Capítulo 12

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Clara tinha direito a três dias de folga e aproveitou as lanchas que levariam a família de Fiber até Rio Branco e falou com Sky, o novo chefe da segurança, que gostaria de ir  com eles.  Pretendia comprar pessoalmente medicamentos.
Sentada com Aruana, protegidas contra o vento, Aruana contava sobre como conhecera o companheiro. Clara sabia que ela não estava contando tudo, mas percebia nas entrelinhas como o relacionamento fora intenso.
— Então todos os... acasalamentos... aconteceram em pouco tempo?
— Quando um espécie escolhe uma companheira, ele não desiste até tê-la. E é meio difícil resistir a um deles. - sorriu e beijou o bebezinho.
Clara sabia que tinha dois meses, porém parecia mais.
— Gosto muito de aprender sobre as Novas Espécies.
— Eu já ouvi muitas histórias, mas há aquelas que não me contaram ainda. Meu instinto de repórter anseia por saber mais.
— Essa revista que você será a editora é para os humanos, não é?
— A verdade é que a ONE deseja ser mais entendida por nós.
— Existem tantas narrativas contraditórias...
— E muitas maliciosas. - olhou para o companheiro que pilotava uma das lanchas. — Meu companheiro conviveu com muitos humanos e já se acostumou às teorias de conspiração, mas outros espécies ainda se ressentem muito.
Estavam chegando em Rio Branco e Aruana segurou sua mão.
— Não é fácil ser a companheira de um espécie. Você perde a sua liberdade no nosso mundo, mas a recompensa vale a pena. Você se tornará tudo no mundo do seu companheiro.
Clara ouviu com atenção, imaginando que ela falava sobre Painting.
— Eu e ele somos apenas amigos.
— Amigos? Da forma que vocês se olhavam na festa!
— Eu e Painting?
Aruana riu se sacudindo e o bebê resmungou. Ela beijou a cabecinha de cabelos negros arrepiados. Olhou para Clara.
— Painting? Ele é inteligente e lindo, mas você sabe de quem estou falando.
Clara abriu a boca, o rosto muito quente mostrando seu constrangimento.
— Não. Não é assim.
Aruana lhe deu um olhar demorado.
— Nossos machos são muito mais intensos, mais possessivos que os homens comuns.
— Cedar... Ele não me acha atraente.
—  Com o pouco que eu vi, sei que não é assim. Ele pode estar confuso, mas irá atrás de você se a quiser. Esteja preparada.
Clara queria desabafar com Aruana. Fizera amizade com algumas Novas Espécies e humanas, porém não conversara sobre Cedar.
— Eu me sinto muito atraída por ele.
Aruana sorriu.
— Você não vai se arrepender de se envolver com ele.
Uma fêmea se aproximou delas por causa de Elo e mudaram de assunto.
Em Rio Branco Clara viu como a vida das Novas Espécies era complicada. Para pegarem veículos para chegarem ao hotel onde ficariam por algumas horas, quatro oficiais cercavam Fiber e Aruana, por causa do bebê. Dois oficiais ladeavam Clara e mais dois formavam uma retaguarda para o grupo.
Os homens gigantes e fortes estavam todos armados. Pessoas paravam com os celulares apontados para o grupo exótico. Algumas tocavam as Novas Espécies que se mantinham muito alertas.
No carro com três oficiais, Clara admirava a cidade. Era relativamente jovem e estava em franco desenvolvimento.
No grande hotel, o grupo voltou a chamar a atenção. Ficariam ali até o horário que o jatinho da ONE chegasse e o bebê descansasse para a próxima viagem.
Dois oficiais, Firmness e a outra fêmea acompanharam Clara nas compras que demoraram um pouco mais pelas pessoas que cercaram a loja para verem os seres diferentes.
Clara comprou os medicamentos e quis conhecer a cidade, almoçar num restaurante, contudo seria muito complicado. Entendeu o que Aruana dissera sobre a vida ao lado das Novas Espécies. Pensou agora em Cedar. Ela já o conhecera como um líder forte e ponderado, mas não conseguia imaginá-lo sendo torturado para uma farmacêutica prosperar. Como será que ele lidava com essas lembranças?
Mais tarde, acompanhou o grupo para o aeroporto. Repórteres os cercaram e Fiber parecia disposto a atacar qualquer um que se aproximasse da sua mulher e filho.
Quando finalmente partiram, Clara desejou que a felicidade acompanhasse aquela família.
Passaram a noite no hotel, ela, a única humana e achou interessante que a mulher Nova Espécie fizera questão de dormir no seu quarto.
Na volta, as Novas Espécies pareciam mais descontraídas sem seus escoltados.
Clara sentia-se feliz por voltar para Homeland III. De todos os lugares em que trabalhara era em Homeland que se sentia mais em casa. A atração por Cedar estaria colaborando para esse sentimento?
Chegaram na colônia no final da manhã. Clara gostara do passeio, mas sentia cada ossinho do corpo doendo.
No cais, não viu Emerald, Cloud se aproximou dela.
— Clara Domingues, está sendo convocada ao escritório de Cedar.
— Ah, obrigada.
Ela não entendeu o motivo de ser chamada. Será que fora por deixar a clínica sob responsabilidade de Painting? Esperou que nenhuma emergência tivesse acontecido.
Um Nova Espécie levou os medicamentos para a clínica e ela foi levada de jipe por Cloud na direção dos escritórios.
Chegou no prédio de um andar ansiosa. Ver Cedar sempre a deixava daquele jeito.
Cloud bateu na porta da sala de Cedar, que respondeu que entrasse. O homem a deixou lá e saiu.
Clara entrou na sala e o viu sentado atrás da grande escrivaninha. Decidida a agir com naturalidade, deu um sorriso.
— Oi.
— Quem autorizou sua saída da colônia?
— O quê?
— Soube apenas ontem à noite que você saiu sem minha autorização.
Ele ficou em pé e parecia ameaçador.
— Eu falei com o Sky.
— Ele não é o diretor dessa merda.
Clara abriu a boca, surpresa pelo reação dele.
— Eu não sabia que não tinha liberdade para sair quando quisesse.
— A operação de ontem era de risco. Você nunca deveria estar junto.
— Também não é assim...
— É assim, sim. Funcionários da ONE já foram atacados. Por que acha que assinou um termo de anuência às práticas de segurança da ONE?
— Mas eu estava com a escolta da família de Fiber.
— Se fossem atacados não seria poupada. E você saiu pela cidade.
— Fui acompanhada.
— Colocou minha equipe em risco.
— Eu sinto muito. Não sabia que...
— Não saia mais daqui sem minha permissão.
— Emerald e Verity me asseguraram que era só uma questão de vaga nas lanchas.
— Você se dirigirá a mim se precisar sair. Sua segurança é minha responsabilidade.
Clara franziu a testa. Por que ele estava tão tenso?
— Isso é com todos ou só comigo?
— Você precisa ser protegida.
— Eu estava protegida.
Ele apertou os punhos ao lado do corpo.
— Não sairá mais.
— É claro que eu posso sair.
— Não. Sua saída não será mais autorizada.
— Mas eu posso querer passar minha folga em Santa Rosa ou até em Rio Branco.
— Não.
Clara colocou as mãos na cintura.
— Está dizendo que sou prisioneira aqui?

