Clara gritou e agarrou a mão de Painting, os olhos embaçados pelas lágrimas.
— Não, Painting! - ele a soltou, mas segurou sua mão. — Eu te imploro, não faça isso.
Ele a encarou por um longo momento, depois tornou a olhar para Cedar.
— Ordene que os espécies vão embora.
A última luz do dia tornava a cena melancólica, além de tensa.
— Não.
— Se você quiser sobreviver, faça isso.
— Mesmo que me mate, meus espécies não deixarão que leve minha mulher.
— Quer que ela saia ferida?
— Se feri-la é porque não a ama.
As narinas de Painting inflaram.
— Tem razão. E você também não.
— Pergunte à ela. Pergunte o que ela quer.
Cedar estremeceu, a pele se tornando pálida rápido demais e Clara tentou se soltar. Painting manteve a arma apontada para Cedar e voltou a abraça-la.
— Recolha seus espécies.
— Pergunte.
Painting rosnou.
— Eu sei a resposta.
— Se sabe, se ela perder nosso filho, jamais perdoará você.
— Com o tempo...
— Eu vou te odiar mais! - Clara vociferou.— Você era meu amigo, meu melhor amigo... Como pode dizer que me ama?
— Eu amo você!
— Você quer matar o homem da minha vida! Quer matar o meu filho!
— Você é o amor da minha vida!
Clara sentiu as grossas lágrimas escorrerem pelo rosto.
— Se você me ama, me deixe ser feliz.
— Será feliz comigo.
— Não. Sabe que não serei. - ela olhou para Cedar que se encolhia, enquanto Thainá o tratava.
Painting deu uma passo na direção de Cedar ainda com a arma apontada e Clara cravou as unhas nele. Entretanto o interesse de Painting não era Cedar. Apontou a arma para a cabeça de Thainá.
— Levante.
— Não! - gritou Blade.
A médica ergueu os olhos.
— Preciso estancar o sangramento.
— Levante!
Blade ergueu as mãos.
— Painting, por favor!
— Ela vai comigo.
— Deixe ela e Clara.
— Clara precisa de cuidados.
— Painting... Pare de apontar esta arma para minha mulher.
— Ela não é sua.
— Eu sou dela. Ela me ama e eu a amo.
— Se ama sabe que não posso viver sem a mulher que eu amo.
— Para onde vai leva-las?
— Não interessa.
— Eu vou atrás de você se sair daqui com minha companheira. E vou te matar.
— Depois a deixarei livre. Só preciso que...
Então, enquanto a atenção de Painting estava em Blade, Cedar deu um salto e agarrou as pernas dele, derrubando-o. A arma disparou e Thainá agarrou Clara; as duas caíram para o outro lado.
Foi o que precisava acontecer.
O momento se tornou em polvorosa. Cedar se arrastou sobre Painting, segurando seu braço com a arma, que disparou mais duas vezes, assustando novamente os pássaros.
Blade soltou um urro e agarrou o braço de Painting.
Painting conseguiu se livrar de Cedar e virou a pistola para Blade.
Clara tentou se levantar, porém Thainá a agarrou. Dois espécies as cercaram e ergueram, se afastando.
Blade girou o braço de Painting, mas não conseguiu impedi-lo; o alvo claramente era Cedar.
Dando um chute em Blade, Painting o afastou.
Os outros quatro espécies se lançaram contra Painting, porém ele correu na direção de Clara.
Cedar se ergueu, a frente das calças úmidas com a mancha de sangue que se expandia; agarrou Painting pelas costas, rodou-o e o lançou longe, bem à beira do barranco.
Furioso, ajoelhou-se e apontou a arma para Cedar.
— Se der mais um passo eu atirarei.
Cada vez mais pálido, Cedar parou.
— Acabou, macho. Largue essa arma.
Painting foi cercado pelos oficiais e se levantou, sempre mirando o seu líder.
— Eu posso fazer Clara mais feliz.
— Me matando?
Olhando para todos os lados, Painting fez uma careta e depois para Clara.
— Clara... Venha para mim ou eu terminarei meu serviço.
Franzindo fortemente as sobrancelhas, Cedar urrou e pulou contra Painting. A arma disparou outra vez, ao mesmo tempo que a de um dos oficiais e Cedar trombou com Painting fazendo ambos despencarem na direção do rio.
— Não! - Blade gritou, mas não era para Cedar que olhava.
