Capítulo 53

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Cedar e Clara passaram a tarde na cama, apenas conversando. Ele a tocava com delicadeza, matando a saudade das curvas suaves. Clara dizia que tinha vergonha de ser tão magra, porém ele gostava do contraste entre seus corpos. Sentia-se dominando-a enquanto fazia amor nela.
Quando dissera isso à Clara ela o acusara de ser machista. Ele nunca ouvira o termo e, depois da explicação dela, dissera que os espécies eram machistas então.
Conversar com ela era muito bom. Gostava quando Clara lhe explicava algumas facetas dos seres humanos e se divertia quando ela se chocava com algo relativo aos Novas Espécies.
Agora Clara conhecia o pior lado de um macho espécie. Mas ele queria ser o melhor macho para ela, mesmo que tivesse que manter seus instintos sob controle. E não seria nada fácil, não era Justice. Bem, até seu amigo perdera o juízo quando Brawn ameaçara conquistar a sua Jessie.
Clara segurou a barriga.
— O que foi?
— Seu filho aprendeu mesmo a se mexer.
— Deixe eu sentir. - ele se sentou e pousou a mão na barriga dela, sentindo a ondulação. Deu um sorriso; Isaac parecia ser um bebê forte! — Mexe muito.
— E só começou hoje!
Cedar se inclinou, levantou a blusa de Clara e beijou a barriga. Piscou rapidamente quando sentiu um odor diferente. Colou o nariz na barriga e inspirou fundo.
— Estou sentindo o cheiro do Isaac,
— Está?
Ele já sentira aquele cheiro antes. Cedar inspirou novamente. Tinha um toque mais suave, contudo definitivamente era o seu próprio cheiro.
— Ele cheira como eu.
— É sério?
Ele ergueu o rosto.
— Sim. É um cheiro um pouco diferente, mas é o meu.
Clara passou os dedos entre os longos cabelos castanhos e ele abaixou a cabeça.
— Será que esse menino terá algo de meu?
Cedar deu um sorriso.
— Espero, para meu próprio sossego, que ele puxe o seu temperamento.
Clara riu e puxou seu rosto para um beijo estalado.
— Eu sou calminha, é?
— Pensando bem...
Ela o abraçou e ele escondeu o rosto em seu pescoço.
— Eu te amo, minha fadinha.
— Também te amo. Muito.
Eles ficaram em silêncio, Clara mexendo em seus cabelos. Cedar não conseguia lembrar de nenhuma ocasião em que se sentira tão sereno.
Sus mulher adormeceu em seus braços e ele ficou muito quieto, apenas acompanhando sua respiração suave.
Ele viu a tarde chegar ao fim, satisfeito por sua separação também chegar ao fim.
Seu celular tocou na sala e ele se levantou com cuidado para não acorda-la.
Chegou ao cômodo e pegou o celular. Era Kindness.
— Cedar.
Cedar, Sky está aqui com o representante dos humanos.
Cedar franziu a boca. Havia esquecido do compromisso quando avisara ao secretário que voltaria mais tarde.
— Peça a Sky que receba o relatório do Menezes. Eu chegarei daqui a pouco. - houve um momento de silêncio. — Mais alguma demanda?
— Desculpe, é que nunca vi você atrasar um compromisso.
— Certo. Chegarei em breve. - encerrou a chamada e enfiou o aparelho no bolso.
Ainda era o líder da colônia, deveria atender todas as exigências do seu cargo, porém naquele momento queria ser apenas o companheiro de Clara.
Foi para o quarto e Clara estava sentada na cama.
— Eu acordei você?
— Senti sua falta.
Ele sorriu de felicidade. Era bom demais tê-la de volta.
— Tenho uma reunião no escritório. Quer ir comigo?
— Tenho que voltar ao dormitório. - Cedar sentiu um baque no coração. Ela iria embora? — Preciso de roupas.
O alívio o tomou. Sentou-se ao lado dela e acariciou o seu rosto.
— Eu irei até lá e trarei suas roupas.
— Roupas, sapatos, meus hidratantes e cremes de massagem...
— Pedirei ajuda.
— Eu vou na frente para arrumar tudo. - Cedar apertou os lábios. — O que foi?
Ele respirou fundo.
— Não queria que deixasse nossa casa.
Clara segurou seu rosto com as duas mãos.
— Acha que eu não voltarei? - Cedar apenas a encarou e ela encostou a testa em seus lábios. — Não fique assim.
Ele a beijou.
— Tenho receio que você mude de ideia.
— Eu não vou mudar.
Ficaram um momento se beijando. Cedar se afastou com gentileza.
— Ligarei para Verity para te acompanhar. Traga só o que precisar para hoje. Mais tarde irei buscar o restante.
— Tá. - Cedar beijou as mãos dela e se levantou. — Amor?
— Sim?
— Você vai destrancar  a casa?
Ele sorriu.
— Você voltará para cá?
— Com certeza, meu senhor.
— Então destrancarei tudo.
— Você sabe que me sequestrou, não sabe?
— Sei.
— Você é o líder da colônia; deveria dar exemplo.
— Eu faria tudo de novo.
Clara balançou a cabeça, num sorriso perplexo.
— Vocês, Novas Espécies, são surpreendentes!
Cedar sorriu.
— Preciso ir. Ligarei para Verity no caminho.
Ele saiu, com o sorriso de Clara em mente. Faria tudo, tudo para fazê-la feliz.

