Capítulo 55

771 79 15
                                    

Com o celular de Clara na mão, Confidence se aproximou de Clara.
— Painting está te ligando.
Clara pegou o telefone.
— Deve ser algo sobre a clínica. - atendeu a ligação pensando no que poderia estar acontecendo. — Oi, Painting.
Vou te mandar uma mensagem.
— O que aconteceu?
— Leia a mensagem.
Ele encerrou a ligação e Clara franziu a testa, mas abriu a caixa de mensagens.
Fique tranquila. Preciso que não demonstre emoção.
Clara ficou curiosa e leu a próxima mensagem.
Cedar está comigo. Diga a Confidence que irá à clinica e eu te levarei.
Ela pensou por que Cedar estaria com Painting.
Eu apaguei Cedar. A vida dele está nas minhas mãos.
Clara arregalou os olhos, chocada com o que Painting escreveu. Cedar estava em perigo! Com o coração acelerado, continuou a ler.
Eu levarei você aonde ele está. Repito: Confidence não deve ir conosco. Clara, não quero que Cedar morra, por isso não peça ajuda.
Clara sentiu seu corpo gelando. Aquilo não era uma brincadeira!
Mantenha a calma e diga que é uma questão particular. Estou te esperando aqui do lado de fora.
Clara esperou surgir outra mensagem, uma que mostrasse que tudo não passasse de um trote, contudo a mensagem não apareceu. Foi até a porta do salão de lazer e olhou para o portão do Clube. Painting estava lá.
Ele a olhou e fez uma afirmação inclinando a cabeça. Ela engoliu em seco. Era verdade, constatou com infelicidade.
Painting fez sinal para ela se aproximar. Clara caminhou até o portão, o coração aos saltos. Parou na frente dele.
— O que você fez? - sussurrou.
— Depois vamos conversar. Avise Confidence.
— Painting, isso é loucura!
— Se eu voltar sozinho, Cedar morre.
— Você não pode fazer isso!
— Chega. Podem nos ouvir.
— Painting...
— Clara!- era a voz de Confidence.
Clara se virou e viu a amiga, que foi em sua direção.
— O que aconteceu? Você saiu sem falar comigo.
Painting deu um passo e segurou o braço de Clara. Ela sentia vontade de chorar, mas forçou a voz a ficar firme.
— Eu preciso ir na clínica.
— Agora?
— Sim, vou com Painting.
— Como assim? E a festa?
— Já está no fim mesmo.
— O que aconteceu?
Painting apertou seu braço.
— É um assunto interno, Confidence. - ele declarou.
A mulher franziu a testa para Clara.
— Eu vou com você.
— Não, não. - Clara não conseguiu conter o tremor em sua voz. — Painting me levará .
O homem concordou com a cabeça.
— Ela voltará com Cedar. Ele está nos esperando, Confidence.
— Cedar está lá?
— Está. É um assunto sério sobre a clínica. Deve ficar só entre nós.
Confidence olhou de um para o outro.
— É melhor eu ir.
— Não precisa. - Clara falou.
A amiga ainda ficou um instante a encarando, mas por fim baixou os ombros.
— Tudo bem. Me ligue se precisar de algo.
Clara assentiu com a cabeça e Painting a puxou delicadamente. Ele caminhou até uma motocicleta. Ela se surpreendeu, mas não comentou.
— Antes de abrirmos os caminhos, usávamos motos. Cedar me deu esta no ano passado.
— O quê?
— Nós éramos amigos.
— Ele não sabia quem você era.
Ele a olhou.
— Nunca fiz mal a ninguém.
— Está sendo agora.
Painting parou em frente à motocicleta e pegou o capacete.
— Coloque.
— Painting, pense no que está fazendo.
— Eu disse ao Cedar que enlouqueci.
— Só pode ser! Pare com isso!
Ele a segurou pela cintura e a sentou no banco do carona. Pegou o capacete, colocou nela e depois subiu no veículo.
— Segure-se em mim.
— Não.
— Não quero que se machuque. - olhou para trás. — Quer perder a sua criança se cair?
Clara bufou de tanta raiva. Como seu grande amigo podia agir daquele jeito? Procurando se controlar, segurou a cintura dele; sentiu-o estremecer.
Painting deu partida na motocicleta e rumou na direção da clínica. Clara passou os braços por ele com medo de cair.
Ele dirigiu pelo caminho até a clínica em baixa velocidade, evitando os buracos na estradinha de terra. Clara pensou que ele estava tomando cuidado com ela, mas isso não a consolou.
Chegaram na clínica em poucos minutos e Cedar dirigiu para os fundos da construção. Ela não viu ninguém da equipe. Estacionou e desceu do veículo. Tirou o capacete de Clara e pendurou-o no guidão.
— Você está bem?
— Não, não estou.
— Está sentindo dor?
— Estou horrorizada com você!
Ele fez uma expressão triste.
— Eu te amo, Clara. - ela fechou os olhos e apertou os punhos. Tinha que se controlar por medo do que ele podia fazer com Cedar, — Eu não tenho paz. Penso em você o tempo todo.- franziu a testa. — Eu não suporto que viva com Cedar, que ele te toque, que o filho dele esteja dentro de você. - ela arregalou os olhos e abraçou a barriga. Painting balançou a cabeça. — Não farei mal ao seu filho. - ele segurou seu rosto. — Eu queria que fosse meu...
