Capítulo 37

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Chegou a hora de Clara contar à família que estava grávida. Enrolara o máximo possível, mas estava de seis semanas e sua cintura já começava a engrossar. Revelar sua gravidez não seria o mais grave. Dali um mês e meio Cedar deveria estar em Homeland
Pegou o telefone e ligou primeiro para a mãe. Deixou que ela falasse sobre a melhora do pai e contasse as ultimas novidades dos irmãos. Depois tomou fôlego e contou primeiro sobre a viagem para a Califórnia. Como da primeira vez que falara do assunto, a mãe se lamentou, pois ficaria longe da filha caçula. Foi compreensiva com ela, deixando que reclamasse.
Então, se encheu de coragem e contou sobre a sua gravidez. A mãe gritou ao ouvir a notícia e Clara ouviu a voz do pai ao fundo, alarmado. Esperou a mãe se acalmar, dando tempo para ela digerir o que ouvira.
Mais calma, sua mãe começou a perguntar sobre a gravidez, se teve enjoo, se estava com desejos... Clara se surpreendeu como sua mãe mudara de julgadora à avó tão rápido. Aproveitou e contou do nome que haviam escolhido para o bebê.
A mãe reclamou muito que seu neto nasceria longe da família, contudo Clara prometeu que ela seria recebida em Homeland quando chegasse a hora. Só não falou que o bebê nasceria de 5 meses.
Verity a levou para o jantar e falou do último encontro com Everaldo. Ela achava engraçado que ele sentisse vergonha de frequentar o dormitório feminino, apesar de Cedar ter lhe dado autorização de vir quando quisesse.
Verity gostava de fazer suas refeições junto com os humanos; os achava muito interessantes. Para Clara confessara que gostava mais do jeito humano de fazer amor. Achava que eram mais carinhosos. Clara discordava; Cedar era muito carinhoso com ela.
Foi para o bufê onde se serviu de arroz, feijão, legumes e muita carne de boi. Na última semana passara a desejar seu bife malpassado.
Verity a olhou, admirada com a quantidade de comida em seu prato. Clara apenas sorriu para ela.
Naquele dia, Cedar contara ao Conselho que seria pai. Um Conselheiro chamado Bestial disse que nunca se apaixonaria por uma humana. Cedar disse que no passado ele tivera a mesma opinião.
Clara decidiu que contaria às suas madrinhas naquele dia. Depois do jantar convidou Estela para passar na sua casa. Emerald foi convidada também e foi a última a chegar.
Quando ela entrou, Clara disse que tinha algo para contar.
— Seu pai já está bom? - perguntou Estela.
— Vai se casar antes de viajar, já sei. - declarou Verity.
Clara negou com a cabeça.
— Nada disso.
Emerald foi a última a falar.
— Você vai deixar Cedar.
As três mulheres a olharam.
— Claro que não. Por que eu faria isso?
— Por serem tão diferentes.
— Que ideia! - exclamou Verity. — Clara e Cedar já são um casal.
— Cristal e Oak também.
Clara franziu a testa.
— Emerald, você está pensando em algo ruim.
— Eu só pensei que você poderia querer ficar no seu país.
— Eu ficarei onde Cedar estiver.
Emerald deu tapinha na mão de Clara.
— Você está muito certa.
Estela interrompeu o mal-estar.
— Mas o que era a novidade?
Clara sorriu e colocou a mão na barriga. De repente a blusa larga não conseguiu esconder a protuberância evidente.
As três mulheres arfaram.
— Você... está grávida? - se espantou Emerald.
— Estou!
— Mas como escondeu isso da gente? - Estela estava muito surpresa.
— Eu vou ser tia! - exclamou Verity.
As três começaram a falar ao mesmo tempo e Clara só sorria.
— Por que escondeu? - Estela insistiu.
—Eu estava me acostumando com a ideia.
— É do Cedar? - perguntou Emerald. — Ou do Painting?
O silêncio que caiu na sala foi constrangedor. Então Verity o quebrou.
— Está doida, Emerald?
— É normal eu perguntar. Ela estava envolvida com os dois.
— Não desse jeito.
Emerald se virou para Clara.
— Vocês ficaram juntos. Ele te visitou no dormitório feminino. E continua te amando.
— Emerald, você está sendo demais!
Estela olhou para Clara, surpresa.
— Então é sério que você e Painting tiveram um caso?
— Não assim! - Clara encarou Emerald.
— Olha, Clara, você é humana. Sei que eu também teria medo de contar ao Cedar.
— Emerald... o que você...
— Não acho isso certo. Eu vejo como Painting trata você. Se o Cedar soubesse mataria vocês.
— Você não tem que julgar o que há entre mim e Painting.
— Primeiro, Cristal e agora você. Não quero ver uma morte por causa de um triângulo amoroso.
Uma voz cavernosa interviu.
— Quero que saiam.
Verity e Emerald deram um pulo, Estela arquejou e Clara olhou para seu companheiro com os olhos arregalados.
— Cedar! Não sabia que ia chegar cedo!
O rosto dele estava feroz e os punhos apertados aos lados do corpo.
— Saiam todas.
Clara se levantou, acompanhando com espanto Verity e Emerald saindo de cabeça baixa.
— Amor, estávamos conversando.
Ele a olhou de uma maneira tão estranha que, sem perceber, Clara cobriu o ventre com as mãos.
— Cedar,... - começou Estela. — Sei que está confuso, mas era só uma conversa!
Clara a olhou.
— O quê?
— Clara, eu acho que o Cedar ouviu nossa conversa e...
— Companheira de Vengeance, saia.
— Emerald fez comentários apenas! Não é o que está pensando!
Ele rosnou para ela e Estela arregalou os olhos.
— Cedar! - Clara chamou, sem entender o estado dele.
Ele deu dois passos para Estela, que recuou, mas ergueu o queixo.
— Não sairei daqui enquanto você não entender.
Cedar fez algo que Clara achou inadmissível. Segurou Estela pelos ombros e, com muita facilidade, a levou até a porta, abriu-a, colocou-a do lado de fora e trancou a porta.
— Cedar, o que está acontecendo? - perguntou, assustada.
— Você compartilhou sexo com aquele macho?
— O quê? - o coração de Clara desfaleceu.
— É o seu segredo e de Emerald?
— Cedar?
— Compartilhou ou ainda compartilha?
Então Clara entendeu o que estava acontecendo. Cedar ouviu a conversa e achava que... Não, não podia ser!
— Pelo amor de Deus, o que você está pensando?
Ele apontou para sua barriga.
— Fale a verdade! De quem é esta criança?
O coração de Clara batia com tanta força que se sentiu sufocada.
— Não acredito... - falou num fio de voz.
— Quando me contaria? Quando a criança nascesse e descobrisse quem era o pai?
Clara estava chocada. Chocada demais. Ela não escondera de Cedar que beijara Painting, mas não acreditava que ele poderia pensar que o enganara. Sentiu uma dor verdadeira no coração.