Clara, depois de levar duas mudas de roupas para sua casa, aproveitou para contar a Confidence e Verity sobre a reconciliação com Cedar. As duas mulheres vibraram, felizes.
Depois foram para o Clube para o jantar. Para Clara tudo parecia novo. Cumprimentou todos com um sorriso e foi para o bufê. Serviu-se com um apetite que não tinha há duas semanas.
Estela só faltou quebrar a mão de tanto que acenou para ela.
Clara gostou de compartilhar aquele momento com as mães. Contou que havia se reconciliado e Estela confessou que o marido vira Cedar carregando-a para sua casa. Clara satisfez a curiosidade das mulheres, sem disfarçar a sua felicidade.
Estela decidiu que deveriam fazer logo o chá de bebê e Clara concordou que fosse no início do mês seguinte para que sua mãe e irmãs se preparassem para a viagem até Homeland III. Foi a última humana a sair do refeitório, levando um potinho com doce de abóbora que Tenderly separara para ela.
Quando entraram na vila de residências, alguém surgiu das sombras, assustando-a.
— Painting!
O homem parou à sua frente.
— Não te encontrei hoje em lugar nenhum.
— Eu nem sabia que tinha voltado. Você saiu e...
— Estava com Lion.
— Ah...
— Voltei por causa da clínica.
— A Pintada sentiu sua falta.
Ele deu um sorriso que parecia mais um esgar.
— Só ela?
Verity deu um passo na direção dele.
— Todos sentiram sua falta.
Painting olhou para a amiga por um momento e de volta para Clara.
— Você não apareceu o dia todo.
— Hoje eu fiz exames.
— Eu estava caminhando para o seu dormitório agora.
Clara ficou tensa.
— Eu não estou mais no dormitório feminino.
Painting franziu a testa.
— Para onde foi?
Clara ergueu o queixo.
— Voltei para casa.
A surpresa dele foi audível. Colocou a mão sobre o coração e recuou.
— Você está brincando.
— Não.
Painting encarou Clara, seu rosto se alterando.
— Voltou para o espécie que te acusou de traí-lo?
Clara não queria falar sobre aquilo com ele.
— Eu já vou indo. A gente se vê amanhã.
— Por que fez isso? Cedar não é o macho para você.
— Por favor, meu amigo. Isso só diz direito a mim.
— Clara, você não pode...
— Amanhã a gente se fala. - segurou o braço de Verity. — Vamos?
— Clara...
Verity estendeu a palma da mão para ele.
— Pare, Painting. Deixe Clara em paz. - ele cerrou os punhos ao lado do corpo. Verity abaixou a mão. — Sei o que você está sentindo, querido, mas é hora de desistir.
— Você não sabe de nada.
Verity se afastou sem dar as costas à  Painting. O coração de Clara acelerou e observou o amigo voltando para as sombras do caminho. Verity abraçou Clara pelos ombros e caminhou com pressa e Clara quase não conseguiu acompanhá-la.
A Nova Espécie só diminuiu a velocidade quando chegaram na cabana. Abriu a porta e logo que Clara entrou acendeu as luzes da varanda e trancou a porta.
— Verity?
— Fique tranquila.
— Talvez eu devesse ter conversado um pouco mais com ele.
— Aquele macho está saindo do controle. - Clara entreabriu os lábios. — Você não sabe como nossos machos ficam quando amam uma humana.
— Você está preocupada com isso?
— Já vi o que acontece quando outro macho interfere com o casal. Um amigo meu teve a garganta esmagada quanto tentou reivindicar uma fêmea que amava outro macho.
— Que horror!
— Um outro quase morreu sufocado, porque insistiu em reivindicar uma humana. Você conhece, é o Blade.
— Mas ele não é companheiro da doutora Thainá?
— Não são companheiros. Blade ainda está preso à Cecília.
— Quem é?
— A companheira de Jaded Wild.
— Oh!
— Quando um macho ama, isso toma conta dele. Até o Justice quase agrediu um macho só por ele mostrar interesse pela Jessie.
— Nossa! O Justice?
Verity puxou Clara até o sofá.
— Para você ver. Cedar ficou louco de ciúmes, lembra?
— É claro que sim.
— Painting era um macho tranquilo e afável. Ele claramente não tem sido ele mesmo.
Clara se recostou no sofá e pousou as mãos sobre o ventre. Verity sentou ao seu lado.
— Você deve se afastar dele, Clara.
— Nós dois somos essenciais para a clínica.
— Vou falar com o Cedar.
— Não, não precisa.
— Clara, Painting não é humano. Você não pode confiar nele.
— Eu pensarei em algo... Mês que vem Cedar voltará para Homeland. Eu irei com ele.
Verity franziu os lábios.
— Eu direi ao Cedar.
— Vamos esperar eu passar todas as atribuições da clínica para o Painting. Depois eu me afastarei.
— Não acho certo.
— Não quero que Painting tenha a graganta esmagada ou seja sufocado.
— Porque Cedar fará isso, com certeza.
Clara segurou a mão da amiga.
— Vai dar tudo certo. - ela inspirou fundo desejando que aquilo fosse verdade. — Que tal um sorvete caseiro?
— De coco? É horrível.
— Foi o Cedar quem fez.
— Ele tem mau gosto.
Clara foi rindo até a cozinha. Enquanto se servia do sorvete, seu riso diminuiu. Ela também estava muito preocupada com Painting,mas faria de tudo para evitar um confronto violento entre ele e Cedar.
Suspirou. Ela e Cedar viveriam um recomeço e não queria que nada os atrapalhassem.

CEDAR: Uma história Novas Espécies 5Onde histórias criam vida. Descubra agora