Aos pés de Clara, Thainá estava deitada de bruços, a cabeça sangrando.Quando Cedar percebeu que estava caindo, se preparou para o choque com a água turva. Ainda estava agarrado à Painting e quando o choque ocorreu, sentiu uma dor imensa.
Água barrenta entrou em sua boca e nariz e seu peso e o de Painting logo os puxou para baixo.
O rio, que parecia plácido na superfície, possuía uma correnteza forte.
Painting começou a se debater e Cedar quase o perdeu para o fluxo da água. As águas do eram escuras e não conseguia vê-lo, contudo se agarrou ao que pôde.
Bateu as pernas e se impulsionou para cima.
Sentia uma dor cortante na lateral do corpo e sua cabeça pesava.
Um movimento forte ao seu lado o deixou apreensivo, porém logo sentiu uma mão o agarrar. Percebeu outra presença e seu corpo ficou leve quando Painting foi arrancado de sua mão.
Chegou à superfície e puxou o ar com força.
— Cedar! - Sky o ajudou a manter o rosto fora da água. — Relaxe, eu estou com você!
Cedar obedeceu imediatamente, pois sentia-se prestes a desfalecer.
Outro espécie surgiu ao lado deles, ajudando Sky a reboca-lo.
À Cedar pareceu uma longa distância, a água morna do rio contrastando com sua pele fria.
Sentiu, mais do que viu, seu corpo ser carregado por uma parte rasa e, logo em seguida, arrastado através da vegetação da margem do rio.
Tossiu, expelindo a água e sentiu uma mão esfregando suas costas.
— Cedar!
Ele ouvia a voz, entretanto apenas distinguia formas escuras no anoitecer.
— Clara... - murmurou e fechou os olhos.Aterrorizada, Clara não sabia para onde olhar; se para o vazio onde estavam Cedar e Painting ou para Thainá caída.
Os homens gritaram e alguns saltaram barranco a baixo, para mergulharem no rio.
Blade pulou para onde estava Thainá e se ajoelhou. Ele a virou e arregalou os olhos ao ver os cabelos dela molhados de sangue. Blade ergueu o rosto para o céu manchado de azul e lilás e uivou.
Clara estremeceu e correu para a beira do barranco. Olhou para baixo e viu os Nova Espécies nadando velozmente e mergulhando logo depois. Seu baixo ventre se contraiu e ela se ajoelhou, ignorando as pedrinhas que furaram seus joelhos. No desespero, a sua mente formou a ideia de perder seus amores no mesmo dia.
Virou-se quando sentiu uma mão em suas costas. Starlight a segurou.
— Fique calma, os oficiais vão traze-lo.
Clara segurou a mão que ele lhe ofereceu. Seu coração acelerou mais ainda quando viu os homens que mergulharam, emergindo com dois corpos.
— Meu Deus!
Os nadadores foram em direção à margem do rio.
Um Nova Espécie ruivo parou ao lado de Starlight.
— O barco está se afastando.
O homem silvou.
— Quem ainda temos?
— Eu e você. Blade está... - apontou com o polegar.
— Não poderemos ajudar Blade agora. Vamos atrás daquele barco.
Starlight a ergueu e a levou para perto de Blade. Clara arfou ao ver o homem enorme agarrado à Thainá.
O ruivo segurou o rosto de Blade.
— Precisamos alcançar o barco.
— O barco?
Blade parecia não entender. Starlight puxou o homem ruivo.
— Vamos.
Os dois olharam para Clara. Starlight parecia assustado e preocupado.
— Companheira de Cedar, nós voltaremos logo.
E numa velocidade que Clara não achava possível, os dois correram à margem do rio.
Clara sentia dor, estava apavorada, porém não conseguiu ficar à parte do drama à sua frente. Blade, com a cabeça da namorada sobre sua coxa, pegava muito atrapalhado, um pacote de gaze.
Clara segurou a barriga quando Thainá não reagiu quando Blade pressionou a gaze no ferimento,
Isaac, Cedar, Thainá... Aquilo era demais para ela. Um som agudo encheu os seus ouvidos e ela sentiu seu corpo amolecer. E tudo se fez escuridão.
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CEDAR: Uma história Novas Espécies 5
Science FictionCedar é um dos Novas Espécies, seres humanos criados em laboratórios da indústria farmacêutica Mercille. As Novas Espécies tiveram seu DNA alterado com DNA de alguns animais. Cedar é membro do Conselho das Novas Espécies e atualmente cumpre seu trab...