Cedar lutara contra técnicos em Mercille. Matara alguns durante os anos da sua prisão, sem remorso nenhum. Mas depois que fora libertado, tudo em que pensava era em paz.
Contudo nunca confiara nos humanos. Homeland e a Reserva foram atacadas, a vida de espécies haviam sido colocadas em risco. A selvageria do seu povo fora demonstrada sempre que sofreram ataques. Ele podia ser tão letal quanto seus irmãos e quando matava humanos que os atacava, não se incomodava. Sua raiva porém era direcionada apenas aos inimigos da ONE.
Por isso, respirava profundamente enquanto encarava a pequena humana à sua frente. Nunca amara ninguém, fosse espécie ou humana. Todo aquele sentimento novo era apenas para Clara.
Deixara o serviço mais cedo, sentindo muito a falta da sua mulher. Ouvira vozes na sala e lembrou-se que Clara receberia visitas. Sorriu. Ela contaria a ela sobre o bebê, assim como ele contara ao Conselho. O nascimento daquela criança traria alegria a várias pessoas.
Então ouvira a pergunta de Emerald: É do Cedar? Ou do Painting? Por que aquela fêmea perguntaria aquilo? Só se ela soubesse que Clara fora ou era amante de Painting. De repente pensou em Cristal e Oak. A fêmea dizia amar Oak, mas o traíra com Mount que também amava a fêmea.
— Me responda, Clara. - os olhos dela encheram de lágrimas, mas apenas balançou a cabeça. — Me diga que eu ouvi errado. - Clara abraçou a própria cintura e se sentou. Parecia tão frágil... — É verdade que Painting continua te amando?
— Sim.
— E você continua ao lado dele sabendo disso?
— Sim.
— Você compartilhou sexo com ele?
Clara abaixou a cabeça.
— Ele é um homem bom.
— Não somos homens e não somos bons para as fêmeas que queremos. Somos seu macho. - deixou as presas à mostra. — Ele é bom para você?
Clara ergueu a cabeça e lhe deu um olhar cortante. Cedar deu mais um passo e suas pernas se encostaram aos joelhos dela. Ela descansou a cabeça no encosto do sofá erguendo o rosto para encará-lo. Cedar apertou mais o punho sentindo as unhas romperem a pele. Tremia de puro ódio.
— Sei que era virgem quando te tive... Não fui o bastante para você?
— Não está sendo agora...
Cedar franziu as sobrancelhas
— Essa criança é minha? - ela ficou de pé num pulo, batendo contra o corpo dele. Cedar a segurou, manchando seus braços de sangue. — Responda!
Ela começou a chorar e apoiou a cabeça no seu peito. Cedar sentiu-se desesperado. Lembrou-se de uma noite em haviam quebrado seus braços para testar um medicamento; ficara no escuro sentindo dor e solidão e, entre as lágrimas, apenas desejara a morte. E naquele momento tudo o que desejava era estar morto. Morto para não sofrer tanto. Segurou o rosto dela, o sangue se misturando com as lágrimas.
— Pelo amor do seu Deus, Clara, diga que nada disso é real. Diga.

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