Cedar nunca correra tanto como naquele dia. Corria e saltava como um felino.
Pulou da ribanceira mal sentindo o baque em seus joelhos quando aterrizou e se desculpou mentalmente com a doutora Thainá pelo desconforto.
Blade se adiantou e pegou a médica dos braços de Cedar.
— Você está bem? - perguntou, colocando-a em pé.
— Só um pouco tonta. - balançou a cabeça e olhou na direção da margem do barranco.
Ela arregalou os olhos quando viu Painting sentado de pernas cruzadas e Clara no seu colo como se estivesse num casulo. O rosto do homem estava muito corado, alguns fios de cabelo grudados na testa suada e os olhos claros brilhavam como vidro na luz dourada do crepúsculo. Os nós dos dedos da mão direita estavam brancos, tamanha era a em segurar a pistola .Thainá realizara algumas consultas quando ele ainda se restabelecia dos ferimentos sofridos na França. Fora ela também que lhe dera o diagnóstico final e se lembrava bem do rosto incrivelmente atraente e decepcionado quando soubera que não poderia mais trabalhar como oficial da ONE. Mesmo naquele momento absurdo, ele ainda era muito bonito.
Começou a se aproximar dos dois quando Blade segurou seu braço.
— Espere. - ela se virou para ele. - Fique comigo.
Thainá assentiu com a cabeça e andou, com Blade segurando os seus ombros por trás.
— Recue! - Painting ordenou.
— Não deixarei minha mulher exposta.
— E não deixarei que se aproxime.
— Se feri-la, eu mato você.
Painting lhe deu um olhar furioso.
— Entre na fila.
— Blade. - Cedar chamou.Blade o olhou por cima do ombro. - Por favor, recue.
— Cedar...
— Estou na mesma situação que você, amigo. Por favor.
Blade respirou fundo, beijou o topo da cabeça de Thainá e a soltou. Recuou dois passos.
A médica se aproximou devagar, olhando para a arma.
— Painting, eu posso examiná-la?
Ele a encarou.
— Se tentarem me alcançar, eu atirarei em você.
— Não!- gritou Blade.
Thainá o olhou por cima do ombro, Blade rosnava, as presas à mostra.
— Está tudo bem.
Ela aproximou-se e ajoelhou.
— O que sente, Clara?
— Uma cólica forte.
Thainá apalpou o ventre de Clara, atenta. Apalpou os músculos rijos.
— Sentiu algum corrimento vaginal?
— Senti. - Clara arregalou os olhos. — Estou perdendo o meu bebê?
— Calma. - A médica olhou novamente para Painting. — Eu vou abrir a maleta agora, ok?
O macho apenas assentiu com a cabeça. A doutora abriu a valise e retirou um par de luvas.
— Clara, preciso observar o líquido.
Cedar rosnou e deu um passo para a frente e Painting silvou em resposta.
— Não se aproxime!
Cedar estacou, mas Clara prendeu o olhar dele.
— Está tudo bem. Está tudo bem.
Painting franziu ainda mais a testa.
— Não fale com ele.
— Sou mulher de Cedar.
— Não!
O rosnado de Cedar foi ameaçador, mas Painting apenas manteve o olhar em Clara.
Thainá colocou as mãos nos joelhos de Clara.
— Vou começar, ok?
Clara balançou a cabeça e a médica , enfiou as mãos embaixo do vestido.
— Virem-se, por favor. - Cedar pediu.
Todos os Novas Espécies deram as costas à cena que se desenrolava.
Cedar sentiu um ímpeto de arrancar Clara dos braços de Painting e o macho percebeu, pois posicionou o cano da arma contra a cabeça de Thainá.
Cedar se conteve; agradeceu por Blade estar de costas, porque a vida da médica da colônia também estava nas mãos do macho enlouquecido.
— Calma, querida. - Thainá fixou os olhos no de Clara. — Vou examinar o colo do útero. Preciso que relaxe.
Painting segurou a mão de Clara e ela a puxou, fazendo-o dar um olhar magoado. A médica, esforçando-se para manter a modéstia dela, segurou um joelho e inclinou-se para examiná-la.
Apesar da tensão sobre o estado da sua mulher, Cedar teve sua atenção desviada para o som de motor que vinha do rio. Sem se virar comentou para si mesmo.
— É um barco.
O barco da fuga. - pensou, sentindo o coração acelerar ao perceber que Painting também ouvira.Clara sentia todo o seu corpo gelado e seu estômago doía com a tensão. Logo que a cólica começou, se preocupara com sua gravidez, que estava apenas na metade. O medo de perder o seu filho suplantou o medo de ser sequestrada.