Cedar ouvira Sky comentar na noite anterior sobre a saída de Clara. Só em pensar que ela correria risco naquela operação ficara furioso. Esbravejara contra seu chefe de segurança e com qualquer um que pudesse ter permitido sua saída. Sabia que estava exagerando, pois ela era a fêmea de Painting, mas perdera o controle. Só se acalmara ao falar com o chefe da equipe em Rio Branco e assegurar-se que ela estava bem. Dera a ordem que a escolta feminina a vigiasse durante a noite.
Não entendia como Painting a deixara sair sem ele.
Contara cada hora daquela manhã até ela chegar. Vira a lancha aportar pelas câmeras da sala da segurança e acompanhara quando Cloud a encontrara. Ao vê-la tão pequena em relação aos espécies ao redor ficara muito incomodado; ela era muito frágil.
Sentira raiva. Aquela mulher se excitara por ele, mas entregara sua virgindade a outro. Por que estava tão zangado por ela ter se colocado em perigo?
Se prometera manter a passividade quando falasse com ela, porém seu sangue esquentara no momento que ela entrara no seu escritório. Agora ela o encarava petulantemente com as mãos nos quadris.
— Não é prisioneira.
— Você disse que não posso sair.
— Sem a minha autorização.
— Então eu posso passar o dia em Santa Rosa amanhã?
— Não.
— Sou sua prisioneira?
Cedar se aproximou e a segurou pelos ombros. Clara ofegou e ele sentiu vontade de beijá-.la.
— Estou protegendo você.
Ela ergueu o rosto para olhar em seus olhos, parecendo muito irritada.
— Não pode me proteger me prendendo!
— Eu posso.
— Farei queixa de você!
— Para mim mesmo?
— Esse seu autoritarismo é assédio moral, sabia?
Cedar a puxou e ela arfou. Ele ainda sentia o toque nela de dias atrás e se perguntou se ela sentia também.
— Pergunto novamente: para quem se queixará?
— Me queixarei ao Justice North!
— Ao meu amigo Justice? - as mãos dele deslizaram por suas costas e Clara engoliu em seco. — Você vê, Clara? Está em minhas mãos.
Ela entreabriu os lábios e ele enfiou as mãos por debaixo da sua camiseta; a apertou mais contra seu corpo, sentindo a pele muito macia.
— Por quê? - ela perguntou e ele franziu as sobrancelhas, sem entender. — Você é sempre... difícil comigo.
— Fui difícil da última vez?
— Foi. - olhou-o com intensidade
— O que eu fiz? - perguntou com o olhar malicioso , acariciando sua pele.
Os batimentos cardíacos de Clara aceleraram e ele viu quando o desejo surgiu em seus olhos. Desceu as mãos até a curva de sua lombar e ela respirou profundamente.
Clara acariciou o peito dele e as narinas de Cedar inflaram.
— Você parou de me beijar... - ela sussurrou.
— Quer que eu te beije, pequenina?
— Me beija, Cedar. — ela ergueu as mãos e, se colocando na ponta dos pés, o abraçou pelo pescoço. — Me beija.

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