverno, porém o calor do Norte era forte para ela. Tomou um banho frio e vestiu um dos vestidos. Não sabia como seus hospedeiros se vestiam para jantar. Ouviu uma batida à porta e a abriu. Abriu a boca, surpresa, quando viu o próprio Cedar parado à porta.
— Boa noite, sua escolta teve uma dificuldade e eu vim substituí-la.
Ela o admirou. Usava o mesmo uniforme de mais cedo, bermuda preta e blusa também preta com a sigla da ONE bordado em prata, justo e colocando os músculos em evidência. Os cabelos chocolate estavam presos num rabo de cavalo, porém sua aparência era muito máscula. Ficou de cabeça erguida olhando-o. O rosto com características de animais tinha uma beleza estranha, maças do rosto salientes e nariz achatado.
— Senhorita Domingues?
— Ah! - Clara enrubesceu. — Sim, sim.
— Sei quem é a senhorita.
— Claro que sabe. - deu um sorrisinho nervoso.
— Pronta para ir?
— Aonde?
Ele inclinou a cabeça, olhando-a com curiosidade.
— Jantar.
— Sim, sim, claro. - ele apontou para o corredor e ela saiu. — Não tenho chave para a porta.
— Não é necessário.
— Espécies não roubam. - ele franziu as sobrancelhas como se estivesse se lembrando. — Uma vez um de nós roubou uma mulher.
— É mesmo? Roubou o quê?
— Ela. - ele falou bem sério. — Não. Dois espécies , se eu contar Fury, mas foi apenas por algumas horas.
O queixo de Clara caiu. Roubaram mulheres?
— Que... incrível?
Cedar a encarou.
— Pronta, então?
— Pronta.
Clara passou à frente dele. O prédio estava muito silencioso e quando saíram, o lusco-fusco do início da noite trouxe uma frescura com aromas da floresta ao redor. O caminho de pedriscos e areia era iluminado por luminárias no chão que formavam corredores. Ela tropeçou e Cedar a segurou pelo cotovelo, guiando-a pelo caminho.
— Está escuro, né?
— Os espécies enxergam bem no escuro.
— E os não-espécies?
— Os humanos?
— É, é assim que vocês nos tratam.
Ele olhou para baixo e deu um sorriso.
— É para vocês que as luzes estão aqui.
— Ah...
Clara ficou em silêncio, sentindo a mão pesada em seu cotovelo transmitir muito calor. Imaginou se ele seria todo tão quentinho.
Caminharam para um prédio baixo e circular, cheio de janelas. Dentro ela viu portas duplas que davam para um salão, a sala de jogos. As outras portas a deixavam ouvir o som de vozes e de talheres em louças.
Cedar a fez entrar primeiro e ela foi recebida pelo cheiro delicioso da refeição servida. Realmente a maioria das pessoas presentes não era Nova Espécie.
— Deixe-me apresenta-la a humanas brasileiras. - ele falou e a levou a uma mesa onde quatro mulheres jantavam. Duas com meninos pequenos, uma com um garotinho de cerca de cinco anos e outra com um neném num bebê conforto.
Clara notou que todas as crianças eram Novas Espécies.
Cedar continuou a segura-la e, quando chegaram à mesa, o menino maior gritou.
— Olha a namorada do tio Cedar!
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CEDAR: Uma história Novas Espécies 5
Science FictionCedar é um dos Novas Espécies, seres humanos criados em laboratórios da indústria farmacêutica Mercille. As Novas Espécies tiveram seu DNA alterado com DNA de alguns animais. Cedar é membro do Conselho das Novas Espécies e atualmente cumpre seu trab...