Não se preocupou com a vergonha de ser examinada no colo de Painting. Queria apenas que Isaac estivesse bem.
Olhou para Cedar e notou que ele estava com a cabeça inclinada, como se prestasse atenção em algo.
— Mais rápido, doutora. - Painting rosnou.
— Preciso ter certeza.
Respirando com dificuldade, Clara perscrutou o rosto de Thainá. Sentiu a pressão dos dedos de e, logo em seguida, a médica afastou as mãos.
— Diga. - ordenou Painting.
Retirando as luvas, a doutora falou com Clara.
— O colo do útero está fechado, porém preciso te levar para o Centro Médico.
— Nós vamos embora agora. - declarou Painting.
Como se respondesse a ele, uma buzina soou. Levantando-se sem nenhuma dificuldade, o macho olhou para Clara.
— É o nosso barco.
— Eu não vou com você.
— Irá, sim, Clara.
Para surpresa total de Painting, Clara fechou a mão em punho e socou o nariz dele com toda a força. Cedar arregalou os olhos quando o viu recuar perigosamente para a beira do barranco. Lágrimas surgiram nos olhos de Painting que os estreitou, confuso, e Clara deslizou para o chão, porém não a soltou.
TarEsquecido do perigo da arma disparar, com um pulo Cedar alcançou Painting. Agarrou Clara e a puxou. O macho conseguiu mantê-la, porém ele e Cedar estavam prestes a despencar.
— Solte, Cedar! - Painting gritou.
— Solte você!
Os dois machos tinham os braços ao redor de Clara, como se estivessem numa dança estranha.
— Eu vou atirar!
Com isso, todos os Novas Espécies se viraram e se aproximaram do trio. De repente, a arma disparou e Clara gritou, assustada demais. Ela se agarrou a Cedar, porém ele cambaleou para trás.
Cedar sentiu uma dor lancinante no lado esquerdo do abdu. Tentou não soltar sua mulher, mas as mãos começaram a tremer e perder as forças. Olhando com ódio para Painting, sentiu os joelhos dobrarem.
— Cedar! - Clara gritou quando ele caiu de joelhos.
A dor que sentia era muito forte, porém não podia deixar Clara. Seu peso puxou Clara e Painting precisou se firmar para não cair.
— Olha o que me forçou a fazer! - ele gritou para Cedar.
— Largue a minha mulher.
— Ela é minha agora!
— Olhe para ela. Está assustada e pode perder nosso filho. É assim que você a ama?
— Cedar! - Clara gritou novamente.
Soltando Clara, Cedar colocou a mão sobre a ferida que escorria sangue em abundância.
— Deixe-a, eu te imploro.
Clara chorava e Painting olhava de um para o outro. A doutora Thainá se aproximou de Cedar e puxou sua mão.
— Tire a blusa, Cedar.
Numa incursão, Cedar sempre usava colete à prova de balas, porém não imaginara que Painting usaria uma arma.
A médica o ajudou a tirar a blusa do uniforme.
— Cedar! - Clara chamou. — Meu amor...
— Se acalme, amor. - ele pediu.
Thainá vestiu outra luva e depois retirou dois pacotes de gaze e pressionou contra a ferida.
Cedar lembrou-se da ferocidade de Painting quando precisaram lutar com inimigos, entretanto em Homeland III parecia muito tranquilo e adaptado à vida calma da colônia.
O barco buzinou mais uma vez e Painting acenou na direção do rio.
— Painting, deixe Clara. Pode fazer o que quiser comigo, mas a deixe.
Thainá ergueu a cabeça.
— Se ela não receber socorro agora, pode sofrer um aborto.
Painting apontou a arma para a médica.
— Você virá conosco.
Um rosnado alto soou muito perto deles; era Blade.
— Abaixe essa arma, macho!
— Afaste-se, Blade.
— Se ferir minha mulher, não haverá perdão para você.
— Sua mulher? Você nem mesmo a reivindicou. Sei que não é sua.
— Não se engane. Sou o macho dela e matarei você se feri-la.
A doutora ergueu o olhar rapidamente, contudo tornou a olhar para o ferimento.
Clara choramingou e Cedar rosnou.
— Painting, pegue o barco, fuja. Não irei atrás de você.
Com as sobrancelhas franzidas, Painting apontou a arma para a cabeça de Cedar.
— Não.Você não virá atrás de mim.
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CEDAR: Uma história Novas Espécies 5
Science FictionCedar é um dos Novas Espécies, seres humanos criados em laboratórios da indústria farmacêutica Mercille. As Novas Espécies tiveram seu DNA alterado com DNA de alguns animais. Cedar é membro do Conselho das Novas Espécies e atualmente cumpre seu trab...