Clara puxou a cabeça.
— Não me toque!
— Não vou te machucar.
— Painting... Você está fazendo uma loucura!
Ele não respondeu, mas a tirou da moto. Clara se afastou rapidamente. Ele estendeu a mão para ela.
— Venha. Vou te levar até o Cedar.
Clara cruzou os braços e ele pareceu magoado.
— Não faça assim.
— Eu quero ver o Cedar.
Painting torceu os lábios e a encarou.
— Eu não queria fazer isso.
— Mas fez!
Ele respirou fundo.
— Vamos, ele está no depósito.
— Onde está Clear? - perguntou, olhando ao redor.
— Eu o dispensei. Disse que ele podia ir já que Joy e Beauty estavam na sua festa. Venha.
Painting foi na frente e Clara o seguiu, o coração batendo acelerado. Ele abriu a porta e acendeu a lâmpada. Clara arfou ao ver Cedar. Ele estava deitado de lado, as mãos presas atrás das costas com uma fita adesiva cinza. Ela correu até ele e se ajoelhou. A mesma fita cobria a boca e seus olhos estavam fechados.
— Cedar! - começou a puxar a fita do seu rosto. — Cedar!
— Não. Deixe a fita.
Clara soluçou e as lágrimas encheram seus olhos.
— Solte ele, por favor. - implorou.
— Não.
Cedar se aproximou, mas Clara não ergueu a cabeça. Tocou o pescoço do companheiro procurando sentir a pulsação na jugular e gemeu ao senti-la.
— Está na hora. - Painting declarou.
Ela ergueu o rosto.
— O quê?
— Há um barco esperando mais abaixo no rio.
— Esperando para quê?
Ele se agachou na frente dela.
— Uma farmacêutica me enviou o barco. Trocarei pela nossa droga de cura.
— Farmacêutica ? Que droga de cura?
— É uma droga feita por Mercille. Encontrei uma farmacêutica que quer comprar. Eles me ajudarão a fugir e eu venderei a droga.
Clara entreabriu os lábios.
— Fugirá porque fez isso com Cedar?
— Fiz isso com Cedar para fugir.
— Como assim?
— Nós vamos fugir para o Peru e de lá para o Equador.
— Nós?
— Você virá comigo.
— Claro que não!
Paiinting se levantou e foi até uma estante. Esticou o braço e pegou algo no topo do móvel. Clara se debruçou sobre Cedar quando viu o rifle com tranquilizantes.
— Eu administrei uma dose apenas. - apontou o rifle para Cedar. — Uma segunda dose provocará uma parada cardíaca.
— Não!
— Você virá comigo e eu não atirarei em Cedar.
— Por favor, amigo, não faça isso!
— Depende só de você.
Clara sentiu seu corpo ficar gelado.
— Não, Painting, por favor... - balbuciou.
— Se você não vier comigo, eu terei que atirar. - Clara apoiou a cabeça no ombro do companheiro, chorando descontroladamente. Não podia, não podia deixar que Painting o matasse! — Vamos, o barco está esperando.
Ela ergueu o rosto, lágrimas de desespero e ódio se misturando.
— O que pensa que vai acontecer se eu for com você? Acha que vou te amar?
— Clara, estou me arriscando. Eu preciso de você comigo.
— Eu vou te odiar, Painting! É isso que quer?
— Ficaremos no Equador por um tempo até o bebê nascer, depois iremos para a Costa Rica, onde fica a farmacêutica. É óbvio que você quer o melhor para a sua criança.
— Está ameaçando o meu filho?
— Ele será meu filho.
— Painting, você está louco!
— Eu sei.
— Eu nunca vou te amar!
— Irá. - ele inspirou fundo. — Você não contou ao Cedar que eu continuei a te amar. Me manteve perto mesmo depois de voltar para ele. Você me quer ao seu lado.
— Não, não... Sempre te vi como um grande amigo.
— Você me deixou te amar. - Clara abraçou Cedar novamente. Cedar tinha razão, concluiu. Ela tinha responsabilidade na loucura de Painting. — É hora de ir, Clara.
— Virão atrás de nós...
—Estaremos bem longe quando Cedar acordar. - engatilhou a arma e ela se assustou.
— Por favor, não!
— Vamos então.
Clara olhou para o antigo amigo. Ele já não tinha a aura angelical; ela reconhecia nos seus olhos a loucura, mas também uma vontade férrea. Beijou o rosto do companheiro, molhando-o com suas lágrimas.
Começou a se levantar e Painting a segurou.
— O barco não está muito longe, mas teremos que ir pela floresta. - abraçou-a pelos ombros levando-a para a porta. — Dirigirei com cuidado, pode deixar.
Clara olhou para Cedar por cima do ombro, um sentimento de desesperança tomando sua mente.
Saíram pela porta e ela não o viu mais. Painting colocou o capacete nela e a ergueu para sentar-se na motocicleta.
Quando ele ligou a moto, ela arquejou, chorando. Não queria, porém estava sendo levada para longe do seu amor sem saber se ele ficaria bem.
Cedar... Cedar... - chamou-o mentalmente, enquanto a moto se embrenhava na floresta.

CEDAR: Uma história Novas Espécies 5Onde histórias criam vida. Descubra agora